CONSELHO NACIONAL DE PESQUISAS
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
GENESINO BRAGA
NASCENÇA E VIVÊNCIA DA BIBLIOTECA DO AMAZONAS
BELÉM
1957
Classificação Decimal de Melvil Dewey 027.09811
Classificação Decimal Universal 027 (811 .2) (091)
Ficha impressa do IBBD n° 57-51
O
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia inscreve hoje, entre as suas
publicações, esta, que vem revelar um pesquisador do passado e permitir o
conhecimento da evolução de uma casa que se liga, por muitos títulos, à
formação da inteligência amazônica. O pesquisador é o Senhor Genesino Braga; a
casa, a Biblioteca Pública do Amazonas, que foi destruída pelo fogo, há anos
passados, e se restaurou, pelo esfôrço do povo, govêrno, instituições culturais
de todo o mundo e a dedicação serena, mas permanentemente ativa e morosa de seu
diretor, justamente o Sr. Genesino Braga.
Editando-a, o INPA segue um programa de divulgação do que lhe parece
necessário, como resultante do estudo de campo, de laboratório ou. de gabinete,
para a revelação tranqüila, exata, liberta dos entusiasmos literários, do que é
a Amazônia como unidade geográfica, social, econômica e como campo imenso ao
estudo da natureza em estado de ser e ao aperfeiçoamento da própria cultura
humana nos aspectos particulares que distinguem a região e podem servir ao
aprimoramento do bem-estar humano.
O
presente ensaio é justamente um dêsses trabalhos de pesquisa, feitos a rigor,
sôbre códices e coleções de jornais, relatórios, memórias impressas ou não, e
na base, também, do depoimento pessoal dos que puderam dar essa contribuição
tão preciosa. Não sabemos de obra semelhante, escrita no Brasil. Trata-se,
assim, de trabalho pioneiro, que vai proporcionar um subsídio precioso à
elaboração do balanço que se fizer, um dia, do processo cultural brasileiro,
balanço que deve considerar os aspectos regionais de sua formação e atualidade
e a que a Amazônia estará presente por uma participação interessante e
provávelmente ponderável.
Seu
autor, à conta do INPA, está iniciando uma pesquisa mais ampla, sôbre outros
sectores de vida amazônica. Confiamos-lhe a tarefa na base do que aqui se
divulga e serviu de credencial muito satisfatória. Trata-se de uma expressão
simpática do meio intelectual amazonense, voltado para o estudo dos problemas
da inteligência nos seus aspectos e particularidades locais e de que o presente
volume é magnífica demonstração.
“A
Biblioteca não dá nada por nada, não auxilia senão aos que se auxiliam. Ela não
destrói os fundamentos da independência humana, não empobrece; estende a mão
aos que desejam subir e serve de escada apenas àqueles que se esforçam por
subir”. CARNEGIE
“O
homem faz a santidade daquilo em que crê; e a beleza daquilo que ama”. RENAN
SUMÁRIO
I À SOMBRA
DO PÓRTICO
II PINTURA
VERTICAL DA PAISAGEM
III A
SEMEADURA
IV O POMO
SAZONADO
V HOMEM-SOL
NA ESTRADA DO PORVIR
VI ASSIM
SURGIU A BIBLOTECA PROVINCIAL
VII
SEGUIDORES DE CALÍMACO
VIII COM AS
MIGALHAS DA OPULÊNCIA
IX FRUSTRAÇÃO E DECLÍNIO
X INGRESSO NO SÉCULO XX
XI EM TETO PRÓPRIO
XII SERVUS SERVORUM SCIENTIAE
XIII ORDEM NOVA
XIV FUMO NOS CÉUS DE ALEXANDRIA
XV A FÊNIX NO ALTAR DO SOL
XVI A REALIDADE PRESENTE
BIBLIOGRAFIA
ABSTRACT
Aqui
se fala de uma Biblioteca: suas origens, suas andanças, sua vivência, suas
fases de fastígio ou de penúria. É narrativa singela de um roteiro não diverso,
nem diferente, nem mais importante que o de quantas bibliotecas se formaram, e
através dos tempos caminharam, sob a tutela do público poder, na dependência de
verbas e decretos.
Aqui
se conta a história da Biblioteca Pública do Amazonas, — história esquiva e
simples, marcada de declínios e de assomos, debilitada algumas vêzes nos marasmos
da descrença e do abandono, iluminada, outras, pelos sóis da inteligência e da
boa compreensão do dever cívico; história que se projeta de eras não mui
remotas, mas, que delas nos vem clarificada por lampejos de reto idealismo, em
acesos fulgores espirituais, como um feixe de luz que filtra do passado, dos
episódios que foram vida e palpitação e jazem agora nas catacumbas da história,
vez por outra recordados nos racontos imutáveis dos compêndios, vez por outra
decantados na tessitura das lendas embaladoras.
É
história curta, história mansa e branda, desprovida de epopéias e de heróis
aguerridos, sem sensações e sem brazões. De curso breve e sem maior
semostração, bem alongadas, bem complexas e bem sentidas são, no entanto, as
situações que lhe dão sinuosidade ao itinerário.
Em
seus oitenta e seis anos de existência, a Biblioteca Pública do Amazonas
evolveu sempre de mãos dadas, de um lado com a difusão do ensino e as formas de
expansão cultural do meio, na capital amazonense; de outro, com as flutuações
políticas do Govêrno, na Província e no Estado.
Os
altibaixos de um acidentado roteiro, à mercê, ora de desiqui-líbrios
financeiros, ora de incompreensões da finalidade precípua que rege uma
biblioteca, na sua função de centro de estudos e pesquisas, — demonstram que,
apesar de tudo, bem resistiu, a austera instituição, a tão duros embates para
até nós chegar com um acervo de prestimosos serviços à cultura amazonense, por
muitas gerações de estudiosos.
Tratada algumas vêzes na fria condição de uma repartição do Estado,
outras até como incômodo depósito de livros, a Biblioteca Pública do Amazonas
conta, no entanto, em sua já longa caminhada, algumas etapas de acentuado
desenvolvimento, fases florescentes, nas quais olhada com relativo carinho e
mais um pouco de interêsse, obtivera situação adequada ao seu mister, não só em
relação ao enriquecimento e à ordenação de seu acervo bibliográfico, como
também quanto às instalações e à devida importância do serviço no quadro geral
da administração pública.
Bons
e maus dirigentes estiveram a nortear as tarefas naturais de seu objetivo.
Muitos dêles foram guindados ao pôsto de chefia por simples acomodação
política, sem cultura, sem conhecimentos do serviço, sem ideal; outros, bem
poucos êstes, ao mesmo conduzidos de qualquer forma, empenharam, entretanto,
boa parcela de seu intelectualismo, de sua operosidade e de seu interêsse pela
educação, em lutas árduas para fazer reerguer, reconstruir, reorganizar, para
utilização dos estudiosos, o rico patrimônio bibliográfico que, vêzes várias e
por fases demoradas, era ao abandono relegado e criminosamente entregue às
traças e à sanha dos anobiídeos, quando não descaminhados, furtivamente, por
colecionadores sem escrúpulo.
Livros
obtidos em campanhas populares, livros ofertados de presas coleções
particulares, livros diretamente adquiridos nas melhores livrarias da capital
do País, de Lisboa e de Paris, na cuidadosa seleção de conceituados
bibliógrafos patrícios; excelentes obras de ciência, de arte, de literatura, de
história, com apreciável maioria em luxuosas encadernações, algumas
edição-princeps, alguns raros exemplares das famosas oficinas tipográficas de
Plantin, dos Elzeviers, de Didot, — eis o acervo precioso que entesourava a
Biblioteca do Amazonas.
Ramos
Ferreira, Aprígio Menezes, José Paranaguá, Carlos Pinho, Antônio Bittencourt,
Ramalho Júnior, Constantino Nery, Bento Aranha, Benjamin Lima, José Chevalier,
são nomes que merecem gratas referências, pelo muito que realizaram, em fases
distintas, quer na fundação, quer em reorganizações diversas da Biblioteca,
transformando-a em um corpo ativo de educação popular, eficiente e útil. Outros
figuram como responsáveis pelos danos que a ela foram causados, pelo abandono
em que olvidaram suas preciosas coleções, pelo descaso, pela indiferença, pelo
desinterêsse com que se comportaram na direção de seus serviços, — por
incapacidade, por negligência, por inocentes atos de nociva irresponsabilidade.
Quatro etapas bem acentuadas marcam a octogenária existência da
Biblioteca Pública do Amazonas: de 1870 a 1884; de 1884 a 1910; de 1910 a 1945;
de 1945 aos nossos dias. Na primeira, nasceu, floresceu e desapareceu, em curto
ciclo de atividades, a Sala de Leitura, que tanto dos sonhos, dos esforços e da
dedicação de Ramos Ferreira consumira. Na segunda, iniciada sob os desígnios de
um culto e operoso Presidente da Província, — José Lustosa da Cunha Paranaguá,
— ascendeu à categoria de Biblioteca Pública, enriqueceu-se de notáveis
coleções bibliográficas e prestou serviços utilíssimos à comunidade, para
depois entrar em sucessivos períodos, ora de abandono e esquecimento, ora de
reorganizações e franca atividade, com mudanças freqüentes de um para outro
local, cada qual o menos apropriado, até que encontrou abrigo adequado, em
prédio para ela especialmente mandado construir pelo governador Constantino
Nery. A fase terceira é inicialmente conduzida pelo governador Antônio
Bittenccurt, em 1910, quando, com Bento Aranha, a arranca do olvido em que se
achava, no recanto esconso de um velho pardieiro, para instalá-la em edifício
novo, com salões amplos e arejados, onde permaneceu até 1945, ano em que foi
totalmente devorada pelo fogo. Vive atualmente a Biblioteca a sua quarta fase
de existência, começada logo após o incêndio de 1945, com os trabalhos de
reconstituição do acervo sinistrado e de recons-trução do seu edifício-próprio,
encontrando-se presentemente em plena florescência de sua atividade, organizada
sob os métodos modernos da biblioteconomia e até mantendo um curso de
especialização de bibliotecários.
Mas,
ingressemos na senda íngreme dessa história, — história branda e pacifica —
que, entretanto, muito nos fala, muito nos transmite e muito nos dá, em
sensibilidade e inteligência, de épocas bem idas e bem vividas, que ficaram na
poesia e no encanto das tradições regionais.
Quando um senhor William Chandless, de botas altas e em passos largos,
naquela invernosa manhã de março de 1871, galgou o cabeço da Rampa da
Imperatriz, desembarcando do vapor Belém, uma cidadezinha bem incipiente, de
ruas hostis e sem rumo certo, olhou de esguelha, na sua bem cabocla
desconfiança, para aquêle inglês de tez crestada, de ar reservado e quarentão,
que trazia nos agudos olhos claros o translúcido fulgor do cientista enamorado
das descobertas.
A
remota Manaus, que o ilustre emissário da Royal Geographical Society encontrara
em suas vindas ao hinterland amazônico, ainda era a mesma que, cinco anos
antes, se oferecera à jovial observação da senhora Agassiz: “uma pequena
reunião de casas, a metade das quais parece prestes a cair em ruínas”.
Ao
meticuloso súdito da Rainha Vitória, que conduzia, a robustecer-lhe o espírito
de viajor, uma ardorosa paixão pelas pesquisas científicas no mais íngreme da
vastidão amazônica, a última coisa que poderia ocorrer era que, em sua breve
estada em meio aparentemente tão pouco dotado, teria de assistir à inauguração
de uma Biblioteca.
E é
desculpável que Mr. Chandless tal coisa não esperasse. A Manaus daquela época
era, sim, a capital de uma Província do Império, — mas, de uma Província com
apenas vinte anos de idade autônoma, ainda não totalmente saída de um sistema
de protetorado que, durante dois séculos, não lhe houvera possibilitado
positivos arrancos de expansão. A capital da jovem Província do Amazonas
realmente não se ostentava com o aspecto mesmo de uma promissora metrópole, não
obstante o vaticínio da ilustre espôsa de Agassiz; “Insignificante hoje, Manaus
se tornará, sem dúvida, um grande centro de comércio e navegação”.
Em
vésperas de recensear seus quase trinta mil habitantes, com seus três bairros
(São Vicente, Remédios e Espírito Santo), suas pontes de madeira saltando sôbre
igarapés de margens agrestes, e aquelas ruas desniveladas, fendidas em seu
leito de terra sôlta pelos desapressados carros de boi, a outrora Cidade da
Barra não se prolongava mais que duzentos ou trezentos metros do litoral.
Comprazia-se em espiar, debruçada sôbre os barrancos, as rampas e os trapiches,
o preguiçoso desaguamento do Rio Negro, foz à vista, para o noivado de suas
águas tapuias com o impetuoso Solimões, doze milhas abaixo. De pouca
intensidade era a sua vida comercial. Não passavam de 57 as suas lojas de
armarinho, além de 3 boticas, 3 padarias, 3 talhos de carne verde, 2 escritórios,
3 sapateiros, 3 alfaiatarias e 1 bilhar. Compravam-se chitas francesas e
chapelinhos de veludo no “Centro Comercial Amazonense”, à Rua da Boa Vista,
junto ao Cais de Tamandaré; e as luvas de pelica de Jouvain, as botinas e as
tranças crespas das senhoras eram adquiridas na “Elite de Paris”. Na loja de
Antônio Joaquim da Costa e Irmãos, à Rua Brasileira, havia cóques enfeitados e
de tôdas as côres para as longas madeixas femininas, bem como paletós de alpaca
inglêsa, ao preço de sete mil réis, para cavalheiros. Os perfumes franceses,
com as marcas de Coudray e de Piver, o tão procurado “Fleurs d’Amour”, estavam
à mostra na “Ville de Paris”; e o bom vinho Bordeaux, os queijos do Reno, a
manteiga Lepelletier e o forte chá inglês eram obtidos no empório “Flor de
Manaus”.
Incipiente era a indústria. Resumia-se em duas ou três olarias, uma
fábrica de sabão, duas serrarias e três engenhocas. Vivia-se mais em torno da
chamada indústria extrativa, que compreendia a goma elástica, os óleos
vegetais, a castanha, a salsa, a piaçava, a manteiga de tartaruga e outros.
Cultivava-se o guaraná, o cacau, o café, o tabaco, a farinha de mandioca.
Ao
pôrto de Manaus, não havia muito, vinham fundeando os barcos a vapor de duas
emprêsas de navegação: a Companhia de Navegação e Comércio da Amazônia, do
Barão de Mauá; e a Companhia Fluvial do Alto Amazonas, do benemérito cidadão
português Alexandre Amorim. Em freqüentes chegadas do Pará, ou em idas e vindas
ao Madeira, ao Solimões, ao Purús, no vasto ancoradouro da cidade estavam
sempre a arriar ferros o Arimã, o Belém, o Arari, o Guajará, além de outros de
menor calado, também a vapor, pertencentes a particulares. Os procedentes do
Pará traziam as novidades e as suas chegadas eram saudadas com efusivo contentamento.
Vinha com êles gente nova: oficiais, funcionários, homens de negócios; vinham
os gêneros de abastecimento, os artigos de luxo, as ordens de serviço, as
correspondências comerciais e particulares; e vinham, também, embora
retardadas, as noticias da Côrte e do que se ia passando no País e no mundo,
através dos jornais do Pará, do Recife, do Rio e da Europa. Era um
acontecimento, na cidade, o apito de chegada de um navio procedente da capital
do Gram-Pará. É ainda a senhora Agassiz quem nos conta o ocorrido em um baile,
a que assistia, em Manaus, quando aportou um barco vindo de Belém: “Estavam as
danças muito animadas quando, entrando no pôrto, o paquete vindo do Pará ficou
todo iluminado e soltou girândolas e foguetes em sinal de regozijo. A alegria
chegou ao auge; às quadrilhas interrompidas, sucederam-se ruidosas
manifestações de júbilo A maioria dos assistentes passou a noite em claro e
dirigiu-se para bordo do navio para receber os jornais”.
Embora estacionária (“em Manaus, cujos habitantes se queixam de levar
uma vida triste”, escrevia Elizabeth Agassiz), a cidade tinha, de vez em vez,
sua ronda de elegância e mundanismo, que era vivida na Sociedade Harmonia
Amazonense, em seus bailes mensais. Ali se reuniam as famílias que constituíam
o escol social, presentes sempre os oficiais do 3° Bata-lhão d’Artilharia de
Linha, do Batalhão de Engenheiros, da Flotilha de Guerra e da Escola de
Aprendizes Marinheiros. Muitas valsas ali rodo-piaram, ainda coronel e capitão,
respectivamente, Tibúrcio e Floriano Pei-xoto. Outras sociedades também
existiam, congregando os elementos de mais relêvo na vida social da Província:
a “Ateneu das Artes”, destinada à proteção e difusão das artes e também
educativa e beneficente, a ela se devendo a criação da primeira escola noturna
de Manaus; a Sociedade Nacional Beneficente do Amazonas, de beneficência e
caridade; e a Sociedade Emancipadora Amazonense, que se batia pela abolição da
escravatura e promovia e estimulava a alforria de escravos.
Pelos
idos de 1871, na pacata Manaus, ia-se ao Teatro Fênix, assistir à representação
do vaudeville “Tribulação e Ventura”, após uma audição da banda de música dos
Educandos Artífices; as principais ruas da cidade eram iluminadas por sessenta
lampiões a querosene, que davam luz, cada um, “igual a cinco velas de
espermacete”; as obras de construção da Matriz estavam, já, no madeiramento da
cobertura; comprava-se carne verde a quinhentos réis, o quilo; a arrecadação da
Fazenda Provincial subia a 848:188$4512; a população da Província era estimada
em 57.610 habitantes; e se fundava, com vaticínios de grandeza e de notáveis
realizações, a Associação Comercial do Amazonas.
Governava a Província (junho de 70 a julho de 72) José de Miranda da
Silva Reis, homem probo e austero, que solenizava as leis e os decretos
oficiais com a nomeação de todos os seus títulos: “Bacharel em matemáticas,
comendador da Imperial Ordem da Rosa, Oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro,
Cavaleiro da Ordem de São Bento de Aviz, condecorado com as medalhas do mérito
militar e da campanha do Paraguai, Coronel do Estado-Maior d’Artilharia do
Exército, Presidente e Comandante das Armas da Província do Amazonas”. Aprígio
Martins de Menezes, seu contemporâneo, considerava-o “caráter sério e
administrador zeloso”.
Um
pouco mais evoluído, em cotejo com a condição social da Província, se oferecia
o panorama intelectual da capital. Eram numerosos, já, os elementos proclamados
como expressão cultural do meio, uns com ação no magistério secundário, outros
no Legislativo e na Administração, alguns na imprensa. Ramos Ferreira, Aprígio
Martins de Menezes, o jovem Torquato Tapajós, Henrique Barbosa de Amorim,
Francisco de Paula Belo, Jerônimo de Oliveira, Pedro Luís Simpson, Antônio da
Cunha Mendes, e alguns mais, formavam na vanguarda da intelectualidade da
terra. Ramos Ferreira, na cátedra, no parlamento, no Govêrno, desdobrava-se em
atividades pela adoção de novos métodos de ensino e por uma seivosa floração
cultural na Província. Barbosa de Amorim campeava nas cátedras do Liceu,
lecionando línguas e ainda traduzia Shakespeare e Vitor Hugo para os folhetins
dos jornais, enquanto Simpson recolhia subsídios para a sua futura “Gramática
da Língua Brasileira”. Mestre no vernáculo era Paula Belo. Cunha Mendes e
Gregório de Moraes faziam imprensa, lutando contra es-casso material
tipográfico para imprimir feição nova ao “Amazonas” e ao “Comércio do
Amazonas”; e o médico deputado Aprígio de Menezes, nas horas vagas da clínica e
dos debates parlamentares, organizava tertúlias literárias, ou compunha as
poesias que mais tarde reuniria no seu livro “Névoas Matutinas”. O poeta amado
da terra era Torquato Tapajós, então no sonho azul de seus dezoito anos. Por
influência de escola literária e inclinação romântica, seguia Gonçalves Dias; e
uma de suas poesias, “Como eu te amo”, publicada no “Amazonas” de 29 de abril
de 1871, se inspira no poema, de igual titulo, do laureado poeta maranhense. A
quadra última dêsses versos de Torquato dá-nos a evidência do seu engenho poético
e o fogo de imaginação do jovem amoroso que então o era:
....................................................................
.“Mulher — te amo como se ama a tarde
A cor doirada que se vê nos Céos;
Como se ama a natureza inteira,
Como se ama o verdadeiro Deos”.
A
idéia, à vontade e à pertinácia do infatigável Ramos Ferreira se deve a criação
da Biblioteca amazonense.
Homem
de fé inesgotável, ação enérgica e inabalável lealdade às suas convicções, o
ilustre filho da gleba amazônica não repousava das lides árduas que lhe impunha
a ordem nova implantada na seara da alfabetização e da educação dos menores
seus conterrâneos. Tôdas as suas horas, a sua cultura, o seu trabalho, os seus
parcos haveres, estavam a serviço do plano de desenvolvimento do ensino entre
os seus irmãos da longínqua e esquecida Província do Império.
Na
direção da Instrução Pública, depois de haver exercido a presidência da
Província e o mandato de deputado, empenhava-se com deliberada tenacidade para
que um mais proveitoso sistema educativo fôsse adotado em sua terra natal. Em
seus múltiplos empreendimentos a prol da nobre causa, reformou as precárias
leis do ensino, então em vigência; criou novas cátedras no Liceu; abriu escolas
por todo o interior; instituiu prêmios a alunos aplicados, fiscalizando a
freqüência de mestres e escolares, pregando a sublimidade do ensino, — êle
próprio regendo uma cadeira, gratuitamente, no Liceu. Deputado à Assembléia
Provincial, elaborou vários projetos de lei, visando melhorar e ampliar as
condições do ensino. É de sua autoria o primeiro projeto de criação da Escola
Normal, — isto em 1871, dez anos antes de ser tornada realidade a instituição
dêsse estabelecimento.
Dos
nobres propósitos de Ramos Ferreira por uma sociedade evolutiva, com base na
educação do povo e no aprimoramento cultural de sua elite, brotou a idéia da
criação da Biblioteca Pública. Manifestara-a, êle, em forma de sugestão, em
1868, através de ardoroso pronunciamento junto a seus pares, no Legislativo.
Voltou à carga, mais tarde, em tom de apêlo, fazendo eco das solidariedades
recebidas; e prosseguiu, com firmeza, em sua campanha, indo à execução de
medidas eficazes para levar a têrmo o que já era, em si, resolução inabalável.
Ramos
Ferreira não era homem que desanimasse ao primeiro tropêço de uma idéia Caráter
reto, espírito afeito às lutas, nobre na peleja, jamais cedia quando empunhava
o estandarte de uma causa em benefício de sua terra e de seu povo. Na
presidência do Legislativo, em 1870, dêsse alto pôsto comandava as refregas
políticas com enérgica serenidade. Amigo pessoal de João Wilkens de Matos,
Presidente da Província (novembro de 1868 a abril de 1870), a êste dava a
colaboração do seu interêsse e do seu patriotismo, nos bons rumos do Govêrno.
Era, todo êle, a pulsação de um líder político com as qualidades varonis do
administrador de idéias novas, dotado de uma aguda compreensão do momento
decisivo dos acontecimentos.
