«Transe»: BENJAMIM SANCHES
Em êxtase fitava o céu molhado,
Umedecidos por um cinza brando
E o sangue nas artérias congelado,
As lágrimas no rosto vão rolando.
No espaço um olhar vívido cravado,
O pensamento no ar gesticulando,
Do meu céu ao inferno, condenado,
Eu andei sem saber se estava andando.
Quando saio daquele sobressalto,
Como quem sonha mesmo quando acorda,
Tenho minha alma presa lá no alto,
Vendo o meu corpo nesta lassidão,
Sob o peso das dores que transborda,
Um monstro se arrastando pelo chão.
Umedecidos por um cinza brando
E o sangue nas artérias congelado,
As lágrimas no rosto vão rolando.
No espaço um olhar vívido cravado,
O pensamento no ar gesticulando,
Do meu céu ao inferno, condenado,
Eu andei sem saber se estava andando.
Quando saio daquele sobressalto,
Como quem sonha mesmo quando acorda,
Tenho minha alma presa lá no alto,
Vendo o meu corpo nesta lassidão,
Sob o peso das dores que transborda,
Um monstro se arrastando pelo chão.
("Argila", pág. 95, Manaus, 1957).
“Fé”:
Ver
sem
bem
crer.
Crer
sem
bem
ver.
Crer
é
fé.
Ver
não
é.
(Argila, Manaus: Sergio Cardoso, 1957)
Epitáfio
Quando meu barco imergir
no profundo lago desconhecido,
não construam sobre o local
outros mastros e chaminés.
Que a superfície fique limpa
e tranquila, para refletir
a beleza do firmamento.
Destino
Estou caminhando
Com destino certo,
Quando me cansar,
Estarei bem perto.
Solidão
O pássaro de barro da saudade
Revoando no aro dos meus olhos
Repousou nos meus dedos de silêncio
Partindo para as terras ignotas.
Divaguei nos roteiros do amanhã
(Quilhas cortando o ventre do espaço
Rasparam os recifes das quimeras
Encalhando nas rochas das lembranças).
E aquela argila diluída em sombras
Incensando o meu templo de memórias
Nas alvoradas dos meus sofrimentos.
Na grande solidão do inatingível
Ancorei o coração num mar de lágrimas
E adormeci num inferno entre dois céus.
SER E NÃO SER
Este ser e não ser que vive em mim
Inacessível ao meu pensamento,
No divagar meu mundo interior
Subsistindo em mim independente.
Negando-me os meus conhecimentos
Diluídos no espaço e no tempo
E o pouco que consigo recolher
Vem brotando dos meus entendimentos.
Escapando à forma do absoluto
Povoando o vácuo de minha visão,
Daquela incerteza de que estou certo.
Potência regendo este dinamismo
Do efeito que produz toda esta causa,
Do ser que acorda em mim quando adormeço.
SINAIS DO TEMPO
Domingo...
Judite,
vai ao banho.
Teca,
vai ao banho.
Nelly,
vai ao banho.
Todas vão ao banho...
Antigamente iam à missa,
banhar um pouquinho a alma...
Antigamente o sino... bem bão..
Atualmente a buzina.. fon fon..
Maria,
(se Maria não está, outra qualquer serve)
dá-me lápis e papel,
quero escrever poesia.
Mas... já escrevi um poesia e
não quero escrever mais de uma por dia.
CAMINHADA
O vento,
(não sei se o vento)
soprava
e não sei por que soprava
o meu micro organismo
que rebolava pegajoso
pelo asfalto
e outras partículas
agregavam-se ao meu EU, avolumando-me.
Mas, o tempo
(não sei se o tempo ou aquelas partículas)
ressecou-me e o asfalto vai esmerilando-me
porque o vento não parou de soprar,
mas, mesmo se parasse, a estrada, agora
inclina-se para o horizonte, até
(este até, não sei medir)
o abismo desconhecido.
IARA
Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.
Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.
Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.
Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.
IRA
Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.
Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.
Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.
Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.
Surgiu do leito do rio sem margens
Cantando a serenata do silêncio,
Do mar de desejos que a pele esconde,
Trazia sal no corpo inviolável.
Banhando-se no sol da estranha tarde
Cabelo aos pés mulher completamente,
Tatuou nas retinas dos meus olhos,
A forma perfeita da tez morena.
Com a lâmina dos raios penetrantes,
Arando fortemente as minhas carnes,
Espalhou sementes de dor e espanto.
Deixando-me abraçado à sua sombra,
Desceu no hálito da boca da argila
E, ali, adormeceu profundamente.
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