Empolgado com a idéia de dotar a capital amazonense de uma Biblioteca, a
ação persuasiva que exerceu sôbre o Presidente Wilkens de Matos foi tão
convincente em seus argumentos, que o Chefe do Executivo, ao comparecer à
abertura dos trabalhos legislativos, a 25 de março de 1870, já assim se
pronunciava perante os deputados: — “O vosso digno Presidente manifestou-me a
idéa de estabelecer em uma sala do Lyceu, um gabinete de leitura, para os
alunos do mesmo estabelecimento, e quaesquer outras pessoas, que o quizerem
frequentar; e para dar principio a essa creação solicitou da generosidade dos
amigos das letras, donativos de obras impressas. Reconhecendo eu grande
utilidade na realisação dessa idéa, propuz-me auxiliá-la dando-lhe as maiores
proporções compatíveis com o estado da província; e, por meio de comissões compostas
de cidadãos prestimosos desta capital, e de cada povoado, procuro obter fundos
para a compra das obras mais uteis a esse estabelecimento, preferindo as que
tratam do Amazonas. Espero brevemente receber os auxilios que os amigos do
progresso moral e intellectual da província promettem prestar com a melhor boa
vontade para tão interessante creação; mas sendo também indispensavel o vosso
concurso, solicito do vosso patriotismo e amor às lettras, a consignação da
exigua quantia de 300$000 réis para a compra de obras para a mesma biblioteca”.
O
calor do pronunciamento oficial, em favor da criação da Biblioteca, resultou
num movimento generalizado para a sua efetivação. As comissões constituídas
(Bento Aranha, Aprígio Martins de Menezes, Carlos Ferreira Fleury e outros, sob
o comando de Ramos Ferreira), entraram em ação para angariar obras de
particulares e donativos em dinheiro para aquisição de livros novos. Enquanto
isso, entre os seus pares no Legislativo, Ramos Ferreira diligenciava a apresentação
e, a seguir, a rápida tramitação do projeto instituidor da Biblioteca, que, já
no ano seguinte, afastando-se temporàriamente do seu pôsto no Congresso, para
dirigir a Instrução Pública, a inaugurava solenemente com o nome de Sala de
Leitura.
Nos grandes centros culturais europeus,
faziam moda, a essa época, os “Gabinetes de Leitura”, as “Salas de Leitura”, as
“Galerias de Leitura”, — assim nomeadas as pequenas bibliotecas que dispunham
do escasso espaço de uma sala, ou de um corredor, para abrigar estantes de
livros e mesa de leitura. O figurino europeu não poderia deixar de exercer a
sua influência, como em tantas outras iniciativas contemporâneas, na composição
da nova Biblioteca. Vinham de lá os livros, em sua grande maioria; vinham os modelos
de organização; vinha a cultura. A formação intelectual das nossas elites bebia
no manancial dos grandes centros de irradiação cultural que eram Londres,
Berlim, Paris, Roma e Viena, passando por Lisboa. Alguns dos nossos
intelectuais, funcionários do Govêrno, homens de negócios, contavam estágio de
freqüência em universidades estrangeiras, ou viagens demoradas pelas capitais
do Velho Mundo, de modo que, por seus estudos, ou em resultado de observações
durante a estada nos grandes meios, conheciam algo do que se processava na
organização das bibliotecas.
Sob
tal influência, não poderia a criação de uma biblioteca, em Manaus, fugir aos
moldes das européias: de pequenas proporções, como núcleo inicial de um grande
acervo, em espaço exíguo, — Sala ou Gabinete de Leitura. Ramos Ferreira opinava
por Gabinete, mas cedeu aos que propunham o caráter de Sala de Leitura, por se
revestir de mais amplitude, não obstante as condições financeiras do erário
provincial não permitirem, ao novo estabelecimento, acomodação outra que não em
modesta sala de que dispunha no edifício em que funcionavam o Liceu e a
Diretoria da Instrução Pública.
Sala
de Leitura foi, assim, o tipo escolhido; e a lei n.0 205, de 17 de maio de
1870, assentou oficialmente os alicerces: “Fica desde já creada, no edificio em
que funciona o Lyceu, uma Sala de Leitura, que servirá de núcleo a Biblioteca
Pública do Amazonas”.
O
projeto dessa lei foi levado ao plenário do Legislativo pelo deputado Aprigio
Martins de Menezes, um dos grandes paladinos do que hoje se chamaria, na
linguagem dos estados-maiores militares, “Operação Biblioteca”. Ramos Ferreira
se achava na presidência da Assembléia, mas o dedo do gigante estava à mostra
nos têrmos incisivos do projeto; e mais à evidência se ofereceu na rápida
tramitação que lhe foi dada. Apresentado em plenário na sessão de 30 de abril
de 1870, teve curso breve nas comissões. Na sessão de 14 do mês seguinte, o
deputado Irênio Porfírio da Costa já o conduzia da comissão de redação,
requerendo a discussão final na mesma reunião E, três dias após, a 17, o
Presidente da Província, Clementino José Pereira Guimarães, convertia-o em lei:
“Clementino José Pereira Guimarães, deputado à
assembléa “legislativa provincial, major commandante da 1.ª secção do batalhão d’artilharia do município
da capital, 3.° vice- presidente da província do Amazonas, &
“Faço saber a todos os seus habitantes que a
assembléa legislativa provincial decretou e eu sancionei a lei seguinte:
“Art. 1.° — Fica desde já creada, no edificio em
que funcciona o Lyceu, uma sala de leitura, que servirá de nucleo a Bibliotheca
Pública da província.
“Art. 2.° — O presidente da província fica
autorizado a confeccionar o respectivo regulamento.
“Art. 3.° — Revogão-se as disposições em contrário.
Mando portanto a todas as autoridades áquem o conhecimento e a execução da
referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como
n’ella se contem. O secretaria da província a faça cumprir, publicar e ocorrer.
“Dado no palacio da presidencia da província do
Amazonas, em Manáos, aos 17 dias do mez de maio de 1870, 49. da independência e
do Império.”
Clementino José Pereira Guimarães
Publicada a lei, sucederam-se as providências para a instalação da nova
instituição. Em janeiro do ano seguinte, Ramos Ferreira, já na direção da
Instrução Pública, dizia em relatório ao Presidente da Província:
—“Compraram-se alguns objectos pertencentes à mobilia; chegaram parte dos
livros que se haviam encommendado; está-se organisando o respectivo catalogo; e
eu espero em breve submetter á approvação de V. Exa. o regi-mento interno. Como
fui o iniciador da ides da sua execução, disculpe-me V. Exa. o dizer que é
muito insignificante a verba concedida pela assembléa para uma instituição tão
importante, e que póde ter excellentes resultados”.
A
Sala de Leitura só veio a entrar em funcionamento a 19 de março de 1871, data
em que, marcada expressamente pelo Presidente da Província, foi inaugurada com
a nomeação de Sala de Leitura da Biblioteca Pública do Amazonas. A solenidade
ocorreu às 11 horas da manhã, honrada com a presença do coronel José de Miranda
da Silva Reis, que, Presidente da Província desde meados do ano anterior, muito
vinha se interessando pela instalação da Sala de Leitura. Ausente de sua
cadeira no Legislativo, Ramos Ferreira se desdobrava em empreendimentos, na
direção da Instrução Pública, onde com mais eficácia, se movimentava em favor
da instituição, filha do seu idealismo.
A
Sala de Leitura ficara instalada em uma das salas do pavimento superior de
velho sobrado à Travessa da Imperatriz, arrematado pelo Govêrno, no Juízo de
Órfãos, para nêle funcionar o Liceu. O Regimento Interno, que lhe fôra
atribuído, publicado no “Amazonas” de 25 de março de 1871, marcava o horário de
funcionamento nos dias úteis, das 9 às 15 horas, e determinava, em seus
artigos, que tôda a escrituração relativa aos impressos, manuscritos, mapas,
plantas, desenhos e mais papéis fôssem relacionados alfabèticamente e por ordem
de data, designando-se a sua proveniência. O ingresso e a permanência na Sala
de Leitura eram francos e gratuitos, sob as seguintes condições: 1 —
“Apresentar-se decente-mente vestido”. 2 — “Não fumar, não conversar nem
perturbar por forma alguma o silencio e a tranquilidade na sala”. Papel, pena e
tinta eram fornecidos gratuitamente aos leitores que quisessem tomar algum apontamento.
O
quadro do pessoal da Sala de Leitura da Biblioteca Pública, constante da tabela
da Instrução Pública, constituía-se de um Bibliotecário, com a gratificação de
quatrocentos mil réis, e de um Porteiro, com a de trezentos mil réis. O orçamento
de 1871-72 consignava a verba de um conto de réis para “Compra, preparo e
encadernação de livros e utencilios para a Biblioteca”. Por uma determinação do
Presidente da Província, a Sala de Leitura ficou provisòriamente a cargo do
Secretário da Diretoria da Instrução Pública, José Ferreira Fleury, sob a
imediata direção do titular da Instrução Pública.
Era estimado em cêrca de 1.200 volumes o aceno
bibliográfico inicial, constituído êste: dos livros arrecadados pela comissão
nomeada por Clementino Guimarães; da parte, já recebida, da encomenda que fôra
feita aos livreiros da Côrte; e de algumas coleções já existentes nas estantes
do Liceu.
A
contar da sua data inaugural, a Sala de Leitura passou a fruir uma fase de
progresso em suas coleções, sempre bem freqüentadas, até que perdera os
desvelos com que era assistida, — isso em virtude da salda, em outubro de 1872,
de Ramos Ferreira da Diretoria da Instrução Pública, motivada por uma
desinteligência com o Presidente da Província, Domingos Monteiro Peixoto, que
sucedera a Silva Reis.
Em
1874, a Sala de Leitura foi freqüentada por oitenta pessoas, que consultaram
quarenta e seis volumes. Nesse mesmo ano, o orçamento provincial consignava a
verba de dois contos de réis para a “Compra de livros e estantes para a
biblioteca provincial”. O Presidente da Província entregou essa quantia ao
engenheiro Joseph Gaune, que se achava na Europa, encarregando-o da “escolha e
compra de bons livros para êsse estabelecimento” e obtendo, do Govêrno Imperial,
isenção dos direitos para as obras encomendadas. Tal compra, porém, até março
de 1876, não se havia verificado, segundo refere, em relatório dêsse ano, o
Presidente da Província, Antônio dos Passos Miranda, que aduzia a seguinte
informação sôbre a Biblioteca: — “Funciona na mesma sala da directoria da
instrução pública. Apezar da pouca frequência dos visitadores, o catálogo dos
livros existentes é ainda assaz incompleto e conviria mesmo provê-lo de algumas
obras de utilidade geral”.
Esta
foi a última notícia encontrada em documentos oficiais sôbre a Sala de Leitura,
afirmando, mais tarde, Bento Aranha, que “desaparecera do Lyceu, sem se saber
como e quando”, fato que só foi constatado em 1882, ao se tratar da organização
da nova Biblioteca Pública Provincial.
Não
foram muito generosas, para o desenvolvimento e o progresso da Província, as
águas que passaram durante os onze anos decorridos do da instalação da Sala de
Leitura. Oito presidentes haviam empunhado as rédeas do Govêrno Provincial:
Domingos Monteiro Peixoto, Antônio dos Passos Miranda, Domingos Jaci Monteiro,
Agesilau Pereira da Silva, Enéas Galvão — Barão de Maracaju, José Clarindo de
Queiroz, Sátiro de Oliveira Dias e Alarico José Furtado; e, em períodos
distintos de vecância eventual, quatro vice-presidentes tinham estado no
exercício da chefia do Executivo: Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso, Gabriel
Antônio Ribeiro Guimarães, Guilherme José Moreira e Romualdo de Sousa Paes de
Andrade. Mas, com exceção dê Monteiro Peixoto, que governou durante quase três
anos (julho de 72 a março de 75), e do Barão de Maracaju, que se manteve por
dezes-sete meses no poder (março de 78 a agôsto de 79), nenhum dos demais
presidentes chegou a contar sequer um ano de administração. Estranhos ao meio,
sem nenhum vinculo de família com os locais, e sem grandes interésses que os
ligassem ao desenvolvimento econômico da. região, bem poucos os que deram
provas de patriotismo ou de capacidade administrativa, algo de importante
realizando, para a Nação, em região de tantas riquezas inexploradas.
Pouco
evoluíra, nesses onze anos, a longínqua Província. Contudo, ao findar êsse
período, já se enumeravam os resultados auferidos da lei do Império que, a 7 de
dezembro de 1866, abrira, “aos navios mercantes de tôdas as nações, a navegação
do rio Amazonas até à fronteira do Brasil”. Provinham, aquêles, da navegação
direta com os portos europeus e dos Estados Unidos, por intermédio das
companhias de navegação “Chargeus Reunis”, “Red Cross Line” e Royal Mail”, com
seus paquetes “Sully”, “Teotônio”, “Vila-Bela”, “Cearense”, “Paraense”,
“Jerome” e outros, em seis a oito viagens por ano; sem contar. os da navegação
fluvial, já bem acrescidos em número, em virtude da constituição da “The Amazon
River Steam Nategation Company”, e cêrca de vinte navios particulares, entre
êstes os belos “gaiolas” “Imperatriz Tereza” e “D. Pedro”, recentemente
construídos na Inglaterra para firmas comerciais da região amazônica. De outro
ângulo, já se achava mais desenvolvido o comércio: casas exportadoras, como a
Scott & Cia, Ruiz e Teixeira, Medosch, Gottschalk & Cia, Henry A.
Gould, e outros, canalizavam os produtos regionais para os mercados
estrangeiros.
A
essa época, a capital da Província amazonense já se mostrava mais dilatada, em
seu perímetro urbano; e sua população estava aumentada, em razão da constante
chegada de imigrantes nordestinos para os trabalhos nos seringais. Sôbre os
dois primeiros igarapés ao través da Rua Municipal, já cruzavam pontes de
madeira e os distritos policiais se estendiam até às rocinhas de Francisco
Euzébio de Souta, no igarapé da Cachoeirinha; cêrca de 150 lampiões a querosene
completavam a iluminação das ruas da cidade; havia sido inaugurado o Hospital
da Misericórdia; o professor Lavor dava concertos de “ophiclead” no Teatro
Beneficente; e a imponente estrutura da nova Igreja Matriz já se ostentava no
panorama urbanístico da cidade. Mas, da Biblioteca, que, com o maior
entusiasmo, fôra instalada em 1871, há êste informe na mensagem de outubro de
1880, do presidente Sátiro de Oliveira Dias: — “A biblioteca, que se diz haver
sido fundada, existe apenas no nome”...
Não
tardaria, porém, que novos zelos se levantassem para restituir a Manaus a útil
instituição que dirigentes menos esclarecidos deixaram, fenecer. Retornaram,
aquêles, no alento de um espírito ilustre, evoluído e de arrojadas iniciativas:
o dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, que governou a Província do Amazonas no
curto, mas progressivo período de março de 1882 a fevereiro de 1884.
A administração José Paranaguá se alteia
na história da Província pelos empreendimentos de cunho científico e educativo
que levou a efeito, sem descuidar dos demais problemas que reclamavam estudo e
solução nos setores do comércio, da indústria e da navegação. Moço culto,
apaixo-nado pelas artes, pelas ciências e pelas letras, em decorrência de uma
edu-cação bem cuidada que recebera de ilustres e honrados ancestrais (era filho
do Visconde de Paranaguá e neto do integérrimo Montserrat, magistrado do Império).
José Paranaguá trouxera para o exercido do govêrno da Província amazonense, de
par com o viço pleno de seus 26 anos de idade, um tirocínio administrativo dos
mais provectos realizado como auxiliar direto da administração da Província, do
Rio de Janeiro. Colocando seus aprimorados dotes públicos à serviço da
longínqua Província que lhe confiara o Imperador, pôde assim, em pouco menos de
dois anos, levar a efeito uma gestão que se engrandeceu e engalanou com as mais
notáveis realizações.
Paranaguá
encontrara uma Província de passos pouco seguros na estrada do porvir. Opulenta
em suas reservas naturais, vasta em área ter-ritorial, sedutora em suas
paisagens e no que se oferecia e se entregava à posse da inteligência e do
denôdo dos cientistas e dos desbravadores, dos pioneiros audazes e dos
administradores de vontade e reta consciência, — aguardava, em virginal
letargo, ao doce embalo daquele “celeiro do mundo” da profecia de Humboldt, que
mãos e almas fortes viessem despertá-la, para o fausto das messes dadivosas.
Deslumbrou-se, o moço idealista, com aquêle apêlo que estava a receber de um
mundo ubérrimo, pelo clamor de vozes que vinha das águas encachoeiradas, dos
barrancos em erosão, das ramagens aos ventos, dos tantãs da indiada, dos gritos,
silvos, urros, ber-ros, pios e cantos sonoros, que se orquestravam no
pandemônio da fauna maravilhosa. Agigantava-se, na alma do jovem administrador,
o sonho de brasilidade que conduzia de seus antepassados; e assumiu as rédeas
do poder com os sãos propósitos de fazer caminhar para a vanguarda brasileira a
afortunosa Província cujos destinos a confiança de um soberano justo depositara
em suas mãos.
Os
marcos do progresso que fincou, Paranaguá, em seus dois anos de govêrno estão
nas crônicas, no depoimento de seus contemporâneos, nos relatórios, nos
documentos oficiais; muitos estão ainda de pé, ostensivos aos olhos das
gerações atuais, ou na base dos grandes empreendimentos que evoluíram no
interêsse público, até o presente. São inumeráveis as realizações de Paranaguá:
deu completa reforma à instrução pública, primária e secundária; lançou a pedra
fundamental do imponente Teatro Amazonas; criou o Montepio Provincial e
Municipal; fundou o Museu Botânico Amazonense, convidando o sábio Barbosa
Rodrigues para organizá-lo e dirigí-lo; firmou contratos para estabelecimento
de novas linhas de navegação, inclusive com a Europa; organizou os serviços de
abastecimento d’água e alimentar da capital; deu inicio, de forma organizada,
aos serviços de estatística; incentivou o movimento de abolição da escravatura;
estabeleceu serviços de exploração em vários rios; patrocinou expedições
científicas ao interior; promoveu o incremento da pecuária, abrindo campos;
restabeleceu o Instituto de Educandos Artífices, que encontrara fechado;
aumentou as linhas de navegação para os altos rios, construiu igrejas,
trapiches, cais, rampas, mercados; processou legitimações e demarcações do
domínio particular; desenvolveu propaganda intensa, na Europa, dos produtos
amazônicos; fundou, em Manaus, a Biblioteca Pública Provincial.
Sua
gestão foi um sol de primavera no itinerário histórico do Amazonas. O critério,
a honestidade e o tino, com que se houve na distribuição dos dinheiros públicos
e com que consultou sempre os reais interêsses da Província e de seu povo,
sagraram-lhe o período administrativo na gratidão dos amazonenses de sua época.
Deixara o Govêrno com uma reserva de quase mil contos de réis, em moeda
corrente, nos cofres provinciais, tendo empregado, só no último ano de sua
gestão, mais de quinhentos contos de réis em obras verdadeiramente úteis.
Assistira ao comércio, desenvolvera as indústrias, fomentara a agricultura e a
pecuária. Sob a sua proteção direta, floresceram as artes, elevou-se à
dignidade e ao respeito a sociedade, sublimou-se o culto à família e à
religião, fortaleceram-se as instituições; a juventude recebeu esplêndidas
dádivas pelos setores da instrução, e as letras e o meio cultural. se
alcandoraram no prestígio e na admiração do País.
Adriano
Pimentel, deputado geral às Côrtes do Império, deixou êste depoimento sôbre a
gestão Paranaguá: — “O commércio, as artes, as indústrias, as lettras e as
sciencias muito lhe devem nesta parte do Império. E os melhores materiaes que
promoveo e deo andamento ahi ficam perpetuados na cantaria, no ferro, no bronze
e no marmore, como em nossos corações agradecidos guardado o seu nome”. Aprígio
Martins de Menezes, homem culto e probo, médico, poeta e educador, que havia
quase vinte anos vinha seguindo o roteiro das administrações provinciais, assim
depôs, expirado o ciclo administrativo de Paranaguá: “Quem tiver estudado as
prodigiosas grandezas de que nos vemos acercados nesta opulenta região e lhe
tiver pressentido, arroubado pelos explendores de uma natureza feracissima, o
rasgado porvir de incalculáveis utilidades que se desdobrará às gerações que
nos vão succeder, animo desapaixonado, razão inspirada nos princípios supremos
da justiça, bemdirá fatalmente ao nome daquelle que, com mão segura e sem outro
incentivo que não o nobre e sublime interesse da gloria, natural sequencia do
heroismo e da honra, tiver encaminhado para as regiões douradas da civilisação
e do progresso a sociedade nascente desta tão nova quanto prospera Província.
Quando um primeiro magistrado de uma Província, como foi aquelle cuja
administração ora nos inspira estes dizeres, olhos fitos na honra, caminho
recto do dever, sabe guiar o povo que foi confiado a seu generoso e util
governo aos destinos grandiosos do futuro, é certo que no regosijo intimo da
consciencia do mesmo povo elle recebe todos os dias ruidosas saudações, bençãos
perenes. Tal se destaca a nossos olhos, d’entre as administrações que se tem
succedido nesta Província, a do jovem Administrador que se vai partir, o
illustre Sr. Dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá”.
“Elle, mais que da politica, — escrevera o engenheiro João Carlos Antony
— curou dos interesses materiaes desta Província, já ampliando e protegendo, na
esphera de suas attribuições, o commércio e a navegação; levantou, do
abatimento em que jazia, a classe do empregado publico, com especialidade a dos
professores publicos, que é a mais nobre entre as outras todas. Mandou explorar
nos e sertões ínvios, cooperou ardentemente para que a Província fosse representada
dignamente na exposição antropológica brazileira, e desta cooperação nasceu o
gosto pelo estudo daquella sciencia. São houve emfim ramo de serviço publico de
que elle não curasse com zelo e intelligencia, e mais tarde, quando o
historiador imparcial tiver de escrever a historia desta Província, não poderá
deixar de collocar a administração do Sr. Dr. Paranaguá, repito, entre as mais
fecundas em benefícios para esta região”.
“A
honra e o dever, a justiça e a intelligencia, que guiaram o illustrado
Administrador da Província do Amazonas, são os títulos de moderna nobreza com
que elle vai a caminho das glorias do nosso Paiz”, — dizia o juiz Regalado
Batista.
José Paranagttá deixara Manaus ao meio-dia de 14 de
março de 1884, embarcando no paquete “Ceará”, rumo à Côrte. “O seu embarque, —
noticiou o “Amazonas” — offereceu á nossa capital o espectaculo mais imponente,
mais grandioso que a um mortal é dado occasionar”.
Enumerada entre as obras por excelência do presidente José Paranaguá, avulta
sempre a fundação da Biblioteca Pública Provincial. Poucos meses decorridos da
assunção ao poder, exteriorizara o jovem governante a sua estranheza quanto à
inexistência de uma biblioteca na capital da Província, já dotada, esta, de um
meio cultural bem subido, com Escola Normal, Seminário, uma extensa diocese,
imprensa numerosa e de boa classe, um estabelecimento de instrução
profissional, brilhante equipagem de oficiais da Marinha e do Exército, muitos
clérigos ilustres, boas casas de comércio e já um intenso intercâmbio cultural
com as capitais européias, graças ao incremento da navegação estrangeira para
os portos da Amazônia. Informado, então, do descaminho dado à antiga Sala de
Leitura, em razão do descaso a que fôra relegada, logo tomou a deliberação de
suprir o que se lhe apresentava com a evidência de uma falta inexplicável. E
deu imediata ação aos seus propósitos, determinando as providências que
necessárias se fizessem para a criação de uma biblioteca, — não mais tipo Sala
de Leitura, nem Gabinete, nem Galeria: mas, Biblioteca Pública, com o amplo
sentido da serventia geral, de livre acesso, aberta a todos os estudiosos, aos
pesquisadores das ciências e da história, de franquia ilimitada. E a
disposição, o entusiasmo e o carinho, com que se conduziu em tão nobre
empreendimento, encontraram apôio e cooperação análogos de quantos mobilizara
nessa campanha.
Paranaguá mandara vir diretamente da Europa, preferencialmente dos
editores parisienses, obras valiosissimas, importantes coleções, selecionadas e
indicadas pelo erudito Barão de Ramiz Galvão, que, então, no cargo de
Bibliotecário, dirigia a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Encarregara-se
de fiscalizar essas compras, na Cidade-Luz, o Visconde de Nioac, — Manuel
Antônio da Rocha Freire — que ali residia, com a sua comenda da Legião de Honra
e a sua paixão pela bibliofilla. Mais de mil volumes foram de Paris remetidos,
via Havre, para Manaus, aonde chegaram pelo vapor “Paraense”, isentos de
despesas e de direitos alfandegários. Sete contos de réis custaram êles ao
erário provincial, quantia entregue, para essa compra, ao Barão de Rant Galvão.
Recomendara, Paranaguá, a organização de uma seção constituída
exclusivamente da bibliografia amazônica, solicitando do escritor Franklin
Dória, na capital do Império, a indicação das obras de possível aquisição. No
livreiro B. L. Garnier, foram elas adquiridas, em conjunto com outras sôbre o
Brasil, num total de oitenta e dois volumes, pelo custo de dois contos cento e
quatro mil e duzentos réis.
Em
bem documentadas pesquisas sôbre a criação da Biblioteca Pública Provincial —
“Como nasceu a Biblioteca Pública do Amazonas” — trabalho publicado no jornal
“Vanguarda”, do Rio de Janeiro, a 6 de julho de 1944, Geraldo Pinheiro, estudioso
e culto investigador da história ama-zonense e muito versado na etnologia
regional, nos dá um brilhante relato das atividades desenvolvidas para a
composição e instalação da Biblioteca. Narra, êle, em trecho avançado da sua
meticulosa e interessante exposição: “Em Manaus e no interior da Província,
enquanto se demoravam as encomendas dos livros feitas na Europa e no Rio de
Janeiro, processou-se animadora campanha para aquisição de donativos em
dinheiro e ofertas de obras, numa bela prova de colaboração particular à
iniciativa oficial de Paranaguá.
Bento
Aranha, que mais tarde viera a ser seu diretor, e Carlos Gavinho recolheram um
conto e quinhentos e cinqüenta mil réis; uma outra comissão, composta de Emílio
José Moreira, Taciano Maurilo Tôrres, Custódio Pires Garcia e Gregório José
Moraes, arrecadou setecentos e cinquenta e quatro mil réis e o dr. Aprígio de
Menezes, médico, político e historiador, promoveu uma subscrição a bordo dos
vapores “Solimões” e “Tapajós”, quando de sua viagem ao Javari e ao Purús, que
atingiu a quantia de setecentos e vinte mil réis. Tôdas essas importâncias
foram recolhidas, como as demais, ao Tesouro Público Provincial, para as
necessárias aplicações.
E,
assim, de ofertas em dinheiro, modestas como a de Raimundo Antônio Fernandes e
vultosas como a de um conto de réis feita por José Antônio Nogueira Campos,
enriquecia-se o seu patrimônio.
Exemplares avulsos eram presenteados por
particulares. D. Maria Nazaré Brígido dos Santos ofereceu treze volumes de
literatura e o engenheiro Joaquim Leovegildo de Souza Coelho, por sua vez, doou
duas cópias das cartas dos rios Juruá, Maué-Açu e Abacaxis, levantadas pelo
geógrafo inglês William Chandles, que procedera a estudos geográficos no
Amazonas.
Das repartições públicas vieram valiosas ofertas. O
Ministério da Marinha ofereceu vários mapas, dentre os quais se destacavam as
preciosas cartas hidrográficas do Rio Juruá, em 10 folhas, e o Mapa do
Amazonas. O Ministério dos Negócios da Fazenda ofertou uma coleção da legislação
brasileira e outras publicações da Tipografia Nacional; e a nossa Assem-bléia
Legislativa Provincial ofereceu a coleção completa dos seus anais, desde o ano
de 1852 em que se inaugurara a Província e se constituíra o nosso poder
legislativo.
Todos
os preparativos já se haviam feito para a instalação solene da Biblioteca
Pública. A 3 de março de 1883 é nomeado o seu primeiro bibliotecário; o dr.
Lourenço Pessoa, que se notabilizara na campanha abolicionista. Os livros da
antiga biblioteca do Liceu, quase todos castigados e os da Diretoria da
Instrução Pública, depois de
convenientemente inven-tariados, passaram para o consistório do lado
oriental da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição onde, sob a autorização
diocesana de Macêdo Costa, finalmente se instalou a Biblioteca, no dia 25 de
março de 1883.
Situada numa pequena elevação, o presidente Paranaguá mandou construir
uma pequena escada de pedra que facilitasse o acesso ao consistório da igreja.
Escolhendo aquêle dia, quis o governador do Amazonas homenagear os
membros da Assembléia Legislativa Provincial, pois que nêle se comemorava o
aniversário da Constituição Política do Império.
A
solenidade decorreu com extraordinária pompa, tendo a ela comparecido, além do
presidente Paranaguá e das demais autoridades públicas e militares, o preclaro
bispo dom Antônio de Macêdo Costa, que nesse tempo perlustrava a Província em
viagem de pastoral. Vale a pena registrar essa feliz coincidência: quando se
instalou a Biblioteca Pública do Pará, no ano de 1871, nesse mesmo dia, dom
Antônio Macêdo, ali presente, proferira notável oração.
Ao
ato usaram da palavra o bibliotecário Lourenço Pessoa, o dr. Aprígio de
Menezes, o padre Felix da Cruz Dácia, o capitão Gregório de Morais e outros
oradores. Por essa ocasião, como era de praxe, ao tempo, em tôda solenidade,
foram oferecidas duas cartas de liberdade a escravos negros, pela Sociedade
Libertadora Cearense e por Carolino Antônio Dutra.
Tôda Manaus comungava do entusiasmo e do júbilo. A
noite dêsse dia abriram-se as portas do Teatro Beneficente em regozijo pela
inauguração da Biblioteca, tendo lugar a representação do drama “Chigi ou o
Quadro da Virgem”, da autoria do teatrólogo português Gomes Amorim, com a
assistência de todo o mundo oficial.
Estava fundada a Biblioteca Pública Provincial. Em suas estantes se
encontravam para mais de três mil volumes e vários mapas geográficos estavam
expostos. Dois dias depois, a 27 de março, foi franqueada ao público de Manaus.
Em quatro dias apenas registrou-se uma freqüência de 122 pessoas.
O
encadernador João Manuel Fortunato, animado com o que se realizara, se ofereceu
a trabalhar gratuitamente, durante o período de um ano em seu beneficio,
fornecendo o material necessário às encadernações.
José
Paranaguá havia dado um Regulamento a 8 de março dêsse ano. Por êle, a
Biblioteca ficava aberta das 17 às 21 horas, excetuando-se os dias santos e
feriados, os de semana santa e os de carnaval, quando permanecia fechada.
Os seus livros preciosos e aquêles outros
enriquecidos de belas estampas ficavam numa mesa especial. As suas obras
reservadas só seriam franqueadas com a máxima discreção e a cópia dos seus
manuscritos dependia de autorização presidencial e só seria facultada às
pessoas de notório saber. Os menores de quatorze anos estavam proibidos de
freqüentá-la e os menores de 21 não tinham o livre alcance das obras que ofendessem
a Moral e a Religião.
Nos
primeiros meses o movimento da Biblioteca tomava um estimável ritmo de
progresso. Em agôsto de 1883 foi registrada uma freqüência de 244 pessoas, de
ambos os sexos, número êsse bastante elevado em vista das condições
intelectuais de Manaus que contava ao tempo com uma população calculada em
10.000 almas.
Agora
a maior preocupação era dotar a Biblioteca com um edifício apropriado Nesse
sentido já se manifestara o presidente Paranaguá em relatório lido à Assembléia,
no inicio dos trabalhos de 1883.
Poucos dias depois, a 29 de março, o deputado Antônio José Barbosa
apresentou aos seus pares um projeto de lei autorizando o presidente a
dispender até a quantia de sessenta contos de réis para custear a construção
dêsse edifício”.
Como
bem refere Geraldo Pinheiro, ao concluir a sua atraente narrativa histórica, a
preocupação de instalar a Biblioteca Pública Provincial em um prédio próprio,
conduziu o parlamentar mencionado à apresentação do projeto. A autorização do
dispêndio, neste contida, fixava realmente a quantia de sessenta contos de
réis, mas, convertida em lei, estabelecia esta somente quarenta contos de réis
(lei n.° 608, de 4 de junho de 1883).
Paranaguá não encontrara, juntamente com a antiga Sala de Leitura,
dotação alguma que se referisse à Biblioteca. Então, na proposta orçamentária
que apresentara ao Poder Legislativo, convertida depois na lei 582, de 27 de
maio de 1882, para o exercício 1882-83, mandara incluir a verba de seis contos
de réis consignada a “Pessoal da Bibliotheca Provincial, expediente e compra de
utensilios”. O orçamento do exercício seguinte (1883-84), elevava de seis para
sete contos de réis a referida verba e, na consignação “Obras Públicas”,
incluía os quarenta contos de réis “Para a construção de um edifício para a
Bibliotheca, inclusive a indenisação da planta aceita”.
Com a
saída de Paranaguá, da Presidência da Província, fôra-se, com êle, o anjo
protetor da Biblioteca Provincial. No exercício seguinte, o orçamento não
consignava mais a dotação para a construção do edifício, não obstante já terem
sido elaboradas e aprovadas as respectivas plantas. Figurava apenas a verba de
cinco contos e oitocentos mil réis, para pessoal e expediente.
O último quinquênio do regime monárquico foi,
entretanto, de assinalável prosperidade para a Biblioteca Pública Provincial.
Permanecendo no mesmo local onde se dera a inauguração (Consistório da Matriz),
suas coleções aumentavam dia a dia, franqueadas regularmente ao público,
registrando freqüência de leitores em número apreciável. Trabalhava-se com
entusiasmo na classificação científica dos livros e na organização sistemática
dos catálogos. Generosas doações continuavam a ser feitas, em obras impressas e
em dinheiro. Um gesto do comendador Guilherme Moreira bem ilustra o interêsse
que predominava, na época, pelo engrandecimento da Biblioteca. Assumindo
provisòriamente a Presidência da Província (fevereiro de 1884), na qualidade de
seu 1.° Vice-Presidente, aquêle ilustre homem público recebia e imediatamente
mandava recolher, aos cofres do Tesouro Provincial, em benefício da Biblioteca
Pública, os vencimentos de Presidente da Província, assim procedendo durante
todo o tempo em que permaneceu à frente do Govêrno.
Em
princípios de 1884, o acervo bibliográfico estava somado em cêrca de 5.000
volumes e o registro da freqüência acusava, no mês de janeiro, 192 leitores,
“que haviam consultado 45 obras científicas e 83 literárias”. Nesse mesmo ano,
a lei n.° 640, de 16 de maio, autorizava o Presidente da Província a mandar
concluir as obras do edifício do Liceu Provincial, para nêle funcionar,
inclusive, a Biblioteca Provincial.
O
bibliotecário Lourenço Pessoa deixou o cargo em fevereiro de 1884, para ocupar
a cátedra de Pedagogia da Escola Normal. Substituiu-o o bacharel Antônio Manuel
de Sousa Oliveira, que também pouco se demo-rou na chefia dos serviços da
Biblioteca. Tinha esta, no ano seguinte, novo bibliotecário: o professor Carlos
Pereira de Pinho, a quem coube levar a têrmo a feitura do Catálogo.
Os
trabalhos de catalogação dos livros da Biblioteca ficaram concluídos em fins de
1886, sendo levados a imprimir, em janeiro de 1887, na Tipografia de Antônio
Fernandes Bugalho. Em maio dêsse ano, estava a obra impressa, com uma tiragem
de 100 exemplares De boa feição material, formato in-8.°, ostentava o título
“Catalogo da Bibliotheca Pública do Amazonas”. Constava de 226 páginas e
distribuía os conhecimentos humanos, constantes dos livros que a Biblioteca
possuía, segundo o sistema de Jacques-Charles Brunet, assim expendido no seu
“Manuel du libraire et de l’amateur de livres”: 1.ª Classe — TEOLOGIA (1.
Tratados Gerais; II. Escritura Sagrada; III. Concílios; IV. Teólogos; V.
Apêndice. Heterodoxia). 2.ª Classe — JURISPRUDÊNCIA (I. Introdução, tratados
gerais, história; II. Direito natural e internacional; III. Direito político e
administrativo; IV. Direito civil e criminal; V. Direito eclesiástico). 3.ª
Classe — CIÊNCIAS E ARTES (1. Ciências filosóficas; II. Ciências físicas e
químicas; III. Ciências naturais; IV. Ciências médicas; V. Ciências
matemáticas; VI. Artes). 4.ª Classe — BELAS ARTES (1. Lingüística; II.
Retórica; III. Poesia; IV. Teatro; V. Ficção em prosa; VI. Filologia e história
literária; VII. Diálo-gos; VIII. Epistolografia; IX. Excertos). 5.ª Classe —
HISTÓRIA E GEO-GRAFIA (Introdução e tratados gerais).
Esse trabalho de classificação dos livros da
Biblioteca, elaborado em bases científicas, com a adoção de um sistema muito em
voga na época, revela esmerados conhecimentos de prática bibliotecária e diz
bem do acentuado lastro de cultura dos homens que o realizaram.
Reconhecidamente, a classificação de Brunet, constante do 6.° volume do Manual
(“Table Methodique”), era a mais difundida na Europa e vinha sendo adotada por
numerosas bibliotecas européias e americanas, considerada mesmo como o manual
clássico do bibliófilo francês. O seu constante uso, na organização de
catálogos de livros, pelos editores parisienses, resultou ficar conhecida como
“Sistema dos livreiros de Paris”. A dominadora influência da cultura francesa
se encarregou da sua difusão no mundo dos bibliófilos, que a aceitaram
alvoroçados, não obstante as reservas de alguns e as criticas de Prieur,
bibliotecário de Besançon, êste combatendo o sistema em falhas que apontava.
Adotando o sistema de classificação Brunet, para a ordenação dos livros
da Biblioteca Provincial do Amazonas, primaram os organizadores do catálogo em
realizar um trabalho que realmente a colocou à altura das principais
bibliotecas da Europa, senão em volumes de entradas, pelo menos do ponto de
vista biblioteconômico. O Catálogo impresso, possuem-no ainda a atual
Biblioteca Pública e alguns colecionadores de raridades bibliográficas; e do fichário
com êle elaborado ainda conhecemos inúmeras fichas que restavam depositadas em
um velho móvel de madeira que se perdera no incêndio de 1945. Eram essas fichas
de cartolina branca, pautadas, medindo 0,15 x 0,10, caprichosamente
manuscritas. Ao alto, à direita da ficha, se colocava o número de chamada,
ficando as demais anotações a ocupar o centro do cartão.
De
valia inestimável podem-se considerar as obras que figuram no Catálogo. Ali
encontramos os 50 volumes da monumental obra do padre Migne: “Encyclopédie
theologique”, Paris, 1845-49, in-4; “Histoire naturelle”, de Buffon, Paris,
1849, em 36 volumes; as obras de Darwin, nas primeiras edições; a 1.ª edição,
de 1576, da “História da província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos
Brasil”, de Pedro Magalhães de Gandavo; o “Diccionário histórico e geographico
da Provincia do Maranhão”, de César Augusto Marques. Maranhão, 1870; a edição
de 1853 de “O Amazonas e as costas atlânticas”, de Maury; o “Compendio das eras
da Provincia do Pará”, de Baena. Pará, 1838, bem como, do mesmo autor, de 1839,
o “Ensaio chorographico sobre a Provincia do Pará”; o “Diccionário
topográphico, histórico, descriptivo da comarca do Alto Amazonas”, de Araujo
Amazonas. Recife, 1852; a obra “Tabatinga am Amazonenstrom”, do dr. Robert
Lallemant, editada em Hamburgo, 1863; o in-fólio de Chandless: “Notas sobre o
rio Purús”; os primeiros estudos amazônicos de Barbosa Rodrigues: “O idolo
amazonico”, de 1875, e “Antiguidades amazonicas”, de 1879; os “Melhoramentos do
Amazonas”, Manaus, 1875, de João Ribeiro da Silva Júnior; a “Viagem ao norte do
Brasil, feita nos anos de 1813-1814”, de Ive d’Evreux, “publicado conforme o
exemplar unico conservado na Bibliotheca Imperial de Paris, com introdução e
notas de Ferdinand Denis”; as obras completas de Bossuet (43 volumes), edição
de 1815-19; as de Fenelon (22 volumes), edição de 1820-24; as de Goethe, as de
Lafontaine, as de Montesquieu, as de Racine, as de Schiller, os 39 volumes das
de Chateaubriand (1836-39), os 25 volumes das de Rosseau (1823-27), os 17
volumes das de Madame de Stael (1820-27); os 97 das de Voltaire (1828-32), a
coleção de 1845 das “Cartas Chilenas”, as obras de Wallace, de Herbert Smitts,
de Mattews, de Martius, de Keller e outros, sôbre a Amazônia. Na classe de periódicos,
o catálogo relacionou, entre muitos outros, a primeira revista brasileira,
“Correio Braziliense”, de 1808, impressa em Londres por Hipólito José da Costa;
o primeiro jornal do Pará, “O Paraense”, de 1821; e o primeiro jornal
amazonense, o “Estrela do Amazonas”, de 1852. A coleção de cartas e mapas
inclui o Mapa do Rio Amazonas, 1865, de Pimenta Bueno; o do Japurá, de Costa
Azevedo, 1864; os de Chandless, sôbre o Juruá, o Purús, Maués e Abacaxis; os de
Barbosa Rodrigues, sôbre o Capim, o Trombetas, o Urubu e o Jamundá.
Com
tôdas as suas minúcias, o rigor técnico da distribuição dos assuntos, a sua
excelente feição material, resultara, dêsse modo, o “Catálogo da Biblioteca
Pública do Amazonas”, um trabalho que expressava, com eloqüência, com realidade
e com justeza, a seriedade dos serviços e a integridade funcional da
instituição, além de expressar o apaixonado interêsse que os catalogadores
dedicaram aos misteres de classificação e ordenação das obras da Biblioteca.
Sem o tirocínio biblioteconômico necessário para tão complexa tarefa, dispondo
de alguns dos já poucos elementos instrutivos de sistemas de catalogação na
época ainda não bem desenvolvidos e generalizados, executaram um trabalho de
interpretação própria, assimilando regras, consultando modelos de catálogos das
bibliotecas européias, com o auxilio da cultura geral que possuíam e os
credenciara para aquêle serviço de natureza especializada, no campo da
bibliografia. E chegaram ao fim, de modo triunfal, apresentando um trabalho que
ainda hoje merece apreciação e é bem digno das atenções dos bibliotecários
modernos.
De parte
o gênio criador, a robusta erudição clássica e os setecentos mil volumes que
tinha diante de si para ordenar, não foram maiores, que a dos catalogadores
amazonenses, a dedicação, a perseverança e o desvêlo de Calímaco de Cirene, —
pai da Biblioteconomia — ao classificar e catalogar, para Ptolomeu Filadelfo,
as tabuinhas e os papiros da Biblioteca de Alexandria. Os 120 livros, que
constituíram os “Pinakes”, reveladores da obra de Calímaco, ressurgiram,
através dos séculos, na singela perfeição daquela obra dos bibliotecários
amazonenses, na penúltima década do Século XIX.
***
Continuou a Biblioteca subordinada à Diretoria da Instrução Pública até
1887. Foi no govêrno do coronel de engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer que
ela veio a tomar posição hierárquica de relêvo, no corpo da administração
provincial: na estrutura da lei n.° 780, de 25 de junho de 1887, aparece
tabelada como Diretoria, constituído o seu quadro de pessoal de: 1 Diretor; 1
Amanuense e 1 Porteiro. Em virtude dessa lei, o bibliotecário Carlos Pereira
Pinho ascendeu às funções de Diretor, desaparecendo o cargo de Bibliotecário. O
cargo de Amanuense era exercido por Abel Guimarães, que no mesmo ano foi
substituído por José Antônio de Castro Júnior. Carlos Pereira Pinho não demorou
muito tempo nas suas novas funções de Diretor: a 9 de julho de 1888, foi delas
exonerado, indo ocupar a cadeira de Matemática da Escola Normal. Nomeado em
Portaria da mesma data, assumiu a direção da Biblioteca o bacharel Jorge
Augusto de Brito Inglês.
Permanecia a Biblioteca Provincial funcionando no Consistório da Matriz.
Inaugurado, porém, em 1877, o edifício do Liceu (hoje Colégio Estadual do
Amazonas), determinou o cônego Raimundo Amâncio de Miranda, 3.° Vice-Presidente
da Província, ao assumir o exercício da Presidência, de 2 a 12 de julho de
1888, a transferência da Biblioteca para um dos compartimentos daquele próprio
provincial, “visto não estar bem colocada no Consistório da igreja matriz de N.
S. da Conceição”. A 11 de dezembro dêsse ano, novamente no poder, o cônego
Amâncio nomeou uma comissão, constituída do bacharel João Brígido dos Santos
Júnior, Júlio Pinto de Almeida e Gotgônio dos Santos, “para examinar o estado
da Bibliotheca Provincial, ficando arbitrada a gratificação de 800$000 a cada
um”. Essa comissão, ao dar contas, em relatório de março de 1889, da tarefa que
lhe fôra atribuída, pós em relêvo a boa conservação dos livros e a eficiência
dos serviços que a Biblioteca continuava a prestar aos estudiosos, em seu novo
domicílio, nada sofrendo, em seus pertences, com a mudança para o edifício do
Liceu.
Veio a República, mudaram os homens do
Govêrno, caíram as instituições monárquicas. O novo regime, porém, nos seus
primeiros anos, não foi pródigo em cuidados que favorecessem a Biblioteca. Bem
ao contrário, relegou-a à condição de um incômodo fardo de livros, atirado
vêzes várias de um para outro lugar, sem funcionários, sem estantes, sem
catálogos, sem conservação; ora entregue à guarda de algum servente desidioso,
ora formando corpo morto em agrupamento de serviços inteiramente diversos e sem
correlação. Seus livros eram desviados para as coleções particulares e os
“empréstimos por uns dias” se efetuavam como transferência de domínio.
“Com
a ascenção do regime republicano — escreveria 20 anos de-pois o historiador
Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha — esta instituição, que tanto já se
recomendava às intellectualidades do nosso selecto e crescente meio social, foi
pouco a pouco se extinguindo, devido às mudanças de uma para outras casas e aos
enormes desvios de livros de suas estantes, por incúria, desleixo e desídia dos
seus diretores, sem se exceptuar um só, animados pela protecção céga de chefes
de um desenfreado partidarismo, sem ideal, nem fé política republicana”. E mais
adiante: “A Bibliotheca do Amazonas, se tivesse continuado a ser dirigida com
dedicação, zelo, probidade e patriotismo, como fôra nos anos de 1883 a 1889,
seria hoje senão a primeira das existentes no Brasil, indubitàvelmente estaria
já classificada naquella mesma plana”.
De
fato, o curso das providências governamentais expedidas para a Biblioteca,
assim o confirma. Dois meses após assumir o seu curto período de govêrno do
novo Estado Federal do Amazonas, Eduardo Ribeiro decretou a extinção da
Diretoria da Biblioteca. Fê-lo por intermédio do Art. 15, nas Disposições
Permanentes, do decreto orçamentário n.° 80, de 28 de janeiro de 1891. O
dispositivo mandou anexar a Biblioteca à Diretoria da Instrução Pública, sob a
guarda de um Zelador.
Nessa situação permaneceu o acervo livresco,
durante mais de quatro anos, entre as quatro paredes de esquecida sala do
Liceu.
Sòmente em 1895, já quase no expirar do florescente quatriênio de
govêrno de Eduardo Ribeiro, lembrara-se êste de dar séria atenção à Biblioteca
Pública; desta vez, felizmente, para arrancá-la do olvido e da inoperância a
que relegara um ato da sua efêmera gestão anterior.
Não
deixa de suscitar certa estranheza tão retardada providência de parte do
acurado e infatigável governante, cuja ação renovadora e construtora vinha
envolvendo, desde o início, todos os ângulos da vida amazonense. Por seus
notáveis empreendimentos, por suas leis sábias e através de diretrizes firmes e
de efeitos surpreendentes, a obra administrativa do grande maranhense operara
impetuoso salto evolutivo na vida do Amazonas. A grandeza de sua gestão ficara
perpetuada nas imponentes edificações de que ainda hoje se orgulham os
amazonenses: a suntuosidade do Teatro Amazonas, a imponência aristocrática do
Palácio da Justiça, a sóbria elegância da ponte de ferro da Cachoeirinha. Seu
govêrno dera à cidade de Manaus a amplitude urbanística que lhe possibilitou
grandes recursos de expansão: abriu e arruou novos bairros, nivelou e calçou
inúmeras ruas; plantou jardins e erigiu pontes e monumentos em praças novas;
construiu reservatórios para o abastecimento d’água, iniciou a edificação do
Palácio da Justiça. Por obra sua, os bondes elétricos viriam a rodar pelas ruas
e a luz elétrica brilhou dentro das noites manauenses. Reorganizou e levantou o
nível da instrução pública, incrementou a navegação para o interior e para a
Europa, deu impulso novo às indústrias e reformou, êle mesmo, tôda a legislação
estadual, nas bases do novo regime. Elevou de cinco para dez mil contos de réis
a receita do Estado e tudo fêz para o prestígio maior das instituições
culturais e científicas. “Encontrei urna grande aldeia e fiz dela uma cidade
moderna”, — pudera êle ufanar-se, ao fim de sua gestão.
A
cidade moderna, que Eduardo Ribeiro fizera da capital amazonense, surpreendeu
Torquato Tapajós. O moço poeta, que, desde 1873, se achava ausente da gleba
nativa, vivia agora as doces emoções de um retôrno, embora breve, aos
tabuleiros da sua infância. Voltava cheio de títulos, laureado
engenheiro-geógrafo e bacharel em matemáticas, sócio do Instituto Civil de
Engenharia de Londres e de muitas outras respeitáveis instituições científicas
do Pais. Conduzia vultosa bagagem literária já publicada: dois livros de
poesias e muitos outros de assuntos científicos e questões limítrofes. Havia
percorrido a Europa, os Estados Unidos e adquirira fundas observações e
conhecimentos de engenharia sanitária, que os empregou nas importantes
comissões especificas confiadas ao seu desempenho, pelo Govêrno Central. Vindo
a Manaus, no ano seguinte ao fim da gestão de Eduardo Ribeiro e no mesmo em
que, ainda em idade vigorosa, viria a falecer na Capital da República,
surpreendera-o a transformação da sua outrora acanhada Manaus Manifestava-se,
então, em artigo n’“O Rio Negro”, edição de 5 de agôsto de 1897: — “É extraordinário
o desenvolvimento material da cidade de Manaos. Bem pouco resta de quanto aqui
deixamos. Desdobrando-se em todas as direcções, a cidade actual absorveu a
velha cidade e nas suas grandes linhas vê-se agora que esta terá de enquadrar
em seus limites uma das mais bellas capitaes da União”.
Deveras, oferecia-se à evidência o progresso que a administração Eduardo
Ribeiro deixara assinalado na capital amazonense. Um ritmo de vida mais intenso
era auscultado em todos os ângulos de atividade, correndo as iniciativas
particulares a par com as de sentido público. Tornara-se próspero o comércio
retalhista, ampliado em suas instalações, apurado na seleção de seus artigos de
venda: meias de fio da Escócia, camisas de Oxford e punhos e colarinhos inglêses,
no “Mandarim”; cristais da Boêmia e Bacarat e biscuits de terra-cota, na Casa
Pekim; chitas e outros tecidos inglêses, no Canto das Novidades; e a manteiga
“Issigny”, de J. Lepelletier, e a dinamarquesa “Bismarck”, na Casa Quintas. A
sapataria Industrial supria a praça com os ponteagudos tamancos portuguêses e a
Casa Havanesa apresentava sortimento apreciável dos chapéus de palha “Christys”
e dos sapatos “Bostock”, de fino acabamento inglês. As prateleiras das
farmácias “Central” e “Borba”, e de outras mais, viviam repletas dos produtos
da farmacopéia francesa: o “Quinium Labarraque”, febrífugo famoso; a
“Kola-Monavon”, reconstituinte poderoso; o “Morrhuol”, de Chapoteaut, para as
bronquites e as moléstias do peito; o “Xarope de Dusart”, de grande efeito no
raquitismo; a “Phosphatine Faliéres”, as cápsulas de Santal Saldlé Lacroix, os
pós laxativos de Vichy. Pontes Mais era o alfaiate dos cavalheiros elegantes,
sempre em dia com as inovações dos figurinos de Londres. As livrarias “Palais
Royal”, “Universal” e “Comercial” expunham à venda o “best-seller” da época: o
livro “A Ilusão Americana”, de Paulo Prado; enquanto a confeitaria “Progresso”
deliciava os paladares requintados com os, doces “Bôlo de Amor”, “Orelhas de
Abade”, “Madalenas” e os mais tenros de sua fabricação. Caixeiros-viajantes,
seringueiros, comediantes, homens de negócios, contratantes de obras e
aventureiros superlotavam o Hotel Cassina, o Hotel de França, o Hotel Europa, o
Hotel Internacional e mais casas de hospedagem. Estava aumentada a navegação
para a Europa com os navios de mais três companhias: uma, portuguêsa, com o
“Dona Maria”; outra, italiana, a “Ligure Brasiliana”, com o novíssimo “Rio
Amazonas”, e a inglêsa Booth Line, com o “Augustine”, o “Hildebrand” e outros.
No Teatro Amazonas, recém-inaugurado, as noites de gala se sucediam com os
espetáculos da Companhia de Comédias Dias Braga, em ponto alto a atriz Adelaide
Coutinho. Estava instalado, e em funcionamento, o serviço telefônico da capital
e vinham de ser inauguradas as comunicações telegráficas pelo cabo sub-fluvial.
Fundava-se o primeiro clube esportivo: o Sport Club Amazonense.
O
meio intelectual da cidade respirava pela imprensa: Euzébio de Sousa Caldas,
Raimundo Nunes Salgado, Argemiro Germano e Paula Barros, no “Amazonas”; Alberto
Moreira e Rocha dos Santos, no “Comércio do Amazonas”; Justiniano de Serpa,
Raul de Azevedo e Deusdedith Farias n”’O Rio Negro”; Taumaturgo Vaz, Almeida
Nobre e Temístocles Machado, na “Federação”; Leônidas de Sá, no “Imparcial” e
ainda outros no “Jornal do Amazonas”. Os da “Federação” e os do “Jornal do
Amazonas” viviam empenhados em duelos políticos, a serviço dos partidos. Mais
informativos, mais interessados nas letras, nas artes, na vida social, eram os
que pontificavam no “Comércio do Amazonas e n’“O Rio Negro”.
Eduardo Ribeiro inaugurara a idade de ouro do Amazonas, tendo como
grande auxiliar a valorização da borracha. Encontrara o então “ouro-negro”
cotado em preço-quilo pouco superior a três mil réis e, da curul presidencial,
pudera acompanhar a sua ascenção, na concorrência dos mercados estrangeiros,
até quase chegar aos dez mil réis. Não só a borracha, outros produtos também
tiveram as graças da valorização: a castanha, o anil, o cravo, a piaçava. A
receita estadual, em surto ascencional, pusera nas mãos do grande visionário o
crédito e os recursos que lhe possibilitaram tornar palpável o sonho de
grandeza que agitava as suas horas de lucubração.
Ao
singrar a rota última de seu período administrativo, Eduardo Ribeiro já colhia
os frutos doirados de muitas das árvores que plantara. Via o crescimento de sua
cidade, já com cêrca de 45.000 habitantes, dotada de belas conquistas da
civilização, em rumo para o que, dez anos mais tarde, visitando-a, Afonso Pena
consideraria “uma revelação da República”. Só então parou o olhar diligente
sôbre o desolador abandono em que se finava a Biblioteca Pública. No propósito
de dar-lhe uma situação adequada às suas altas finalidades, pediu, e obteve, do
Congresso, no corpo da lei 134, de 7 de outubro de 1895, autorização para
reorganizá-la como julgasse conveniente. E não se fêz demorar nas providências:
a 17 do mesmo mês, baixou o decreto n.° 86, com o qual criava a Diretoria da
Biblioteca Pública do Amazonas, constituindo-a com o seguinte quadro de
pessoal: 1 Diretor, 1 Secretário, 1 Porteiro e 1 Continuo. O regulamento, com o
decreto baixado, rezava em seu art. 1.°: “A Biblioteca Pública do Amazonas,
creada por disposição da Lei 582, de 27 de Maio de 1882, é destinada a cooperar
para o progresso da instrução pública do Estado”. Outros dispositivos
determinavam: o horário de funcionamento (das 11 às 14 e das 18 às 20 horas); a
admissão à freqüência sòmente de pessoas maiores de 14 anos, decentemente
vestidas; e o não empréstimo de livros.
Eduardo Ribeiro nomeou diretor da Biblioteca o bacharel Pedro Epifânio
Regalado Batista, a quem coube fazer outra mudança do acervo: do edifício do
Liceu para uma casa de aluguel à Praça da Constituição (trecho hoje denominado
Praça Roosevelt), esquina com a Rua Guilherme Móreira. É o próprio “Pensador”
quem faz referências a essa nova instalação da Bibioteca, em sua mensagem de 19
de março de 1896, ao Congresso: — “Não possuindo o Estado um edifício
apropriado para o serviço da Bibliotheca e não havendo mesmo nesta capital um
próprio em condições de servir, lancei mão dos acanhados cômodos de um armazem
situado à Praça da Constituição e para elle mandei transferir os restos da
antiga Bibliotheca Pública que se achava em uma sala do Gymnasio Amazonense
Refere-se, a seguir, às coleções bibliográficas
existentes: “Cumpro o dever de declarar-vos que grande parte do material que
pertenceu à antiga Bibliotheca não foi encontrada por se ter extraviado desde a
primeira mudança feita. Dos livros restantes, uma grande parte acha-se
completamente mutilada, havendo alem disso varias obras importantes incompletas
de modo a tornarem-se imprestáveis”. Conclui, justificando a sua confiança na
escolha que fizera para a direção do estabelecimento: “Estando à frente da
Repartição como Diretor o illustrado jurisconsulto dr. Pedro Epiphanio Regalado
Baptista, que, à uma longa prática, alia conhecimentos scientificos variados,
confio que a Bibliotheca Pública do Estado dentro de pouco tempo estará
inteiramente transformada, ficando em condições de prestar os importantes
serviços a que está destinada”.
Não
chegaram a êxito os sãos propósitos que presidiram, em Eduardo Ribeiro, à
reconstituição da Biblioteca Pública. Iniciativa tomada já nos meses últimos de
seu opulento govêrno, quando fortes chefes políticos, que o apoiavam, começavam
a bandear-se para a oposição, arrastando, o grande dirigente, da ação
administrativa para os duelos do partidarismo, até o extremo de uma tentativa
de deposição, — bem restrita era a trégua que lhe davam as preocupações
políticas, nesse apagar das luzes, para cuidar, com o desvêlo e o entusiasmo de
antes, das suas realizações de natureza puramente administrativa. Combatido e
glorificado, discutido e aclamado, deixou o govêrno ao seu substituto legal,
tenente Fileto Pires Ferreira, também engenheiro-militar, eleito num pleito
tumultuosíssimo, cuja apuração, pelo Congresso estadual, se revestiu de um
golpe político que entrou de modo jocoso para a história amazonense.
A
confiança, que Eduardo Ribeiro manifestara na prosperidade da Biblioteca
Pública, em razão da organização e da direção que lhe havia dado, resultara em
completa frustração dos bons anelos daquele governante. Embora instalada em
outro local, com numeroso quadro de serventuários e sob a direção de um nome
ilustre, não deu sequer sinal de prosperidade, não andou em seus objetivos.
Voltou ao estado de declínio em que fôra encontrada. Fileto Pires, em mensagem
de março de 1897, dava, dela, esta desapontadora notícia ao Congresso dos
Representantes: “Pelo Relatório do Diretor desta Repartição, para o qual chamo
a vossa especial attenção, vereis o estado de desmoronamento, ou melhor, de
aniquillamento em que se acha a Bibliotheca Pública. Desprovida de quasi todos
os elementos necessários e encontrando os poucos existentes em verdadeira
ruína, só trabalho novo, methodico e regular poderá levantar o estabelecimento
a um grão de prosperidade capaz de preencher os seus elevados e patrióticos
fins”. E mais adiante: “Sem obras de certo valor, truncadas as melhores que
existem, sem revistas scientificas e literárias, nenhum interesse desperta e
nenhuma frequencia pode ter a Bibliotheca. Relativamente ao movimento, são
desanimadores os dados fornecidos pelo Director, pois dá-nos uma frequencia de
3 leitores diarios!”
Nove
meses decorridos da sua fala aos congressistas, Fileto Pires extinguia a
Biblioteca. Extinguia-a “considerando que, com a permanencia dessa Repartição,
continua o Estado sobrecarregado de despezas, sem que d’ahi resulte vantagem
alguma para o Estado e seus habitantes”. O decreto, sob o n9 208, de 8 de
dezembro de 1897, determinava que os pertences da Repartição ficassem a cargo
da Diretoria de Estatística.
Outra
mudança ocorreu. Os livros, em caixas e mais caixas, — tesouro preciosíssimo
que homens sem ideal, sem disposição de trabalho, sem consciência
biblioteconômica, não sabiam de que maneira empregar na difusão da cultura
popular — foram novamente trasladados, desta vez para uma sala do prédio em que
estava instalada a Repartição de Estatística, na antiga Rua do Progresso, hoje
Monsenhor Coutinho.
O ato
da instalação da nova Repartição de Estatística, Arquivo Público e Biblioteca
ocorreu no dia 1.° de janeiro de 1898, com a presença do Chefe do Executivo,
tendo sido lavrada uma ata da solenidade. A essa altura, dirigia a Repartição
Manuel Francisco da Cunha Júnior, achando-se a Biblioteca a cargo do
Bibliotecário Wilson Silveira Coelho. Justificando a providência tomada, o
Governador assim se expressa na mensagem do ano seguinte: — “Desanimado de
colher um resultado que cobrisse os gastos empregados, tirei á Bibliotheca o
caracter de repartição pública, isolada, para constituir unicamente e por
enquanto, uma secção na estatistica. Penso em construir um predio para
installar definitivamente a Bibliotheca”.
Pedro Freire, homem culto, amante dos livros e
bibliógrafo de requintado gôsto, secretariava o govêrno Fileto Pires Ferreira.
Em janeiro de 1898, dando contas das atividades das repartições que estavam
subordinadas à sua Secretaria de Estado, assim se manifestava sôbre a
Biblioteca: “Parece-me que é tempo de pensar-se seriamente na necessidade
inadiavel de dotar-se esta Capital com uma Bibliotheca bem organisada, o que
não foi possivel ser posto em prática, creio eu, por não ter o Congresso
facultado até o presente recursos para êsse fim ao poder executivo, consignando
na lei orçamentaria verba sufficiente para a acquisição de um prédio
apropriado, para a compra de moveis como sejam: estantes, mezas, etc. e para
assignaturas de revistas e de principaes jornaes nacionaes e estrangeiros, para
a compra, em larga escala, dos livros que tem necessidade, ficando habilitada a
firmar contractos com livreiros dos principaes centros de actividade
intellectual para a remessa mensal das obras mais importantes que sejam dadas á
publicidade. Quem tiver conhecimento exacto dos incalculaveis beneficios que um
estabelecimento montado nessas condições, correspondendo perfeitamente ao fim a
que é destinado, fornecerá ao público, não regateará os meios pecuniários de
que o Governo carece para montar uma Bibliotheca digna d’este Estado, que
fique, como monumento de inestimavel valor, para attestar aos vindouros o
elevado grao de interesse que os poderes constituidos desta opulentíssima
circumscripção do extremo norte consagravam ao levantamento do nível moral e
intellectual da população. É racional e intuitivo que para uma Bibliotheca
Pública, além de um grande numero de obras sobre os ramos de conhecimentos
humanos, publicadas nas linguas mais em uso entre os povos civilisados, se
requer mapas, atlas, globos geographicos, etc., uma diversidade enorme de
objetos apropriados a cada estudo que o leitor pretenda fazer. O predio em que
ella tenha de ser installada demanda construcção adequada aos seus fins, com
accomodações regulares para salas de estudos. Não ha duvida alguma que o
Amazonas está em condições de possuir uma Bibliotheca Pública á altura de seus
creditos de Estado prospero
***
O
expirar do Século XIX, na capital amazonense, vinha se emoldurando de um
pronunciado gôsto no campo da cultura, entre os ângulos diversos da
administração e da sociedade. Modernizavam-se as condições da instrução
pública, à frente o professor Francisco Antônio Monteiro, que regressara de uma
viagem de estudos e observações em França e Portugal; procurava-se reequipar o
maltratado Museu Botânico do Estado, com a aquisição das coleções Talberg e
Payer e o movimento em favor da compra da coleção numismática de Bernardo
Ramos; reacendiam-se as luzes de ribalta do recém-inaugurado Teatro Amazonas
para as exibições do grande trágico Giovanni Emânuel, o mais famoso intérprete
de Shakespeare; introduziam-se métodos modernos no ensino normal e no ginasial;
doirava as reuniões da Academia de Belas Artes o “settimino” do professor Cesar
Vesce Na imprensa, Th. Vaz, Fran Paxeco, Raul de Azevedo, Leônidas de Sã, Goetz
de Carvalho e outros saudavam a visita de Coelho Neto.
Dirigindo o Ginásio do Estado, um amazonense dos mais ilustres, pedagogo
emérito, apaixonado das letras e das artes, — Antônio Monteiro de Sousa —
fundava a Biblioteca do Ginásio. Iniciativa de Pedro Freire, organizara-a
Monteiro de Sousa de acôrdo com as diretrizes biblioteconômicas mais em voga na
época. Fôra êste ao Rio de Janeiro com a missão especial de adquirir obras de
valor, de serventia para professores e alunos do curso secundário, no propósito
de dotar essa Biblioteca de coleções úteis aos pesquisadores e ao serviço do
ensino. Monteiro de Sousa trouxera da Capital Federal 710 volumes, podendo,
assim, com as obras doadas e compradas em Manaus, inaugurar a Biblioteca do
Ginásio com um aceno de mais de dois mil volumes. Obras raras ali eram
encontradas, como o “Compêndio das Eras”, de Baena; o “Diccionário histórico
estatístico da comarca do Alto Amazonas”, de Araujo Amazonas; os “Trabalhos
Litterários”, do primeiro poeta amazonense: Tenreiro Aranha; o “Diccionário
Geographico do Brasil”, de Moreira Pinto; a “História da América Portuguesa”,
de Rocha Pitta; a “Cronica dos padres menores da provincia do Brasil”, de Frei
Jaboatão. Continha grande número das obras escritas pelos naturalistas e
exploradores estrangeiros sôbre o Amazonas, entre os quais as de Humboldt, as
de Gravier, as de Bates, as de Mathews, as de Martius. Estava equipada de mais
de setenta dicionários lingüfsticos e especializados, sem contar quatro ou
cinco boas enciclopédias e coleções das mais autorizadas revistas científicas
européias. Em luxuosas encadernações, os clássicos abundavam nas estantes, de
par com os renascentistas, os românticos, os modernos. Tratados de Pedagogia,
obras de História, compêndios de ensino na diversidade das matérias, Direito,
Economia, Filosofia, Matemática, obras de arte de alto custo, todos os
conhecimentos humanos se, faziam representar, selecionados com inteligência e
erudição, na Biblioteca do Ginásio. “Se o valor de uma Biblioteca se aquilata
pelo mérito e qualidade das obras que a compõem e não pelo seu número —
informava, em relatório, Monteiro de Sousa — posso afirmar que a nossa tem
algum valor”.
Instalada em ampla sala do estabelecimento, com estantes, mesas,
cadeiras e mais pertences adequados, era a Biblioteca do Ginásio bem
freqüentada, não só por professores e alunos, mas também por particulares, que
a procuravam em suas necessidades de estudos e pesquisas e até para a leitura
recreativa. Em janeiro de 1900, com a extinção do Museu do Estado, ficaria
ainda mais enriquecida pela anexação da biblioteca dessa instituição,
valiosíssima em obras científicas.
E enquanto êste movimento se coroava de efeitos
excelentes no setor do. magistério secundário, permanecia a Biblioteca Pública
“em reorganização”, conforme as evasivas dos relatórios oficiais, entre as
quatro paredes mal caiadas de exígua sala à Rua do Progresso, inexpressiva e
inerte seção da Diretoria de Estatística, Biblioteca e Arquivo Pública. Dos
8.600 volumes que contava antes da primeira mudança, só restavam 4.342,
inclusive os de mau estado de conservação e as obras incompletas, assim
discriminados:
Livros catalogados e em bom estado de conservação
2.951
Livros mandados encadernar
268
Livros em mau estado de conservação
233
Livros, de obras incompletas
37
Livros inutilizados
172
Livros comprados pelo Govêrno do Estado
681
Chefiava a seção Júlio Nogueira, que também militava na imprensa e,
ainda .exercia o magistério, lecionando Filologia e Lingüistíca. O registro da
freqüência à Biblioteca dava a média de 1 leitor por dia!...
As
luzes de esperança que se abriram para a humanidade, naquela rósea primeira
madrugada do Século XX, tiveram também os saudares cheios de anelos de uma
população heterogênea que se agitava, em sonhos de fortuna, pelas ruas de uma
cidade próspera e feliz. Manaus ingressava na centúria nova com um lastro
auspicioso de recursos que lhe animavam as vivas aspirações a um grande centro
civilizado e lhe robusteciam a confiança no futuro, com base na cobiça mundial
pelas imensas riquezas naturais que a Amazônia entesourava. Era a namorada dos
mercados europeus e norte-americanos, que lhe mandavam as sêdas, as jóias, os
perfumes, os cosméticos, os licores, a cultura e os motivos de enlêvo
espiritual, e lhe hauriam a seiva moça e ubertosa, que estuava no látex, nas
resinas e nos frutos de suas árvores, na essência de suas plantas silvestres,
nos veios ricos de suas terras dadivosas e nos mistérios de sua natureza
exuberante em desafio às investigações da ciência.
Modernizada, alindada, desejada e requestada por homens de tôdas as
raças, endeusada com o tinir das esterlinas, dos francos, dos dólares, das
liras e dos réis fortes, tendo a seus pés as seduções da Wall Street e da
“City” londrina, — sentia-se, Manaus, com segura confiança nas suas
possibilidades econômicas e com fortes razões para acreditar num porvir
auspicioso. Deveras, o Século XX viera encontrar a capital da borracha em plena
florescência, dotada de muitos recursos então modernos da civilização: ruas
principais calçadas com paralelepípedos e com tijolos de asfalto; jardins e
parques sombrios com belos chafarizes e coretos ornamentais; pontes
monumentais, mercado de ferro trabalhado com o mais fino gôsto; imponentes
palacetes residenciais; luz elétrica abundante, com os seus arcos voltaicos
poderosos ao centro e nas esquinas das avenidas; bondes elétricos novos e
elegantes correndo as artérias, rumorosos; telégrafo, telefone, esgotos e o
início das obras de um cais flutuante que iria ser considerado obra-prima da
Engenharia.
Corria fartura de dinheiro, havia abundância, as safras eram milagrosas.
Cêrca de oito milhões de quilos de borracha, ao preço de treze mil réis, haviam
carregado, nesse ano, os barcos estrangeiros. Para uma receita orçada em quinze
mil contos de réis, o Estado arrecadava quantia superior a vinte e cinco mil.
Cento e dois vapores estrangeiros e novecentos e trinta e dois nacionais tinham
ancorado no pôrto, durante o ano de 1899, conduzindo sessenta e sete mil
passageiros para Manaus; e, no mesmo período, os vinte hotéis da cidade
hospedaram perto de cinco mil forasteiros, dos quais dois mil e quatrocentos
estrangeiros: 1.035 portuguêses, 289 espanhóis, 219 italianos, 140 franceses,
93 russos, 64 ingleses, 63 alemães, 54 austríacos e mais de outras
nacionalidades. As casas comerciais anunciavam nos jornais venda de libras
esterlinas ao câmbio de sete mil réis. A praça era fartamente suprida de
mercadorias e as casas de negócio porfiavam em anunciar os mais finos
sortimentos: Arenques de Norton, polvos e enguias, amêijoas, lagostas
americanas, espargos franceses, leite pasteurizado na Holanda cerveja alemã,
uvas italianas, a champanha e os delicados vinhos de França.
Aquêle traspassar de século, saudava-o, a deliriosa Manaus, com a
opulência de seus dias. Deslumbrantes fogos de artifício, mandados vir da
romântica Veneza, inundavam de chispas coloríficas a grande noite amazonense,
da Praça dos Remédios, em ação de graças
à Santissima Virgem. As sereias dos paquetes “Rio Pardo”, “Continente”, “Conde
d’Eu”, surtos no pôrto, em orgias de luzes, ensurdeciam a cidade nos saudares
estridentes. Abriam-se, em tôda a sua imponência, as luzes régias do Teatro
Amazonas para o espetáculo de gala da Grande Companhia Italiana de Operas e
Operetas, constituída de noventa e uma figuras, com a famosa prima-dona
Teresina Cappelli. Dominando a Praça General Osório, o Circo Lusitano exibia os
seus acrobatas, os seus palhaços, as suas deusas do picadeiro, para uma alegre
multidão em festas. O Grupo Ciclista Amazonense inaugurava o seu velódromo; o
Club União Marítima empossava o tenente Lecoq d’Oliveira em sua presidência,
sob a vibrante saudação de um. moço ilustre: Péricles Moraes; um português
idealista, amigo dos livros e da Cultura — Luís Rodrigues — fundava, com
outros, o Gabinete Português de Leitura; as atrizes Aurélia Santos e Cândida
Palácios faziam estremecer o Éden-Teatro; decorria, magnificente e luxuoso, aos
estouros da champanha “Veuve Clicquot”, o réveillon do Club Internacional, onde
as quadrilhas, as valsas e as polcas uniam os pares elegantes da cidade, no
rigor do “carnet” e do “cotilion”.
Manaus flutuava no deslumbramento de sua doirada ventura.
***
Para
a Biblioteca Pública, o Século XX trouxera também uma esperança nova. Viera,
esta, no dia terceiro, pelo decreto 375-B, de 3 de janeiro de 1900, que a
desanexava da Repartição de Estatística e a constituía, novamente, em Diretoria
autônoma.
Governava o Estado, desde abril de 1898, o coronel José Cardoso Ramalho
Júnior, Vice-Governador, que assumira o exercício em razão de uma licença de
viagem à Europa concedida ao Governador Fileto Pires e conseqüentemente, de um
ato de renúncia forjado na ausência do titular eleito, que contra o mesmo
protestara, dando-o como apócrifo, perante os altos poderes da Nação, tudo, porém,
baldadamente. Conduzindo dêsse modo, até o fim, o quatriênio governativo,
Ramalho Júnior teve cuidados com a Biblioteca. No melhor propósito de situá-la
em posição de prestígio e dar-lhe os meios de eficiência para o desempenho de
suas finalidades, dirigiu-se ao Congresso dos Representantes, a êste indicando
as necessidades de uma reforma, ao mesmo tempo que expunha seu pensamento sôbre
o valor de uma Biblioteca: — “A Bibliotheca Pública precisa de reforma
começando esta por ser desligada a sua administração — da Estatística, com a
qual nenhuma relação de dependencia logica possue. Não é appropriado o edificio
em que funciona, o local não é dos melhores para lhe attrahir leitores. Além
d’isso, precisa de uma regulamentação diversa, de abrir a horas differentes,
especialmente á noite, em que muitos, a quem o trabalho priva da Leitura
durante o dia, a podem frequentar. As bibliothecas públicas não são feitas para
os ricos, unicos que podem dispôr de todo o seu tempo: ellas miram os sabios,
os estudiosos, os pobres, todos aquelles que não possuem os recursos precisos
para terem em casa os livros de que necessitam. Nas primeiras horas da noite, o
operario que terminar a tarefa do dia, o empregado de commercio cujo
estabelecimento se fechou, o funcionario público que se acha liberto da faina
da repartição, o professor que não mais é reclamado pelas lides da aula,
poderão frequentar a Bibhotheca,
entregar o espirito a uma leitura que, não só os instrua, como os suavise das agruras
do trabalho quotidiano. Uma das maiores causas do desenvolvimento da União
Norte-Americana está no grande numero de bibliothecas que alli existem: não ha
povoado, por menor que seja,. que não tenha a sua, onde, as classes laboriosas
vão beber a instrucção na leitura que realisam. Isto explica como um individuo
que começou a vida feito operario, ao cabo de alguns anos desempenha funcção
superior: a leitura .a que se entregou fé-lo amar a arte e a sciencia e d’ahi a
nova orientação que deu á sua existencia. Aproveitemos esta licção e façamos o
possivel para que a Bibliotheca Pública derrame seus beneficios entre nós”.
Veio,
então a lei 254, de 9 de agôsto de 1899, concedendo ao governador Ramalho.
autorização para reorganizar a Biblioteca. Essa. lei ditava as bases da
reorganização: desligamento da Repartição de, Estatística; instalação em
edifício construído especialmente para êsse, fim e “com tôdas as precisas
condições para ser colocada (a Biblioteca) ;ao nível das melhores do Brasil”;
quadro do pessoal constituído de: 1 Diretor; 1 Sub-Diretos, 5 Amanuenses, 1
Porteiro, 1 Continuo, 4 Serventes; aproveitamento dos livros que estivessem
ainda em estado de ser manuseados e aquisição de novos “em quantidade e
qualidades bastantes para ampliar as colleções”; estabelecimento de uma secção.
de manuscritos e mapas sôbre a História e a Geografia do Amazonas;: organização
de um catálogo, sistemático; publicação do “Anuário da Biblioteca” e de.
memórias e monografias de estudos amazonenses; de autôres idôneos e . capazes,
subordinadas, ao título “Publicação da Biblioteca; Pública do Amazonas”.
Plano
alto êsse, uma vez executado, por si só, faria dar pomos. doirados à
administração Ramalho Júnior. Era, êste, um politico, evoluído e de ideais
elevados. Amazonense de boa fíbra, austero e leal em suas atitudes, alimentava
sonhos de grandeza no progresso de sua terra e de seu povo. Seu patriotismo
viril manteve o Acre integrado no mapa do Brasil, em reação a tratados e
convenções diplomáticos. Morrera pobre, já octogenário, mas sempre altivo, com
a memória viva das boas peças pregadas ao Itamarati, na rumorosa questão do
Acre, em favor dos patriotas brasileiros rebelados.
Ramalho Júnior alimentava sonhos opulentos com a
Biblioteca Pública de sua terra; queria-a completa, imponente, modelar, como as
que vira e freqüentara em suas várias estadas nas capitais européias. A lei de
reorganização, êle próprio a solicitara ao Congresso, com muito do seu empenho
pessoal, reivindicação do seu amazonismo construtivo. De posse da autorização
legislativa, logo no seu primeiro expediente do Século XX, a 3 de janeiro,
baixou o decreto 375-B, executório das primeiras providências. Escolheu um moço
culto e diligente para dirigir a Biblioteca: Raul de Azevedo; e, a 17 do mesmo
mês, por outro decreto, abria o crédito extraordinário de seiscentos e quinze
contos de réis “para acquisição do prédio onde tem de funcionar a Bibliotheca
Pública do Estado, compra de moveis e utencílios para a mesma”. Dias depois, a
10 de fevereiro, um outro decreto era baixado: o de n° 398, aprovando o
regulamento da Diretoria da Biblioteca Pública, e abrindo o crédito, no
orçamento vigente, de cento e dezenove contos e quatrocentos e quarenta mil
réis “para o seu aparelhamento”.
Com tais recursos (direção própria, pessoal
suficiente, regulamentação sábia, verbas opulentas para aparelhamento e
aquisição de prédio próprio, apôio do chefe do Executivo), muito se faria pelo
reerguxmento da Bibliotéca.
Mas, nada fôra feito. Ao findar o govêrno Ramalho
Júnior, em julho de 1900, seu Secretário de Estado, Francisco Públio Ribeiro
Bittencourt,. dizia isto, em relatório, da Biblioteca: “...ainda não foi
installada, porque destino ao seu funccionamento o pavimento terreo do edificio
da Secretaria a meu cargo e que ainda está occupado pela Repartição postal”.
Mais adiante: “A nossa Bibliotheca, não ha negar, está abatida”. E ainda mais:
“Do que foi a Bibliotheca de Manáos, só resta hoje um simúlacro”.
Em
seu quatriênio de govêrno (1900-04), Silvério Nery manteve a organização da lei
254, dada pelo seu antecessor Ramalho Júnior. Mas, a Biblioteca, embora
repartição isolada, continuava na séde da Repartição de Estatística, à Rua do
Progresso, com todo o seu aparatoso quadro de pessoal e seus poucos e
maltratados livros. Em julho de 1902, em mensagem ao Legislativo, o governador
Nery dava esta desoladora notícia da Biblioteca: “Sinto dizer-vos que é
lastimável o estado em que se encontra este outrora florescente
estabelecimento. O vandalismo politico e o pouco caso de passadas
administrações saltearam a Bibliotheca do Amazonas furtando-se umas obras,
truncando-se outras, baralhando-se todas”.
Ao governador Antônio Constantino Nery coube dar
morada definitiva à Biblioteca, para ela construindo o suntuoso edifício em que
hoje se encontra. Assumindo o Govêrno amazonense em julho de 1904, logo em
outubro do mesmo ano extinguiu a Diretoria e mandou anexar a Biblioteca, como
secção, à Diretoria de Estatística, Arquivo e Biblioteca, dando à repartição
novo regulamento. Determinou, a seguir, a mudança da Biblioteca da Rua do
Progresso para a Avenida Eduardo Ribeiro, prédio que hoje tem o número 453 e se
encontra totalmente reformado. Essa nova transferência dos livros foi procedida
por uma comissão nomeada pelo governador, a qual se desincumbiu da tarefa,
apresentando um relatório em que se pronunciava sôbre o mau estado dos livros.
Dando
conta dessas providências, narra o governador Constantino Nery, em sua mensagem
de 10 de junho de 1905, ao Congresso dos Representantes: “Em razão da
deficiência das obras, muitas das quais acham-se truncadas, e da falta de um
edificio apropriado, eram nullos os serviços ultimamente prestados. A isso
attendendo, auctorizei a annexação provisoria desta instituição à Repartição de
Estatística, até que seja determinada a construção do edifício, que já foi
iniciada no terreno de propriedade do Estado, situado entre as ruas Municipal,
Barroso e Henrique Martins, obedecendo em seu plano as exigências do objectivo”.
E mais adiante, no capitulo Obras Públicas: “A Bibliotheca Pública não tem uma
installação conveniente, por falta de prédio que lhe seja adequado. De accordo
com os poderes que me concedestes, já dei inicio á construcção de um edifício a
ella destinado, em o terreno situado ao lado da Imprensa Official”.
Na
lei de meios para 1906, foi consignada a verba de duzentos contos de réis sob a
rubrica “Construcção da Bibliotheca”, dotação essa novamente atribuída, com
igual importância, no orçamento de 1907. Constantino ativava a construção do
edifício com um entusiasmo notório. Em sua mensagem de 10 de julho de 1906,
assim se referia: “Entre as obras em andamento e em vias de conclusão, conta-se
a Bibliotheca, um dos nossos mais importantes edificios, oue, a par de sua
belleza architectonica, reune as melhores condições de solidez, e, adeantada
como está, aguardando a cobertura metallica, é provavel que seja concluida
antes de terminar o corrente anno”.
Não
conseguira, entretanto, levar a têrmo as obras, nesse ano, conforme esperava,
pois, tia mensagem de 10 de julho de 1907, assim se explicava: “A Bibliotheca é
que maiores deffeitos mostra, devidos unicamente a se achar mal installada.
Este estado de cousas porem tende a desapparecer quando se effectuar a sua
transladação para o predio Que se está construindo á Rua Barroso, edificio
apropriado, adrede dividido para o perfeito funcionamento”.
Para
enriquecer as depauperadas coleções da Biblioteca, adquirira o governador a
biblioteca particular do dr. Fernando Castro, constituída de 2.606 volumes “de
obras rarissimas , que ficaram aguardando, com as demais, no depósito à Avenida
Eduardo Ribeiro, a instalação no novo edifício. Ao escritor Alberto Rangel,
comprara também, o Estado, uma coleção de livros constituída de 768 volumes,
que foram imediatamente entregues ao bibliotecário Manuel Dias Barroso.
Mas,
não tivera Constantino a satisfacão de instalar a Biblioteca no edificio que
para ela mandara construir. Em novembro de 1907 deixou o Govêrno, licenciado
por motivo de doença, e embarcou para a Europa, renunciando depois o mandato.
Assumiu a chefia do executivo o coronel Afonso de Carvalho, que se achava na
presidência do Congresso. Êste, que transmitira o poder, em julho do ano seguinte,
ao novo governador eleito, Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, também não o
fêz, limitando-se a proceder, no novo prédio, sòmente a instalação do Arquivo e
da Estatística, e isto no andar térreo, “visto como — afirma êle em mensagem de
10 de julho de 1908 — não está de todo concluido o andar superior”. E
acrescenta: “Infelizmente não me foi possivel fazer outro tanto com a
Bibliotheca, não só á falta de espaço adequado no novo edifício, como porque a
sua installação importaria em despezas que não me era dado fazer”.
Continuou, assim, a Biblioteca, por mais dois anos, na Avenida Eduardo
Ribeiro, aguardando a que seria a última de suas mudanças.
“Não
se comprehende uma cidade de algum vulto e de desenvolvimento moral, intellectual
e physico notavel, sem a sua fonte de consultas exposta á visitação publica. A
Bibliotheca é, em toda a parte, o grande manancial franquíado aos espíritos
ávidos de conhecimentos”, — êsse o conceito de biblioteca, apôsto em documento
oficial, do reto e austero amazonense que ascendeu ao poder a 23 de julho de
1908: o coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt. “Caracter perseverante e
insubmisso, homem digno e bom, gosando de uma justa fama de rectidão, chefe de
família exemplarissimo, indole modesta, simples e affavel, espirito prudente e
avisado, conhecendo a fundo o meio em que vive e o mérito de cada um, — o novo
chefe do Estado poderá fazer renascer a idade de ouro do Amazonas,
saneando-lhe, primeiro que tudo, a atmosphera moral e, em seguida, reparando-lhe
as forças perdidas, e equilibrando-lhe a vida econômica, injectando-lhe sangue
ao organismo depauperado, restaurando-lhe o credito exhausto e restabelecendo o
imperio da lei e da justiça em toda a plenitude dos direitos do cidadão e da
segurança de vida e de propriedade” — eis o retrato moral do homem e, mais que
isso, as esperanças que carreava para o poder, segundo um desafôgo do “Jornal
do Comércio” de 23 de julho de 1908, órgão que tinha no comando de sua austera
Unha de conduta a figura impoluta e a consciência reta de um dos mais cultos e
mais criteriosos jornalistas que honraram a imprensa amazonense: Vicente Tôrres
da Silva Reis.
Era
que o Estado do Amazonas definhava num clima angustioso. Debilitado em suas
rendas, empenhado com obras suntuárias por concluir, atingido na sua autonomia,
olvidada pelos poderes centrais, assim se debatia nos meandros de calamitosa
crise financeira. Sufocavam-no os prejuízos decorrentes da recente desanexação
do Acre, pela União. Campeava o contrabando dos produtos estaduais dos altos
rios, como oriundos do território desanexado. A arrecadação, que chegara a
atingir vinte e cinco mil contos de réis, caíra para onze mil. E, como a coroar
tão amarga situação, os desoladores efeitos da intensa e enorme crise que,
desde o ano anterior, vinha convulsionando as grandes praças européias e da
América do Norte, resultando no fechamento de avultado número de fábricas e na
paralização do trabalho ao lado dos estoques de borracha ali existentes. “Os
efeitos dessa crise, — comentava na época o Inspetor do Tesouro, Círilo
Leopoldo da Silva Neves — que actualmente se desenrola nas grandes praças do
estrangeiro, produzindo um desequilibrio economico cujos desastrosos effeitos
ainda não se podem prever, vieram repercutir intensamente no nossa mercado,
desvalorisando o nosso principal producto, do qual o Estado aufere cerca de 90%
de suas rendas”.
***
Logo
no seu primeiro ano de govêrno, a braços com tão calamitoso estado de coisas, —
comprimindo despesas, corrigindo abusos, arrecadando sòmente para pagar juros
de empréstimos, vencimentos, fornecimentos, subvenções e contas, tudo em
atrazo, — o governador Antônio Bittencourt revelou os seus Cuidados com a
Biblioteca. O edifício em construção, à Rua Barroso, estava com as obras de
acabamento paralizadas, por falta de recursos. Mandou atender às mais
prementes, dispondo dos parcos níqueis que lhe sobravam dos pagamentos de
contas. Nomeou, a seguir, uma comissão para catalogar os livros da Biblioteca,
sob a presidência de Manuel Francisco da Cunha Júnior; e, pela lei 573, de 15
de setembro de 1908, deu nova organização ao agrupamento de repartições a que
se achava ela integrada. Por essa lei, ficaram Estatística, Biblioteca,
Imprensa Oficial e Numismática subordinadas a uma Diretoria. Seu regulamento,
baixado com o decreto 884, de 22 de outubro do mesmo ano, constituía Biblioteca
e Numismática uma seção, a cargo de um Bibliotecário, um Porteiro e um
Servente.
Justificando essas primeiras providências, Antônio Bittencourt assim se
referia, em mensagem ao Congresso: “A Biblioteca é, em toda parte, o grande
manancial franqueado aos espíritos ávidos de conhecimentos. Aqui. por muito
tempo, de portas abertas, que não davam entrada senão aos respectivos
serventuarios, deixou de corresponder a tão altos fins. Nesse abandono
desolador, obras importantes e raras desappareceram, sob a acção damninha dos
insectos, e outras foram inutilisadas pela perversidade humana, que a desfalcou
de alguns volumes. O aceno da Bibliotheca, que constava de mais de uma dezena
de mil obras, ficou por essa fórma reduzido a 6.311. Sei o valor que alli está
representado e tambem que se não comprehende uma cidade de algum vulto e de
desenvolvimento moral, intellectual e physico notavel, sem a sua fonte de
consultas exposta á visitação publica. Trabalho por esse desideratum e, apezar
de todos os inconvenientes, que apontei, o que resta da antiga Bibliotheca,
organisada como está sendo por uma comissão de homens competentes, póde, com
vantagem para o público, ser franqueada á consulta e ao estudo. Embora não
tenhamos estantes apropriadas, nem mesas convenientes para o mister da leitura,
pretendo em breve reabril-a. E, logo que isso tenha de ser feito, em horas do
dia e da noite, é claro que se faz preciso maior numero de empregados. Já
dispomos de um edifício proprio para essa installação. É conveniente tambem que
tenhamos estantes e mesas, que melhor sirvam ao mister”.
Nomeando Bento Aranha para o cargo de Diretor do agrupamento, o governador
Antônio Bittencourt confiou-lhe a tarefa de remover a Biblioteca do prédio à
Avenida Eduardo Ribeiro e instalá-la no edifício que para ela fôra construído.
Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, jornalista, historiador e homem de altivos
brios e muita independência, assumiu o cargo a 26 de julho de 1910 e
imediatamente providenciou a mudança, do espólio para a Rua Barroso. Era, como
êle referira, “um precioso montão de lixo, digno de lástima”, acrescentando:
“Encontrei quasi todas as suas velhíssimas estantes arrebentadas, quasi
innuteis”.
Transportados livros e estantes para o novo edifício, foram procedidos
os trabalhos de seleção do material aproveitável, ordenando-se, relacionando-se
e colocando-se, em seguida, os livros nas estantes, devidamente catalogados.
Essa tarefa de Bento Aranha durou quarenta e um dias e contou com a dediCada
colaboração do Bibliotecário Floro Osório Ferreira Pinto, que ali servia desde
janeiro de 1900. Foram aproveitadas cêrca de três mil obras, segundo a
informação de Floro Osório, ao fim do serviço: “Se acham catalogados nas
estantes 1 a 14 actualmente em número de obras catalogadas 2.832 com 6.257
volumes, restando ainda as estantes 15 e 16 que tem em obras encadernadas 936
com 1.358 volumes; existem mais diversas obras em brochuras e outras
encadernadas relativas á litteratura, direito, leis, decretos, regulamentos,
relatórios, jornaes, revistas, mensagens, annaes, etc.”.
Finalmente, a 5 de setembro de 1910, foi solenemente reinaugurada a
Biblioteca, em seu próprio edifício, ocupando o salão térreo que dá para a
atual Avenida 7 de Setembro. Ao ato estiveram presentes as principais
autoridades no Estado, notadamente o governador Antônio Bittencourt, o
vice-governador Sá Peixoto, o presidente do Congresso Legislativo, Antônio
Francisco Monteiro e o Inspetor da Região Militar, coronel Joaquim Pantaleão
Teles de Queiroz, personalidades estas que, daí a um mês, teriam ação
preponderante no episódio da deposição, por alguns dias, do governador
Bittencourt e, conseqüentemente, no célebre bombardeio de Manaus.
No
dia seguinte, estava a Biblioteca de portas abertas, franqueada ao público.
Prosseguindo na catalogação dos livros restantes, Bento Aranha ia
providenciando, entretanto, outras medidas no sentido de tornar a Biblioteca um
corpo ativo: participou a sua reinauguração ao Presidente da República, a todos
os governos dos Estados, repartições de estatística, bibliotecas federais,
estaduais e municipais, instituições culturais, emprêsas editoras, jornais,
etc., solicitando remessa de publicações; estabeleceu serviço de permuta de
livros, jornais e revistas de outros centros importantes, com o “Diário
Oficial” e as duplicatas e publicações oficiais existentes em quantidade na
Biblioteca; elaborou um projeto de regulamento e obteve, do Governador, a
consignação das verbas de cem contos de réis, nos orçamentos de 1910 e 1911,
destinadas a “Mobiliário para a Biblioteca”. “Ufano-me — escreveu êle em sua
exposição ao Govêrno do Estado — de ter levantado do cisco desta Repartição,
embora ainda em estado de organização, uma Bibliotheca com valiosíssimas e
raras obras encyclopedicas e bons livros de autores classicos antigos e
modernos, nacionaes e extrangeiros, sobre sciencias, artes e lettras”.
Dois
mêses depois, em novembro, o plano de reorganização das repartições integrantes
do agrupamento, elaborado por Bento Aranha, foi convertido em lei, sob o n.°
647, de 22 dêsse mês. Dividia o grupo em duas diretorias, uma constituída da
Imprensa Oficial e, outra, das repartições de Estatística, Arquivo, Biblioteca
e Numismática. Bento Aranha prosseguiu o seu trabalho dedicado em completar a
organização da Biblioteca, tendo enriquecido o patrimônio bibliográfico com a
aquisição da valiosa biblioteca particular do dr. Paes Barreto, constituída de
cêrca de dois mil volumes de “bons e bem encadernados livros”. Referindo-se a
essa aquisição, escrevia, mais tarde, o beletrista Benjamin Uma: “Entre os
livros, em boa hora e em condições relativamente vantajosissimas comprados ao
dr. Paes Barreto, além d’uma série preciosa de obras juridicas, em que
hombreiam familiarmente com os mais velhos glosadores, os jurisconsultos
modernos de mais brilhante renome e mais revolucionária dialectica, figuram
varios exemplares que, si não têm aquella “raridade absoluta” de que falam
Cailleau e Duelos no seu “Dictionnaire bibliographique historique et critique
des livres rares”, possuem de certo a “raridade relativa”, dos livros cuja
maioria dosappareceu. Alguns delles são specimens preciosos de afamadas edicões
elzevireanas e aldinas. Outros juntam ao merito de sua raridade o prestigio das
mãos celebres que os manusearam, como se dá com um exemplar dos commentarios ao
codigo justinianeo por Louys Le Caron, o qual pertenceu ao Barão Moerman,
notavel polygrapho hollandez do seculo XVI. Outros, finalmente, já de si muito
valiosos, têm sua importância accrescida por autographos, annotações,
dedicatorias, isto é, inscripções vagas, quasi totalmente delidas pelo tempo,
mas de cujo valor considerabilissimo para os bibliomanos se occupou ha bem
pouco tempo, em artigo fartamente documentado, Louis Barthou: é o que acontece
com um exemplar das “Pandectas Florentinas”, que em todos os seus quatro
volumes exhibe a assignatura ainda bem legivel de Eduardo VI da Inglaterra”.
Benjamin Lima se estendera nessas apreciações em seu relatório de maio
de 1912, ao Governador do Estado, três mêses após ter assumido o cargo de
diretor da Repartição, sucedendo a Bento Aranha. Prometia, a seguir, que,
dentro de dois ou três mêses, estariam concluídos os dois catálogos, cujo plano
organizara e cuja confecção estava pessoalmente dirigindo. E assim explicava o
sistema de catalogação que adotara: “Um delles — o catálogo methodico ou
racional — apresentará o inventário dos livros componentes da Bibliotheca,
agrupados segundo um critério rasoavelmente scientifico, e servirá para
elucidar qualquer pessoa a respeito das obras existentes sobre determinada
matéria. A organização de um catálogo methodico não importa absolutamente na
approximação material das obras affins. Consoante a lição dos melhores
tratadistas, a arrumação dos livros deve subordinar-se ao criterio
apparentemente grosseiro do tamanho e não ao adoptado para os catálogos
scientíficos, já porque assim se aproveitam mais os espaços, e se consegue dar
melhor aspecto ás estantes, já porque, no caso de se acharem os livros
separados por materia, a aggregação e numeração dos recem-adquiridos se tornam
extremamente difficeis, forçando ao emprêgo, sempre embaraçoso e anarchisante,
de series. Assim foi que, apezar de haver observado a má impressão recebida por
mais de um visitante esclarecido, ao vislumbrar um romance entre um tratado de
jurisprudência e uma biblia, não hesitei em conservar os livros na disposiçao
que lhes deu o meu antecessor, o que de resto me permittiu, em vez de repetir
uma tarefa concluida, dar inicio a outros trabalhos necessários. Para o
catalogo alphabetico de autores, em cuja composição, tambem já começada, não
encontrarei felizmente embaraços da natureza dos creados para o methodico pela
difficuldade, muito encarecida por todos os bibliophilos, de classificar certos
livros, está adoptado o systema, pratico por excellencia, de cartões livres
distribuidos, com as devidas indicações, pelas gavetas de um movel adequado, de
conformação semelhante á dos “classeurs”.
Em
tão árdua quão benemérita tarefa, Benjamin Lima tivera um colaborador dedicado:
José Chevalier Carneiro de Almeida, que, funcionário de outra repartição do Estado,
fôra mandado servir na Biblioteca, em março dêsse ano, com o fim exclusivo de
auxiliar os trabalhos de catalogação.
Antônio Bittencourt levara ao fim o seu período de govêrno, deixando a
Biblioteca em excelentes condições de organização e com um aceno de mais de
9.000 volumes catalogados. Com êle, se afastara, por sua vez, da chefia da
Repartição, o dr. Benjamin Lima, que não chegara a levar a têrmo o seu
propósito de estender os serviços da Biblioteca ao andar superior do edifício,
onde pretendia também instalar a Diretoria e a Secretaria da Repartição.
Em janeiro de 1913, Jônatas Pedrosa assumia o
Govêrno do Amazonas e nomeava o dr. Heitor Beltrão para o cargo de Diretor da
Repartição de Estatística, Biblioteca, Arquivo e Numismática. Preparava-se êste
para executar o plano de Benjamin Lima, em relação ao pavimento superior do
edifício, quando, em janeiro de 1914, foi o mesmo ocupado pelo Congresso
Estadual, que ali se instalou provisòriamente, até que fôsse construído o
prédio próprio destinado ao seu funcionamento. E ali ficou até os dias
atuais...
Ao
governador Jônatas Pedrosa coube elaborar mais uma organização dos
departamentos. Deu-se esta com a lei n.° 761, de 7 de outubro de 1914. Arquivo,
Biblioteca e Imprensa Pública, Estatística e Numismática voltaram, por ela, a
constituir uma Repartição, desta vez sob a denominação de Diretoria do Arquivo,
Biblioteca e Imprensa Pública. Para dirigi-la fôra nomeado o bacharel José
Duarte Sobrinho, ficando José Chevalier Carneiro de Almeida efetivado na chefia
da Biblioteca Pública.
Nos
dias atuais, é o Bibliotecário um especialista. Por formação profissional, está
preparado para o exato desempenho de uma relevante missão, tal é a de bem
servir a Inteligência, como guia objetivo nos caminhos da cultura, em tarefas
das mais úteis para a sociedade. Para tanto, através de cursos regulares de
nível universitário, recebe uma especialização completa, adquirindo
conhecimentos de catalogação e classificação de livros, de bibliografia e obras
de referência, de organização e administração de Bibliotecas, bem como se
ilustra em História do Livro e das Bibliotecas: Freqüenta, ainda, cursos
extracurriculares, nos quais estuda especializações várias, dentro da ciência
biblioteconômica.
Equipado, por êsse meio, de conhecimentos
especiais, — organizador e administrador de Bibliotecas, catalogador e
classificador de livros, orientador bibliográfico — é, hoje em dia, o
Bibliotecário, um completo profissional. Isto, porém, não ocorria com o Bibliotecário
do passado. Se não sempre, mas, pelo menos em têrmos gerais, era êste um valor
intelectual, mas lhe faltava preparo profissional. Via de regra erudito,
possuindo conhecimentos de linguas, cultura humanística e sendo, muitos dêles,
autodidatas de estudos bibliográficos, históricos, filológicos e literários, e,
outros, grandes prosadores e poetas, — dignificavam a profissão. Mas, quanto ao
ângulo relacionado com a serventia pública, era precário. O Bibliotecário
antigo, mesmo entre os mais eruditos, não dispunha de conhecimentos
profissionais que lhe permitissem organizar e catalogar a sua Biblioteca, de
modo a poder responder rápida e completamente às consultas que lhe eram
dirigidas. A rigor, êle era um Bibliotecário de utilidade quase que para si
próprio, evidenciando-se como uma peça, entre muitas da maquina social de seu
tempo, máquina essa que não se mona, como hoje se dá com o desenvolvimento dos
serviços ditos sociais, no sentido de servir à coletividade, em cujo seio a
Biblioteca tem hoje função de relêvo.
Êstes
conceitos, emitidos em tais ou parecidas palavras, figuram na tese “O Perfeito
Bibliotecário”, apresentada pelo professor de Biblioteconomia Xavier Placer, no
Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, realizado na cidade do
Recife, em julho de 1954. Placer desenvolve o seu trabalho, estabelecendo um
confronto entre o Bibliotecário antigo, o Bibliotecário moderno e o
Bibliotecário perfeito, para, ao final, fixar as suas considerações sôbre o
tipo ideal dêste último: “Deverá ser então um sábio? Não se exige tanto. Basta
que seja uma inteligência ilustrada, bem informada, um erudito, importando
apenas, neste particular, que tenha exata consciência do caráter extensivo de
seus conhecimentos, em oposição aos que os possuem em profundidade. Para isto:
para não se tomar um pedante. Evidentemente, é uma posição mental de humildade
que se pede. Mas, esta humildade nada tem de humilhante. Primeiro, porque ela
será consciente; segundo, porque a causa final a que serve é a mais nobre
possível: o Saber. Não é isto mesmo que está sintetizado, com latina elegância,
na frase escrita no livro aberto, que é o símbolo do Bibliotecário, chamando-o:
“SERVUS SERVORUM SCIENTIAE?”
***
Na
Biblioteca Pública do Amazonas, José Chevalier Carneiro de Almeida foi o
primeiro Bibliotecário que exerceu o cargo com exata, noção de sua importância
no seio da comunidade. Nêle permaneceu tirante mais de vinte anos, operoso e
eficiente, revelando-se o mais dedicado e o mais erudito dos bibliotecários que
por ali passaram. Dera ao desempenho da função a austereza de um sacerdócio,
mantendo sempre acesa uma envolvente paixão pela bibliofilia. Sua longa
permanência na chefia da Biblioteca, — guardião severo de seus livros,
zelosissimo na conservação dêstes, — fé-la atravessar os anos em perfeita
correspondência com a sua finalidade educativa, muito embora sempre em luta com
a exigüidade das dotações orçamentárias e a indiferença dos governos aos seus
freqüentes apelos.
José
Chevalier representa uma autêntica transição do Bibliotecário antigo para o
Bibliotecário moderno. Tinha o valor cultural daquele e a consciência
profissional dêste, embora não perfeitamente dotado dos conhecimentos
especializados que só mais tarde a instituição de cursos regulares passaria a
difundir, no Brasil. Bibliotecário, guia e educador, transformou a Biblioteca a
seu cargo em um organismo ativo, dando circulação aos livros, determinando
obras de referência e permitindo real aproveitamento aos estudiosos. Fazia dos
livros uma Biblioteca para o público e, dêste, leitores para a Biblioteca
“Sempre foi meu cuidado — expunha ao Governador do Estado — não considerar a
Biblioteca Pública um cárcere de livros, empenhando o melhor dos meus esforços
a fim de que me não seja lançada a pecha, glosada por Voltaire ao se referir a
Bibliotecários que consideram os livros entidade sagradas, veneráveis dentro
das estantes: “Sacrés lis sont, car personne n’y touche”.
Logo
após assumir o cargo, em fins de 1914, o Bibliotecário José Chevalier tratou
inicialmente dos catálogos. Tinha colaborado ativamente nos trabalhos
realizados por Benjamin Lima, em 1912, e se achava assenhoreado do serviço, com
um perfeito conhecimento do acervo bibliográfico que era entregue à sua
direção. Entretanto, ao que se deduz, não lhe satisfazia o processo de
catalogação adotado por Benjamin Lima, nem a disposição dada aos livros, nas
estantes, por Bento Aranha. Procurou, entre os vários sistemas conhecidos e em
uso nas boas bibliotecas européias, um que já tivesse dado provas de
eficiência. Recorreu, então, ao sistema Brown (James Duff Brown), por êste
introduzido na Clerkemwell Library, de Londres, sistema êsse que determinava a
classificação bibliográfica por assuntos, com o uso de decimais, indubitàvelmente
uma adaptação dos de Francis Bacon e W. T. Harris, que também serviram de base
a Dewey, na sua classificação decimal.
A
medida que progredia nos trabalhos do catálogo, José Chevaller ia
providenciando a sua publicação, em pequenas partes, quase diàriamente, no
“Diário Oficial”, o que compreendia uma divulgação das obras existentes, já
catalogadas. E isso, sem descurar das demais obrigações também de natureza
biblioteconômica: ampliava a área destinada aos leitores; estimulava a
freqüência de consulentes, por meio de publicações nos jornais e o
prolongamento dos horários de franquia; auxiliava os leitores em suas
pesquisas; e mantinha ativa correspondência com instituições científicas e
literárias, emprêsas editoras, solicitando remessa de publicações. Seus
relatórios ao Govêrno reclamavam sempre melhores atenções com a Biblioteca,
pedindo recursos para aquisição de livros e de estantes, aumento do pessoal e
outras necessidades mais. Logo no seu primeiro ano de administração (1914-1915)
conseguiu uma freqüência diária em média de 33,9 leitores, média essa que, em
1918 era já de 46,3.
A 14 de
junho de 1916, pelo decreto n.° 1.160, foi dado novo regulamento à Biblioteca,
servindo-se para isso, o Govêrno estadual, de um trabalho elaborado por José
Chevalier. Dos esforços que êste ia desenvolvendo, diz bem um tópico da
mensagem de 10 de julho de 1916, do governador Jônatas Pedrosa, em referência à
Biblioteca: “Continua dirigida pelo illustrissimo senhor dr. José Chevalier a
quem sobram competência e decidida vontade para melhorar esse estabelecimento”.
***
Um
bahiano ilustre, de aguda e humana compreensão do trato da administração
pública, — o médico Pedro de Alcântara Bacelar — assumiu o Govêrno do Estado a
1.° de janeiro de 1917 e soube levar a têrmo uma gestão que se emoldurou de
fundamentais realizações no campo das letras, das artes e das ciências, nela
desabrochando, em florações magníficas, as atividades da Biblioteca Pública do
Amazonas. Logo no seu primeiro ano de govêrno, duas luzes de viva rutilação
cintilaram no céu da intelectualidade amazonense, já de si constelado por
muitos fúlgidos espíritos: o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas e a
Sociedade Amazonense de Homens de Letras, mais tarde Academia Amazonense de Letras.
A primeira, que solenizou sua fundação a 25 de março de 1917, em sessão magna
levada a efeito no salão nobre da Intendência Municipal, vingara de um
movimento que havia muito se robustecia nos propósitos dos aficionados da
história regional, entre os quais Bernardo Ramos, Manuel Francisco Machado
(Barão do Solimões), Henrique Rubim, Inácio Moerbeck, Antônio Bittencourt, João
Batista Faria e Sousa, Achiles Beviláqua, Agnelo Bittencourt, Vivaldo Lima e
José Chevalier. A Sociedade Amazonense de Homens de Letras veio alguns meses
depois, fortalecida pelo intelectualismo criador de dois eminentes beletristas:
Péricles Moraes e Benjainin Lima. A Sociedade teve a sua sessão inaugural a 17
de janeiro de 1918, realizada no salão nobre do pavimento superior da Biblioteca
Pública. Seu principal escôpo, devidamente estatuído, era “o cultivo das letras
pela ação coletiva ou individual de seus membros”. Integravam-na as eminências
literárias da época: Péricles Moraes, Benjamin Lima, Adriano Jorge, Araujo
Filho, Heliodoro Balbi, Araujo Lima, Paulo Eleutério, Alvaro Maia, Raul de
Azevedo, Carlos Eugênio Chauvin, Otávio Sarmento, Odilon Lima, Jorge de Moraes,
Genésio Cavalcante, Jonas da Silva, João Leda, Taumaturgo Vaz, Virgílio
Barbosa, Benjamin de Sousa, Nunes Pereira, Raimundo Monteiro, Gaspar Guimarães,
Mendonça Lima, Aurélio Pinheiro, Coriolano Durand, Dorval Pôrto, Alcides Bahia,
Achiles Beviláqua, Generino Maciel e José Chevalier. Pouco mais de dois anos de
brilhante atividade, a 29 de março de 1920, novamente reunida no pavimento
superior da Biblioteca Pública (sala de sessões da Assembléia Legislativa), a
Sociedade Amazonense de Homens de Letras tomou denominação outra, passando à
nossa hoje Academia Amazonense de Letras.
Homem
de escól era o governador Pedro de Alcântara Bacelar. Dotado de bela formação
democrática, educado e culto, probo e harmonioso no trato pessoal das coisas
públicas e da sociedade a que presidia com as suas excelsas funções,
satisfazia-lhe prestigiar, com o poder que tinha às mãos, as iniciativas
culturais no Estado que dirigia. De seu govêrno recebera, ao nascer, o
Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, apôio ostensivo. Dera o calor
oficial de seu estimulo aos fundadores, concitando-os a levarem a têrmo a nobre
idéia; presidira à sessão de instalação; mandara editar a Revista,
gratuitamente, nas oficinas da Imprensa Pública; e, pelos decretos 1.190 e
1.191, de 10 e 18 de abril de 1917, respectivamente, aprovara os seus estatutos
e concedera, em usufruto, ao Instituto, para servirem-lhe de séde, os prédios
de propriedade do Estado, sitos à Rua de São Vicente (hoje Rua Bernardo Ramos).
Tão ufanosa era a consciência que tinha da importância dessas providências,
que, na primeira mensagem enviada ao Congresso, a 10 de julho de 1917, assim se
pronunciava: “Instituto Geográphico e Histórico do Amazonas. A 25 de Março do
anno corrente, foi fundada em Manáos esta Associação Scientífica, sob os
auspicios do Estado, tendo por fins o estudo, discussão, investigação,
desenvolvimento e vulgarização da Geographia, da Historia e das sciencias a
ellas annexas, nos seus differentes ramos, principios, relações, descobertas,
progressos e applicações, reunindo, concatenando, publicando e archivando
documentos e trabalhos concernentes ao Brasil e especialmente ao Estado do
Amazonas”. E, mais adiante, em austero desafôgo do seu entusiasmo: “O Instituto
se impõe pela probidade e conhecimentos de seu corpo administrativo, sendo de
esperar que seus trabalhos redundem em altos proveitos que compensarão as despesas
feitas para auxilial-o”.
A
Sociedade Amazonense de Homens de Letras, em seus primeiros dias, não foram
menores as mercês deferidas pelo magnânimo Chefe do Estado. Ao ter conhecimento
das diligências para a fundação do silogeu amazonense, Bacelar fêz soprar sôbre
elas os ventos do apôio oficial, prestigiando o culminante movimento de cultura
com as simpatias do seu govêrno. Presidiu-lhe à sessão inaugural, a 17 de
janeiro de 1918; mandou editar, nas oficinas da Imprensa Pública, também gratuitamente,
a “Revista do Norte”, o órgão de publicidade da Sociedade, que mais tarde
passaria à denominação de “Revista da Academia Amazonense de Letras”; e, ainda
por meios outros, fêz chegar o seu estímulo pessoal ao movimento dos imortais
amazonenses. Em joeirado trabalho publicado na edição de setembro de 1955, da
Revista da Academia, intitulado “Benjamin Lima e a Academia”, o laureado
escritor Péricles Moraes nos dá uma interessante narrativa daqueles primeiros
passos da Sociedade Amazonense de Homens de Letras, com êste trecho que bem
expressa o valioso apôio que de Bacelar receberam os fundadores: “Semanas
depois, a arrancada da inteligência congregava em sessão ordinária os trinta
membros convocados, que a ela compareceram sem exceção de um só. Aclamaram
presidente o jornalista Benjamin Lima, que com sua modéstia característica
declinou da honraria, transferindo o cetro cobiçado às mãos de Adriano Jorge,
cuja eloqüência era uma torrente Luminosa. Assinada pelos presentes a ata de
fundação, alguns dias mais tarde, contrariando os máus augurios de
maledicência, inaugurava-se solenemente a S. A. H. L., no pavimento superior do
edifício da Biblioteca Pública, no salão da Assembléia Legislativa do Estado.
Governava o Amazonas, na época, o ilustre bahiano Alcântara Bacelar, que se não
descurou da instituição embrionária e, como um proficiente ginecologista, se
desvelou por sua viabilidade”.
Não
só êsses, mas outros sectores da cultura foram alvo das simpatias e dos
cuidados de Bacelar. A Universidade de Manaus, com Astrolábio Passos na
reitoria, muito prosperou na sua administração. Fundada em 1907, já se
completava, orgânicamente, da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais,
dirigida por Araujo Filho; da Faculdade de Medicina, sob a regência de Araujo
Lima; da Faculdade de Engenharia, com Henrique José Moers na direção; e da
Faculdade de Ciências e Letras, que tinha como diretor Vicente Teles de Sousa
Júnior. A essa instituição de ensino superior assim se referia o Governador, em
sua mensagem de 10 de julho de 1917: “O ensino superior do Amazonas é, como
sabeis, srs. deputados, ministrado pela Universidade de Manáos, instituição que
já por muitos titulas se tornou credora da mais pronunciada sympathia publica e
do melhor apoio do Governo. Entre nós, a Universidade representa o mais alto
gráo de cultura, não só por ser o nosso mais notavel estabelecimento de ensino,
como por incluir no seu illustre corpo docente acatados nomes da Medicina, da
Jurisprudência e da Engenharia no Amazonas. São admiraveis os progressos
conquistados por esse Instituto, que mantém as melhores relações em todo o
mundo culto, onde tem ido a sua revista, portadora dos trabalhos scientificos
dos seus proffessores e do movimento dos seus cursos”.
A
mais longe ia, o ilustre governante amazonense, em seu incentivo aos sodalicios
de cultura, tendo em vista “o desenvolvimento intellectual do meio”. Persuadia
o Barão do Solimões a dar vivo impulso à Associação de Imprensa, restabelecendo
as suas tertúlias literárias, e estimulava os “novos”, que se reuniam no Grêmio
Lítero-Cívico Coelho Neto e no Grêmio Literário Artur Azevedo, nos quais
enfeitavam as nascentes plumagens Júlio Caboclo, Leopoldo Péres, Francisco
Galvão, Vieira de Alencar, Oscar Coelho e muitos outros.
A
gestão Bacelar decorrera numa época de dificuldades econômicas para o Estado,
oriundas da grande guerra européia deflagrada em 1914. O último ano de govêrno
fôra pobre em receita: 9.595:000$000. Diminuta era a exportação, em
conseqüência da falta de transportes. Rareavam cada vez mais os navios
estrangeiros (em 1918, sòmente dois barcos de bandeira estrangeira chegaram até
o pôrto de Manaus). A borracha, cotada a menos de 4$000, havia sido superada
pela das plantações do Oriente, pois, enquanto ali, em 1916, a produção se
elevara a 140.000.000 de quilos, a de tôda a Amazônia, no mesmo período, não
chegara aos quarenta milhões.
Não
obstante, a administração Bacelar ia marcando um período de ordem, de paz e de
operosidade, sem ódios e sem perseguições. Houve reforma do ensino público e
restabelecimento e criação de escolas e grupos escolares no interior e na
capital; equiparou-se o Ginásio Amazonense ao Colégio Pedro II, do Rio;
abriu-se a estrada de rodagem da Colônia Campos Sales; e foi adquirido, pela
quantia de duzentos contos de réis, o imponente palacete que pertencera ao
alemão Waldemar Scholtz, à Rua Municipal, para sede do Govêrno Estadual, sob a
denominação de “Palácio Rio Negro".
A
essa época, a população de Manaus já andava pelos seus 75.000 habitantes
(Recenseamento de 1920) e se ufanava de possuir uma elite esclarecida e de
gostos requintados, que não só cultivava as letras e amava as artes, em todos
os seus fascinantes ângulos, mas, também, penetrava as ciências e acompanhava
as conquistas da civilização nas mais importantes capitais do mundo. Seus
salões de elegante convívio social respiravam a atmosfera do alto mundanismo e
as boas maneiras e o alto sentido de cavalheirismo eram ponto de honra das
famílias que o freqüentavam. Apreciado em Manaus, desde 1904, quando fôra
introduzido pelo empresário Hervert, o cinema já ia dominando nas preferências
da população, através das telas do “Odéon” e do “Politeama”, que exibiam os
filmes de grande êxito na época, como o “Gioconda”, libreto de Gabriel
D’Annunzio, inter-pretado pela famosa atriz russa Helena Makowska, e o
“Stefania”, estrelado pela italiana Gabriela Besanzoni. Por outro lado,
proliferavam os clubes esportivos, que, com seus “matchs” renhidos de
“foot-ball”, no “ground” da floresta, ou no “field” do Bosque Municipal, já
formavam as suas coórtes de torcedores. Eram o Manaus Sporting, o Naval, o Rio
Negro, o Nacional, a União Portuguesa, o Satélite, o Amazonas Sporting Club, o
Luso, o América, o Monte Cristo, além de outros, filiados todos à Liga
Amazonense de Esportes Atléticos. Quanto à imprensa, circulavam o decano
“Diário do Amazonas”, o “Jornal do Comércio”, o “Tempo”, a “Imprensa”, a “Folha
do Povo”, o “Imparcial” e a revista “Cá e Lá”.
No Teatro Amazonas, os últimos dias de 1917 foram
sacudidos pelas exibições da formosa e mundialmente famosa transformista
italiana Fátima Miris, que arrebatava os aplausos da elegante e culta platéia
que tôdas as noites superlotava a majestosa casa de espetáculos.
***
Figura de grande expressividade na sua época, intelectual dos mais
festejados, poeta, jornalista, educador e homem de sociedade, José Chevalier
Carneiro de Almeida participava de tôdas as iniciativas que respiravam
inteligência e cultura: fundador do Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas e da Sociedade de Homens de Letras, mourejava na imprensa e dirigia,
ainda, o Instituto Universitário Amazonense, modelar estabelecimento de ensino
que tinha as preferências da juventude estudiosa do Amazonas. Em suas
atividades de Bibliotecário, pondo a serviço do cargo a sua cultura, a sua
dedicação e a sua ciosa paixão pelos livros, recebi; animoso apôio do
governador Alcântara Bacelar, que sempre olhava com um carinho todo especial
para os progressos da Biblioteca Pública: “A Biblioteca Pública — dizia o Chefe
do Executivo em sua mensagem de 10 de julho de 1917 — se encontra em situação
elogiavel, mantendo activa correspondencia com os centros bibliotechnicos
nacionaes e estrangeiros. Devido aos esforços do Sr. Dr. José Chevalier
Carneiro D’Almeida, actual Bibliothecario, está quasi ultimada a publicação do
Catalogo, por autores, feita a remodelação pelos assumptos, alphabeticamente,
consoante o systema de James Brown, da Bibliotheca Publica de Clerkemwell, de
Londres. Resente-se tambem a Bibliotheca da falta de estantes, sendo agradavel
mencionar que é consideravel o augmento de frequencia no anno fluente. A sala
de leitura foi ampliada, recebendo a Bibliotheca valiosas offertas”.
Bacelar
não ocultava o interêsse de seu govêrno por tudo que dissesse respeito ao
desenvolvimento da Biblioteca. Nunca se furtava a retransmitir os apelos de
Chevalier, quanto a verbas para aquisição de livros, para o crescimento das
coleções. Em seu pronunciamento de 10 de julho de 1918, perante o Legislativo,
referia: “Na Bibliotheca Pública, a frequência de visitantes augmentou
extraordinariamente, elevando-se a 13.115 o número d’aquelles. A collecção de
livros foi augmentada de 325 volumes, doados por diversas pessoas, instituições
e redacções, tendo sido, por ordem d’este Governo, offertados 173 exemplares de
obras em duplicata, muitas das quaes servirão de subsidio á elaboração da
historia continental da America, geral do Brasil e especial do Amazonas. Solicita
o Sr. Dr. Chevalier uma dotação orçamentaria de 5:000$000 para a acquisição de
livros, cuja falta é assaz sensivel”. Um ano decorrido, Bacelar já se mostrava
orgulhoso da Biblioteca amazonense, de modo que assim se expressava: “Da
Biblioteca Pública tenho a dizer-vos que é um dos justos motivos de orgulho do
nosso Estado, que se pode gabar de possuir, no genero, uma das melhores
livrarias do Paiz, pois, á excepção da Bibliotheca Nacional e comparativamente
ás do Pará, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Espirito-Santo, Rio e São Paulo,
nenhuma se avantaja á nossa, quer na instalação, quer na organização interna”.
Esse
bahiano ilustre, compreensivo e bom, amante do progresso, da ordem, da paz e do
mais cordial entendimento entre os homens e os povos, deixou o Govêrno a 1.° de
janeiro de 1921. Seus altos propósitos relativamente à Biblioteca Pública,
revelou-os, êle, ainda governante, em sua derradeira mensagem ao Congresso: “A
Bibliotheca Pública deveria, si as possibilidades economicas do Estado o permittissem,
constituir departamento independente e autonomo da Imprensa Pública, com um
Director especial, que seria de nomeação e confiança do Governador.
Infelizmente assim não pôde ser, pelo menos emquanto perdurar a precariedade da
situação actual, sendo, entretanto, este assumpto de todo o ponto de vista
digno da esclarecida attenção dos que, como vós, se interessam pelo maior
progresso do Amazonas.
***
Em
1921, teve efeito outra reorganização da Repartição do Arquivo, Biblioteca e
Imprensa Pública, com o decreto n.° 1.418, de 24 de outubro daquele ano, em
nada alterando os serviços da Biblioteca, particularmente. Nesse mesmo ano, o
governador Rêgo Monteiro dava, da Biblioteca, êste informe ao Legislativo:
...“esse departamento do serviço público tem tido uma frequência que prova a
sua utilidade”.
Nova
reforma dos serviços afetos ao agrupamento das repartições veio a ocorrer em
1925. Deu-se esta com o decreto n.° 16, de 30 de janeiro dêsse ano, visando
mais a parte referente à Imprensa Pública.
Em
março de 1925, o Bibliotecário José Chevalier estabeleceu o expediente noturno.
O Salão de Leitura passou, então, a ser franqueado ao público em três horários:
das 8 às 11, das 14 às 17 e das 19 às 21 horas. Logo nesse mês, houve um
aumento, na freqüência mensal, de 200 leitores. Nos meses seguintes, o registro
passou a acusar, regularmente, no horário noturno, a presença de leitores em
número superior a 400.
Contudo, o número de volumes quase não crescia. Havia muito, o acervo
bibliográfico vinha se nutrindo de pequenas doações provindas de particulares e
das remessas de jornais, revistas e publicações oficiais, que eram feitas à
Biblioteca. Exclusivamente por falta de dotação orçamentária especifica, havia
muito não se comprava um livro. As concessões de verbas, com êsse fim, foram
sustadas em 1914, quando ocorrera a última consignação, na quantia de
2:000$000. Numa retrospecção a orçamentos anteriores a êsse ano, são sempre
encontradas dotações destinadas a aquisição de livros para a Biblioteca, como a
seguir fica por alguns demonstrado: em 1911, 8:000$; 1908, 8:000$; 1906,
15:000$; 1901, 15:000$; 1899, 20:000$; 1896, 20:000$; 1884, 5:000$; 1883, (ano
da inauguração), 6:000$. A partir de 1914, são incessantes os apelos de Chevalier.
As mensagens dos governadores, embora friamente, transmitem êsses apelos ao
Legislativo, mas as leis não consignam verba alguma para a compra de livros. O
governador Bacelar referia em 1918: “Solicita o sr. Diretor uma dotação
orçamentária de 5:000$ para a acquisição de livros, cuja falta é assaz
sensivel”; e em 1919: “— é necessário não adiar mais a concessão duma dotação
orçamentária, ao menos de dez contos de réis, já pedido o anno passado, afim de
empregal-a na acquisição de novas colleções de livros modernos, de sciencia e
litteratura, dos quaes se ressente esta secção”. Dizia Rêgo Monteiro, em 1921:
“Esse relatório é uma série de increpações contra o poder publico, que sempre
se conservou indifferente ás suggestôes do dito Bibliothecário em relação ás
medidas destinadas a erguerem os creditos da alludida repartição”. Em 1925,
desculpava-se o Interventor Alfredo Sá: “ — As verbas orçamentarias da
repartição, exiguas para treis serviços perfeitamente distintos, reunidos num
so departamento, como são os do Archivo, Bibiotheca e Imprensa Pública, não
permittiram ao meu governo augmentasse o patrimonio da Bibiotheca, adquirindo
com frequencia novos livros”. Em 1927, vinte obras foram adquiridas, por
autorização do governador, em exercício, Antônio Monteiro de Sousa, que assim
se pronunciava, em mensagem solicitando verbas para aquisição de livros: “— A
directoria insiste na dotação de meios que a habilitem a adquirir obras
modernas, o que é de indiscutível necessidade afim de evitar o quasi estacionamento
a que ha alguns annos está relegado o acervo da nossa Bibliotheca, a mercê,
como se encontra, de meras doações”. No ano seguinte, o governador Efigênio de
Sales autorizou a compra de cêrca de 200 volumes: “Não tendo permittido a
situação financeira do Estado verbas orçamentarias para a acquisição de livros
novos, destinados a actualizar as suas valiosas collecções, pôde entretanto, o
governo, economizando nas verbas de custeio da repartição, adquirir cerca de
200 volumes das obras mais reclamadas, entre as quaes os 65 volumes da notavel
encyclopedia “Espasa”, de fama hoje universal”.
Em
dezembro de 1927, o Bibliotecário José Chevalier foi designado para dirigir a
Repartição do Arquivo, Biblioteca e Imprensa Oficial. Antes, porém, ensaiara
introduzir, nos serviços de catalogação da Biblioteca, o sistema decimal de
Dewey, não logrando, entretanto, realizar mais que simples ordenação para mapas
estatísticos.
Chevalier voltou, em 1930, ao exercício de seu cargo efetivo de
Bibliotecário, e, daí por diante, várias vêzes dêle se ausentara para assumir a
direção da Repartição, até 1936, quando se aposentou, retirando-se da vida
pública cheio de desenganos e de sonhos fenecidos, por lhe não ter sido
possível, dada a constante penúria de recursos materiais, colocar a Biblioteca
Pública do Amazonas à altura dos seus anelos, equipada de servidores
competentes, engrandecida em seu acervo bibliográfico e em suas instalações,
suficientemente organizada para, de modo infalível, desempenhar a missão que verdadeiramente
lhe cumpria no aprimoramento cultural do povo amazonense. Fêz muito, não
obstante. Fêz tudo o que dependia de sua operosidade, de sua dedicação, de sua
consciência de pedagogo emérito, de seu espírito arejado, de seu caráter reto,
de sua bem. alicerçada cultura.
Bibliotecário, dignificou a profissão, amando os livros, encaminhando os
leitores, difundindo no máximo os conhecimentos humanos que, em volumes
preciosos, estavam confiados à sua guarda. Bem credenciado está o seu nome para
figurar entre os dos grandes precursores da biblioteconomia no Brasil, ao lado
de João Saldanha da Gama, Ramiz Galvão, Capistrano de Abreu, João Ribeiro,
Manuel Cicero Peregrino e Constâncio Alves, que, em épocas diversas do passado,
tanto honraram e dignificaram as funções de Bibliotecário e hoje são
reverenciados na admiração e no respeito dos modernos profissionais.
José Chevaller Carneiro de Almeida, como quêles,
foi um autêntico SERVUS SERVORUM SCIENTIAE.
O
surto revolucionário triunfante, que transmudou os rumos da política
brasileira, em 1930, encontrou a Biblioteca Pública do Amazonas em fase de
débil atividade, com seus 15.000 volumes pràticamente sem consulentes. Durante
o ano de 1929, somara em 4.095 o número de pessoas que a tinham visitado (755
consultaram obras literárias e científicas e 3.340 leram jornais, — dizem as
estatísticas). O registro de livros paralizara a sua publicação em 1918 e, daí
por diante, as obras entradas não haviam sido mais catalogadas. Em 1925,
elaborou-se um suplemento do antigo catálogo, mas também não foi além do
registro de 266 obras.
Os
Interventores Federais, que se sucederam no Govêrno do Estado, de outubro de
1930 a fevereiro de 1935, não foram pródigos em cuidados com a Biblioteca, que,
assim, à margem das agitações políticas e das reformas administrativas ditadas
pelo novo espírito revolucionário, atravessou o quinqüênio entregue ao seu
próprio destino, aquietada na mesma situação de lento caminhar em que se vinha
conduzindo pelo último decênio da chamada “República Velha”.
A um
capitão de altivos brios, mãos honradas e enérgico espírito de comandante e
governante — Nelson de Melo — coube levar ao fim êsse período de governos
discricionários no Estado, entregando o poder ao Governador constitucionalmente
investido no cargo, após dezesseis meses de uma gestão que será sempre
recordada como autêntico modêlo de moralidade administrativa e absoluta
seriedade da função pública. Um dos ângulos de muita luminosidade da gestão
Nelson de Melo, foi o em que se alteou o meio cultural. Recrutando expoentes da
intelectualidade amazonense para a direção dos setores educacionais, o militar
ilustre logo de início deu uma pública demonstração dos propósitos que o
animavam, em relação aos valores culturais da terra. Prestigiou a Academia
Amazonense de Letras, doando-lhe um teto próprio e proporcionando-lhe elementos
para a publicação da Revista; teve gestos de carinho com o Instituto Geográfico
e Histórico do Amazonas; e mandou equipar de bons livros a Biblioteca Pública
do Amazonas, determinando, ainda, a melhoria de suas instalações, para o
confôrto dos leitores.
Teve
início, assim, na gestão Nelson de Melo, um movimento renovador das atividades
da Biblioteca Pública. Deixando êle o Govêrno a 4 de fevereiro de 1935, quando
embarcou para a capital do País, a fim de tratar de sua matrícula na Escola
Superior de Guerra, a 3 de maio do mesmo ano, o governador constitucional
Alvaro Maia assim podia dizer, da Biblioteca Pública, em sua mensagem à
Assembléia Legislativa: — “Em relação à população de Manáos, a frequência da
Biblioteca Pública apresenta admirável proporção de estudiosos, magnífica média
de interessados pelos trabalhos de cultura. Bastante significativo é o número
de pessoas que visitaram o nosso salão de leitura pública: 14.091 estudiosos
manusearam livros, consultaram obras, extrairam notas. Para o seu patrimônio
foram adquiridas as seguintes obras: 38 por compra, 8 por permuta e 40 por
doação. Impressos recebidos: 12.616 jornaes e 2.312 revistas nacionaes e
estrangeiras. Encadernação: 84 volumes. Sob a denominação de “Estante Tenreiro
Aranha” está sendo organizada uma collecção de livros referentes a assumptos
amazônicos, que já conta com 204 volumes encadernados”.
Com
Alvaro Maia no Govêrno, a Biblioteca se firmou num magnífico surto de
prosperidade, passando a crescer consideràvelmente os registros de freqüência
de leitores, em razão de uma intensa campanha de publicidade feita pelo novo
Bibliotecário-Chefe, autor dêstes informes, promovido ao cargo por ato dêsse
governante. Assim, em 1939, Alvaro Maia, já interventor Federal desde novembro de
1937, fazia esta referência em uma exposição ao Presidente da República:
“Opulentou-se o catálogo da Biblioteca, que é inegávelmente preciosa em livros
antigos, com a compra de cento e oito obras modernas, às quais se juntaram
sessenta e seis, espontâneamente oferecidas por particulares. Com anteriores
aquisições, pode a Biblioteca apresentar agora em seus catálogos trezentas e
tres obras de autores contemporâneos sôbre varios assuntos”.
Corresponde a essa época o início de um intenso
movimento biblioteconômico na capital da República e em São Paulo, no sentido
de preparar pessoal técnico para as bibliotecas brasileiras, dando-se a estas
novos métodos de organização. Em São Paulo, é criada a Escola de
Biblioteconomia, do Departamento de Cultura da Prefeitura, a qual, em 1940, se
transforma na Escola de Biblioteconomia anexa à Escola Livre de Sociologia e
Política. No Rio, o DASP organiza a carreira de Bibliotecário do serviço
público federal e funda um Curso de Biblioteconomia, intensivo, para a formação
de bibliotecários especializados. Passa por uma grande reforma o Curso de
Biblioteconomia da Biblioteca Nacional e se organiza, nesta, a Seção de
Referência. É criado, pelo Govêrno Federal, o Instituto Nacional do Livro, que
institui o serviço de registro das bibliotecas brasileiras e estabelece as
instruções para a sua organização. Inaugura-se a Biblioteca Modêlo do DASP, que
dá o padrão dos novos métodos de serviço. Turmas de bibliotecários
especializados vão se graduando, anualmente, nos cursos do Rio e de São Paulo,
passando ao exercício da profissão nas bibliotecas e a estas imprimindo uma
orientação nova nos métodos de organização e de classificação bibliográfica,
introduzindo os sistemas de referência, os serviços de empréstimo, as
exposições de livros, a publicidade, etc., e tomando, enfim, a biblioteca um
corpo ativo e eficiente, de necessidade não só para o pesquisador e o leitor
diletante, mas também para os serviços de consulta do homem de laboratório, das
fábricas, do comércio, dos quartéis, de todos os ângulos, em suma, das
atividades sociais.
Do
entusiasmo pelas realizações promovidas, em todo o País, pelos bibliotecários
diplomados, formou-se uma sólida consciência biblioteconômica, unindo a classe
por um amplo e sadio ideal: a Biblioteca! Através de uma vasta bibliografia
sôbre o assunto, de estudos penetrantes, cursos extensivos, palestras,
conferências, publicações de artigos em jornais e revistas, edições de revistas
especializadas e de livros, estágios nos grandes centros biblioteconômicos dos
Estados Unidos e da Europa, congressos, etc., chegaram os bibliotecários
brasileiros aos dias atuais com um opulento aceno de realizações que firmaram a
classe, com prestígio e conceito, na consciência cultural do País.
No
Amazonas, em 1941, sentindo a necessidade de atualizar os serviços da
Biblioteca Pública, o Govêrno Estadual designou o seu Bibliotecário-Chefe para
fazer o Curso de Biblioteconomia do DASP, a fim de poder entrosar a Biblioteca
no ritmo renovador que já se vinha processando em todo o País. No ano de 1943,
ocorreu uma reforma: com a criação do Departamento Estadual de Imprensa e
Propaganda, ficando a êste subordinada a Imprensa Pública, foi extinta a antiga
Diretoria do Arquivo, Biblioteca e Imprensa Pública; e, pelo decreto-lei n.°
988, de 31 de março, constituída a Diretoria do Arquivo e Biblioteca Pública.
Então, após trinta anos, voltou a Biblioteca amazonense a receber dotações
orçamentárias para aquisição de livros, o que nunca mais sofreu interrupção e
foi se elevando, até os dias atuais. O Bibliotecário-Chefe, autor dêstes
informes, foi nomeado para o cargo de Diretor, com o seguinte quadro de
auxiliares, na Biblioteca: 1 Bibliotecário-Chefe; 3 Bibliotecários; 1
datilógrafo.
Com
essa reorganização dos quadros e dotações de verbas próprias, uma nova
orientação foi possível imprimir-se nos serviços da Biblioteca, inaugurando-se
outros, inclusive a Biblioteca Infantil. Dos trabalhos realizados no período
1942-44, informava o Diretor, em relatório ao Govêrno: “A secção de literatura
infantil é, sem dúvida, a mais frequentada. A Biblioteca dispõe presentemente
de 254 volumes de livros para as crianças, destacando-se o “Tesouro da
Juventude” e a coleção “Anchieta”. Além dêsses, inúmeras revistas infantis são
postas à disposição dos pequenos leitores, aos quais uma bibliotecária,
destacada especialmente, presta assistência, orientando-os na leitura,
indicando-lhes as obras recreativas e instrutivas”.
“Por
meio de uma campanha intensiva, os operários estão sendo convocados a
frequentar as coleções da Biblioteca. Cartazes pelas usinas e fábricas,
publicações nos jornais e no rádio indicam-lhes os caminhos do livro e da
leitura, enquanto as coleções da Biblioteca se abastecem de obras de assuntos
especializados, de manuais técnicos, interessando tôdas as profissões, tôdas as
artes, tôdas as ciências”.
“O
Serviço de Referência organiza relações de obras de interêsse para esta ou
aquela classe, esta ou aquela profissão, e as remete às associações, aos institutos,
às escolas, a fim de que todos conheçam os livros de que ela dispõe para seus
estudos e consultas”.
“Mensalmente, um “Boletim de Informações” e distribuído para os jornais
e bibliotecas nacionais e do estrangeiro, dizendo do movimento da Biblioteca
Pública do Amazonas, suas reallzações no campo da Bibioteconomia, a frequência
nos seus diversos ângulos, a natureza das consultas, os autores mais
procurados, as doações, as obras novas entradas, classificadas e catalogadas. O
“Boletim de Informações” já mereceu a atenção do Diretor da Biblioteca Modêlo
do DASP, que, em carta a esta Diretoria, enviou “sinceras felicitações pelo seu
explêndido trabalho na Biblioteca Pública do Amazonas”.
Fôra,
deveras, extraordinário o aumento da freqüência aos salões de leitura. De junho
de 1943 a maio de 1944, a Biblioteca foi freqüentada por 34.500 pessoas, que
fizeram 35.856 requisições de obras.
Em
sua exposição de julho de 1944, ao Presidente da República, o interventor
Alvaro Maia assim se manifestou sôbre a Biblioteca: “A Interventoria Federal
comissionou o senhor Genesino Braga, Diretor da Biblioteca Pública, para
estudar essa especialização no Rio de Janeiro. Os 25.000 volumes da nossa
Biblioteca vêm tendo uma grande consulta: de Julho de 1943 a maio de 1944,
entraram para as suas estantes 6.982 obras novas; eleva-se a 1.196 o número de
livros modernos, adquiridos por compra ou oferta”.
“Graças à renovação da Biblioteca, os seus salões de leitura recebem a
visita de pessoas de tôdas as classes sociais, desde o estudante primário até o
magistrado, desde o aprendiz de artífice até o professor, desde o operário até
o militar e o sacerdote. Elevado número de senhoras consultam as obras de
enfermagem, artes domésticas, trabalhos de escritórios e literatura em geral”.
“A
comparação dos quadros atinentes a êste capítulo representa um elogio para o
nosso povo, que, dia a dia, aprimora a sua cultura, numa região ainda nova e
numa época em que tôdas as atenções convergem para a produção de matérias
primas. É interessante o número avultado de estudantes, professores,
comerciários, que procuram os salões da Biblioteca”.
A
partir de 1943, a Biblioteca passou a editar, mensalmente, o seu “Boletim de
Informações”, com ampla distribuição em todo o País. O “Boletim” trazia uma
resenha mensal das atividades da Biblioteca: dias e horas de franquia;
freqüência de leitores e respectivas classificações por sexo, idade e
nacionalidade; movimento de consultas e requisições de obras, discriminadas por
classes e línguas; autores mais consultados; doações; serviços de referência;
número de livros catalogados; aquisição de livros, etc.
Em
1944, registrou-se uma freqüência de 37.038 leitores, que fizeram 89.188
requisições. Foram recebidos, por meios diversos, 856 volumes de livros, 217 de
folhetos, 3.036 peças de jornais e 1.876 de revistas.
O ano
de 1945 encontrou a Biblioteca Pública do Amazonas com um acervo superior a
30.000 volumes de livros.
Sempre sangra e chora o coração da gente, tôda a vez que é memorada a
histórica cena confrangente: um céu de teto esfumarado e o fogo a devorar a
Biblioteca de Alexandria. Ficam a arder, nas fráguas da tristeza e da paixão
que a alma oprimem, as chamas tragadoras dos setecentos mil volumes de
manuscritos gregos, hebraicos e egípcios que Calímaco de Cireno e Aristôfanes
de Bizâncio com desvêlo e amor catalogaram, para o patrimônio de conhecimentos
dos séculos a dentro. No odor queimado dos papiros e dos pergaminhos, não quis
haurir, o incendiário Anrú-Ben-El-Assi, na sua cruel insensibilidade, a
filtração dos aromas de sabedoria que em fumo o Livro conduziria, por todos os
ventos, para a glória dos séculos. Jamais poderia conceber, o lugar-tenente do
califa Omar, que aquelas cinzas, aquecidas as termas públicas de Alexandria,
ali ficavam com os rescaldos das grandes idéias e dos pensamentos que voltariam
a arder, nas idades futuras, iluminando as sombras dos grandes destinos, sob o
anátema dos homens e dos deuses.
A augusta crepitação daquelas chamas
produziria a claridade radiosa que se perpetuada no porvir da genial criação do
homem: o Livro! Centelhas lucifúlgures iriam abrir clarões no heroismo
silencioso das invenções novas e dos fundamentadores de doutrinas e
apostolados. Do fumo dos volumina de papiro e pergaminho sairia a forma do
códice; surgiriam os quaterni; multiplicar-se-iam os copistas, na sua
hierarquia de servi litteratti; viriam os caligrafos no silêncio dos mosteiros;
proliferariam miniaturistas e iluminuristas, no uso encantador do graphium e do
minium. Aquelas faúlhas cintilariam nos Van Eick, em suas fórmulas específicas
da tinta de impressão; brilhariam em Alberto Pfister e Durero, com a
xilografia; e se fariam sol em Mogúncia, na revelação de Guttemberg.
O
Livro, enfim, na sua presença material, vindo da tipografia com os incunábulos,
consolidado na pertinácia de Fust e Schoeffer, aformoseado na arte de Manucchio
e no requintado bom gôsto de Plantin, dos Elzeviers, de Baskerville, de Didot.
O Livro, enfim, como nô-lo temos, agora, nas prateleiras das estantes, nas
Bibliotecas, nos gabinetes, nas escolas, nos conventos, nas fábricas, nos
altares, em nossas mãos, deliciando-nos, instruindo-nos, transmitindo-nos
idéias e ensinamentos. Excelsa criação do homem, como a êste, fôra-lhe dado,
também, possuir um corpo e uma alma O volume é a matéria palpável que cai sôbre
o sentido; a alma é o pensamento do autor materializado em Letras. Engendrado
pelo desejo, inato em todo o sêr racional, de proclamar seus sentimentos, suas
invenções, seus progressos, e transmiti-los aos descendentes, é o Livro a obra
mais perfeita do homem. Já dissera Voltaire, nestes ou em semelhantes têrmos:
“Todo o mundo civilizado se governa por uns quantos livros: a Biblia, o
Alcorão, os Vedas, as obras de Confúcio e de Zoroastro; e a alma, o corpo, a
saúde, a liberdade, o movimento, se submetem e dependem daquelas grandes obras;
e das de Hipócrates e seus descendentes e dos Códigos civis e penais”
É o
livro o amigo verdadeiro que nos aguarda, a tôdas as horas, de braços abertos e
sem impaciência. Entre as coisas humanas, é sempre o mesmo em essência,
presença e potência. Não se esconde, não dissimula, não troca nem embaralha as
ideias que contém. Em Chasseveux, no “Catalogus Gloriae Mundi”, encontrou
Eurico de Góis esta formosa exortação: “O Livro é a luz do coração, o espêlho
do corpo, guia das virtudes, repelidor do vicio. É a coroa dos prudentes, o
companheiro de viagem, o amigo caseiro, o entretenedor do enfêrmo. É o colega e
conselheiro de quem governa, o cofre de perfumes da eloquência, o pomar cheio
de frutos, o vergel esmaltado de flores, o celeiro da memória, a vida da
recordação. Quando chamado, atende. Apressa-se em cumprir as ordens recebidas.
Está sempre a postos. Jamais recusa complacência. Interrogado, responde logo. Revela o que se
acha oculto, esclarece o que se manifesta obscuro, torna certo o que se
apresenta confuso. Protege contra a má sorte, regula a prosperidade, aumenta os
cabedais, evita os gastos”.
Naquela obra notável que intitulou “El Camiño de Paros”, José Henrique
Rodó bem houve introduzir êstes perfodos maravilhosos: “Há o Livro que inspira
revolução; que orienta e agita as multidões; que debela as tiranias; que
denuncia misérias escondidas; que desentranha recônditos tesouros; que aviventa
fantasmas e acorda saudades; que levanta sôbre os altares deuses ignotos ou
esquecidos. Há o Livro que, sumido, como um gigante em letargo, sob o pó dos
séculos, se levanta um dia à luz do sol e, com os golpes de sua dava, abala e
faz estremecer o mundo. Há o Livro que prenuncia o porvir — a idéia genetriz do
que há de transformar-se em vida humana, em movimento, em côr e em mármore. Há
o Livro que caminha a par das civilizações — imortalmente eficaz, mas nunca
igual a si mesmo; êsse Livro ao qual se poderia perguntar: “Que sentirão,
lendo-te, os homens dos tempos futuros? Que sentirão êles diferentemente de
nós, diante do sol-posto ou em face da sublimidade do mar e da montanha?” Há o
Livro cujo nome permanece impressivo e atraente como bandeira a tremular nas
alturas, quando já poucos restam que lhe guardam a lembrança. Há o Livro que
salva um povo do olvido, que lhe defende a independência, que lhe assegura a
unidade no tempo e no espaço. O Livro milagroso que multiplica os peixes na
rêde do mísero pescador; que acalenta os doces sonhos, igualmente gratos aos
príncipes e aos operários, suave, balsâmico elemento, de que não prescinde a
própria ordem do universo. Existe, porém, um outro gênero de livros, no qual
êsse frágil e maravilhoso instrumento de energia se manifesta pela realidade de
sua ação em todos os múltiplos aspectos da vida: é o livro modelador de
caracteres, artífice da vontade, criador de santos e de heróis; aquêle que
toma, como um bloco de cêra, uma ou mais gerações humanas e, com destreza
plasmante, as manipula e modela, entregando-as aos caminhos do mundo, cercadas
com o seu sêlo inconfundível e indelevel”.
O
Livro está ligado; por sua própria etimologia, biblos, bíblia, à Suprema
Inteligência. A significação de leitura pacifica no “Alcorão” a predestinação
da lei de Mafoma. O “Dom Quíxote” é a expressão sintética e eloqüentíssima de
noventa milhões de homens repartidos pelo mundo, retrato fiel de tôdas as
ambições, de todos os sonhos e anelos da humanidade, do espírito e do corpo, do
sangue e da essência, da justiça e dos desejos nunca satisfeitos do cérebro e
do coração do homem, através dos tempos.
O
Livro é um deus. Assim o exaltou Alexandre da Macedônia1 quando, em momento
maior da sua glória, fêz erigir um templo para guardar a “Ilíada”. E há muito
de amor religioso no califa Ahmed-Ben-Ali-Cumi, mandando levantar o Mirab de
Córdova, como um estôjo para o “Alcorão”.
Nas
horas boas, nas horas más, nas nossas horas de funda angústia e depressão, não
há companheiro melhor do que o Livro: um livro sério que ilumine, como o
Evangelho ou a Imitação de Cristo; que dê confôrto e consolação, como os
“Pensamentos” de Marco Aurélio ou de Pascal; que convide à reflexão, como o
“Elogio da Loucura”, de Erasmo; que elimine mágoas e tristezas e mande sorrir,
como o “Gil Blas”, de Lesage, ou a trilogia do “Tartarin”, de Alphonse Daudet.
Eis
os rolos de fumo cinza que fizeram cobrir o céu de Alexandria, soprados pelos
ventos sagrados do Nilo, para a glorificação dos séculos vindouros, em todos os
pontos da terra. Os “Pinakes” de Calímaco tiveram os milagres da reprodução,
cresceram na multiplicidade dos textos de sabedoria e deram grandeza aos homens
e com êstes se altearam, reveladores da Ciência, da Beleza, da Poesia e do
Amor.
***
Como
no céu de Alexandria, no Século 641, o céu de Manaus também se cobriu de
grossos rolos de fumo, na madrugada de 22 de agôsto de 1945. Fragoroso
incêndio, provindo, ao que se supõe, de uma descarga elétrica no velho quadro
de eletricidade existente no andar superior do edifício, onde se achavam, em
depósito, os pertences da Assembléia Legislativa, então sem funcionamento, —
destruiu por completo todo o patrimônio livresco, móveis e demais utensílios da
Biblioteca Pública do Amazonas, que tinha as suas instalações no pavimento
térreo, num salão de área idêntica e precisamente por baixo do compartimento
sinistrado.
Noite
tempestuosa, com tôda a intensidade de águas, faiscas e trovões que
caracterizam, no Amazonas, as chuvas de agôsto, o fogo pôde progredir à
vontade, no salão hermêticamente fechado, só vindo a se fazer denunciar, para o
exterior, já quase manhã, quando o soalho de madeira ruiu em labaredas
crepitantes sôbre o salão da Biblioteca, no piso inferior.
Dado
o alarma, não logrou êste as providências que se esperavam, no sentido da
imediata debelação do fogo: não havia água nas bocas do incêndio próximas ao
local; e os bombeiros, desapressados, não dispunham do mais primário material
para o combate a incêndio de tão vastas proporções.
Tôda
a Biblioteca foi destruída, não se conseguindo salvar sequer uma página de
livro; e tôda a ala direita do majestoso edifício veio ao chão, da cobertura ao
soalho do piso inferior e dêste à laje do porão, ficando de pé apenas as
grossas paredes laterais, na sua obra de alvenaria, com grandes fendas de alto
a baixo.
Das
esplêndidas coleções de obras, não mais que 60 volumes escaparam ao sinistro; e
isso porque se achavam em um “stand” que a direção da Biblioteca organizara, a
título de propaganda do livro e da leitura, em uma Exposição-Feira que havia
sido inaugurada, dias antes, nos terrenos onde hoje se encontra edificada a
sede da Capitania dos Portos.
Entre os livros que, pelo motivo exposto, ficaram a
salvo do pavoroso sinistro, figuram: um missal manuscrito e iluminado a côres
em pergaminho, obra suposta dos copistas do mosteiro de Monte Cassino; e os
três tomos do in-fólio de Debret: “Voyage Pittoresque et Historique au Brésil”.
Paris. 1934. Firmin Didot Fréres, imprimeurs de L’Institut de France.
A
Biblioteca é a fonte de sabedoria onde se dessedenta a cultura de uma nação. A
cultura é a vida e a liberdade de um povo. Sem Biblioteca, não há cultura; sem
cultura, não há liberdade; sem liberdade, não há vida: — há existência
estagnada, desprovida de ideal, de arte, de movimento, de marcha evolutiva,
expansão e criação. O livro é a mais forte arma, segura e infalível, que
conhece e de que dispõe o homem para tornar-se e manter-se livre. “O livro é o
instrumento civilizador por excelência” — já escrevia o erudito Alfred
Mêziéres, do Instituto de França. E a Biblioteca é a morada fixa dos livros.
Em
todos os tempos, valiosíssima tem sido a função da Biblioteca na obra
educacional; ao adquirir, porém, a feição ativa que hoje a caracteriza, ainda
mais preponderante se tornou a ação que ela desenvolve no seio da sociedade.
Como centro de estudos e de pesquisas, como laboratório indispensável a
qualquer emprêsa intelectual e como fonte organizada de informações, distende
sua influência direta a tôdas as realizações do espírito humano. Onde, com
resultados mais positivos, procurar elementos elucidativos para a elaboração de
trabalhos científicos, técnicos e literários? Onde, com proveito e justeza,
obter informações copiosas sôbre um pais, os costumes, as crenças e os ideais
de um povo? Onde, dispondo de material bibliográfico abundante, o industrial e
o comerciante, o magistrado e o educador, o artista e o soldado, o operário e o
estudante, o agricultor e o homem do mar, o funcionário, o botânico e o
geólogo, o historiador, o sociólogo e ficcionista, — onde encontrarem todos
êles subsídios sôbre as mais recentes descobertas, os mais completos tratados,
as mais corretas instruções para o desempenho cabal e eficiente de suas
pesquisas, de seus estudos, de seus trabalhos, de seus empreendimentos e das
tarefas profissionais, — onde, senão na Biblioteca, nas coleções gerais ou
especializadas que possam oferecer todo o material necessário a êsses estudos,
cuidadosa e tècnicamente classificado e catalogado?
Uma
comunidade sem Biblioteca não subsiste aos ideais de progresso e de expansão
cultural de seu povo. Um povo sem Biblioteca, sem o manancial de cultura de
seus homens, não pode se conduzir de passo certo na grande marcha da evolução,
nem empunhar a auriflama de uma civilização nobre e altruística, impregnada de
reflexos de fôrça e de grandeza.
“Criar uma Biblioteca numa cidade — dizia Cícero — é dotá-la de alma.
***
Naquela manhã úmida de agôsto de 1945, decorridos setenta e quatro anos,
Manaus era novamente uma cidade sem Biblioteca. A importância que a esta já
consagrava o povo amazonense, na alta compreensão dos benefícios que dela
recebia, ficara positivada naquela onda de dor e de pezar que o sinistro
produzira em tôdas as classes laboriosas da cidade. Lamentavam-no os
estudiosos, maldiziam-no as velhas famílias de raízes fincadas na tradição da
terra. Acusando ou imprecando, maldizendo ou deplorando, um povo inteiro
chorava a perda de sua Biblioteca.
Mas,
ela ressurgiria. Brotaria novamente, e muito cedo, do recesso daquela massa
quente e úmida de cinza, barro, ferro e papéis fumarentos, que constituía os
rescaldos do incêndio destruidor. A exemplo da velha fábula da Fênix, o embrião
redivivo iria levar, em oferenda, no templo de Heliôpolis, os restos do
ancestral incinerado. Então, como que um pacto de honra se estabeleceu, em
secreta comunicação, no seio da população amargurada. Ressurgiria a Biblioteca
Pública do Amazonas!
E ressurgiu!
Dois
dias anos o incêndio, diretor e funcionários, ainda de coração a sangrar pelo
brutal desaparecimento do tesouro que custodíavam, deram início às árduas
tarefas da formação do novo acervo. A 23 de agôsto, o Interventor Alvaro Maia
baixou o seguinte decreto:
"O Interventor Federal no Estado do Amazonas,
atendendo à necessidade de se reinstalar imediatamente a Biblioteca Pública do
Amazonas, destruída pelo terivel incêndio de ôntem; e
Considerando que uma Biblioteca é sempre fonte
perene de sabedoria e educação de um povo e atestado de cultura e grandeza do
Estado,
DECRETA:
Art. 1.° — Fica cedido, provisôriamente, à
Biblioteca Pública do Estado, a ser reinstalada a 5 de Setembro próximo
vindouro, o andar superior do novo prédio do Departamento das Municipalidades.
Art. 2.° — Serão incorporadas a essa instituição
pública, que visa o benefício das populações de todo o Estado, — as bibliotecas
do Colégio Estadual, da Faculdade de Direito, do Departamento Estadual de
Estatística, do Juizado Tutelar de Menores, do Departamento de Educação e
Cultura e de outras repartições públicas, excluidos os livros técnicos e
didáticos indispensáveis aos respectivos serviços de cada uma delas.
Art. 3°— As bibliotecas a que se refere o artigo
anterior, assim como as que existirem em outras repartições estaduais, serão
conduzidas, juntamente com as estantes em que estão organizadas, para o local
indicado no art.° 1.°, devendo a Diretoria da Biblioteca Pública providenciar,
imediatamente, nesse sentido.
Art. 4°— O Govêrno do Estado abrirá, oportunamente,
crédito para atender à compra de livros.
Art. 5.° — Fica criada e nomeada uma Comissão
composta dos Senhores Desembargador André Araujo, Escritores Péricles Morais e
João Leda, Professores Agnelo Bittencourt, Vivaldo Uma, Themístocles Pinheiro
Gadelha, Júlio Benevides Uchoa e Doutor Djalma da Cunha Batista, para, sob a
presidência do diretor efetivo da Biblioteca Pública, orientar e desenvolver um
movimento “de restauração daquele patrimônio de cultura do Estado.
Art. 6.° — O presente Decreto entrará em vigor na
data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário”.
Não
obstante as determinações do decreto acima, os trabalhos de recomposição da
Biblioteca não foram instalados no prédio recém-construído para o Departamento
das Municipalidades, à esquina da Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua José
Clemente. Processaram-se, mesmo, no próprio prédio sinistrado, à Rua Barroso,
no pavimento superior da ala esquerda, não atingida pelo fogo. Da mesma forma,
das coleções de livros pertencentes às repartições estaduais referidas no
decreto, sômente foram entregues, à Biblioteca, as do Departamento de Educação
e Cultura e algumas das que completavam as do Departamento Estadual de
Estatística e da Diretoria dos Serviços Técnicos, ao todo em número não
superior a quatrocentos volumes. Quanto à comissão criada pelo Art. 5.°, nunca
se reuniu, nem mesmo para efeito das formalidades de instalação.
O
acervo inicial da nova Biblioteca ficou constituído: dos 60 volumes que se
encontravam na Exposição-Feira; dos 400 volumes acima referidos; e dos 2.500
volumes da biblioteca particular do dr. Alvaro Maia, por êste doados, logo no
dia seguinte ao incêndio, para servirem de núcleo inicial do novo acervo.
Outras pessoas seguiram o exemplo magnânimo do Chefe do Govêrno, doando livros
e coleções de periódicos. Os estudantes da Faculdade de Direito e do Colégio
Estadual saíram pelas ruas, de porta em porta, pedindo livros, bem acolhidos,
sempre, na benemérita campanha. Era comovedor surpreender, na intimidade dos
lares amazonenses, a pessoas de tôdas as idades, rebuscando velhos livros, —
livros guardados com carinho ou esquecidos entre as coisas do passado, livros
que sepultavam velhas saudades ou recordações de fagueiros momentos bem
vividos, livros dos dias alegres da escola, livros integrados na tradição
familiar, — e entregá-los aos moços altruístas para a constituição da nova
Biblioteca. Cêrca de 2.000 volumes arrecadaram os estudantes, nessa tarefa
magnífica, passando-os todos à direção do estabelecimento. E mais, ainda: às
ruínas do edifício sinistrado, todos os dias, dezenas de pessoas de tôdas as
classes compareciam, sobraçando os livros que tinham em casa, para ofertá-los à
Biblioteca.
Enquanto essas dádivas generosas iam sendo recebidas, a direção da
Biblioteca se comunicava com as entidades oficiais, as bibliotecas, as emprêsas
editoras e as instituições bibliográficas do País e do estrangeiro,
participando a desoladora ocorrência e encarecendo a remessa de livros para a
formação de novo acervo. Tôdas as Bibliotecas brasileiras — da Nacional às mais
modestas — atenderam ao apêlo, com as suas duplicatas.
O
Instituto Nacional do Livro, pela alta compreensão do escritor Augusto Mayer,
seu diretor, estabeleceu uma doação de 2.500 volumes; e a American Library
Association, de Washington, ofertou cêrca de 900 volumes de obras de autores
norte-americanos, correspondentes a um total de mil dólares, quantia arbitrada
para a livre escolha dêsses livros, nas editoras dos Estados Unidos. Também do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Conselho Nacional de
Geografia, dos Ministérios do Govêrno da República, do DASP e de outros órgãos
do serviço público federal, foram recebidos valiosos donativos em livros. Do
estrangeiro vieram os prés-timos amigos, representados em excelentes obras.
Entre êstes doadores, figuram o Secretariado Nacional de Propaganda, de
Portugal; o British Museum, de Londres; a Library of Congress e a American
Library Association, de Washington; a Alliance Française e algumas outras
instituições da Bélgica, da Russia, do Uruguai, do Peru, da Colômbia, da
República do Salvador, do México e da Argentina.
De
par com os trabalhos de registro e catalogação dos livros que chegavam,
procedia-se a mudança do Arquivo Público, que funcionava no salão do piso
inferior, na ala esquerda, para o prédio recém-restaurado, à Praça Pedro II: e
se ativavam os serviços de reconstrução da ala direita do edifício da Rua
Barroso, destruída pelo fogo. Uma vez dadas por concluídas estas obras, foi
iniciada a tarefa de arrumação dos livros nas estantes, passando a Biblioteca a
ocupar os dois salões de baixo e o “hall” de entrada. Ai já se encontravam as
novas estantes, mesas e cadeiras, confeccionadas sob o padrão-modêlo do DASP,
além de um fichário com cento e quarenta gavetas e de um balcão para o serviço
de empréstimo a domicilio. Os livros foram ordenados nas estantes, de acôrdo
com as regras do sistema decimal de Dewey, preparando-se o salão de leitura no
que dá para a Rua Henrique Martins. No outro salão, — o que fica para o lado da
Avenida Sete de Setembro — foram instalados a secção de periódicos, a
diretoria, a secretaria, os serviços de aquisição, catalogação e classificação,
os cursos e, mais tarde, a Biblioteca Infantil. A seção de Referência ficou
localizada junto ao salão de leitura.
A 21
de novembro de 1947, foi inaugurada a Biblioteca Pública do Amazonas, entregando-se,
assim, à serventia pública, o seu novo aceno bibliográfico. O governador
Leopoldo Amorim da Silva Neves, na mensagem que apresentou à Assembléia
Legislativa, em 15 de março de 1948, registrou o acontecimento: “Decorridos
dois anos e três meses do incêndio que, a 22 de agôsto de 1945, destruiu
totalmente o patrimônio bibliográfico da Biblioteca Pública do Amazonas, foi
esta reaberta à serventia pública, no dia 21 de novembro de 1947, com um total
de 45.000 volumes impressos, incluindo livros, folhetos e periódicos”.
Em
considerável maioria, o novo aceno bibliográfico da Biblioteca Pública é
constituído de generosas doações feitas por instituições diversas do País e do
estrangeiro, correspondendo a apelos que lhe foram endereçados pelo instituto
Geográfico e Histórico do, Amazonas e à campanha movimentada pelo Conselho
Nacional de Geografia, no sentido de ser constituída a Biblioteca do Amazonas.
Por sua vez e com a mesma finalidade, estudantes dos nossos cursos superiores e
secundários percorreram as ruas da cidade, em caminhão, de porta em porta,
solicitando donativo. em Unos, movimento êsse que resultou no recolho de cêrca
de 2.000 volumes, que foram entregues à direção da Biblioteca. O Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, a Academia Brasileira de Letras, todos os
órgãos ministeriais do Govêrno Central, bem como autarquias diversas, as
bibliotecas públicas e outras instituições culturais dos Estados, a American
Library Association, dos Estados Unidos, e particulares em grande número, fizeram
remessas de milhares de publicações para a Biblioteca Pública, onde, à
proporção que iam sendo recebidas, passavam pelos processos de cadastro, para
efeito de classificação e catalogação.
No
salão do primeiro pavimento do edifício próprio da Biblioteca Pública, na parte
não atingida pelo fogo, foram realizadas obras de restauração e pintura, com
adaptação especial de luz e ventilação para instalar-se o novo departamento de
leitura. Ali, em estantes padronizadas, foram arrumados os livros por ordem de
assuntos, em obediência às diretrizes do método decimal. Para o serviço de
consulta, confeccionaram-se catálogos de emergência para títulos e autores, em
cada classe de assuntos, enquanto se concluía o Catálogo-Dicionário em preparo.
Entregue à serventia pública, em 21 de novembro de 1947, o novo Salão de
Leitura da Biblioteca, as classes estudiosas ali encontraram, ao lado de vasta
e preciosa coleção de obras em variedade infinita de matérias, um ambiente
tranqüilo e de confôrto para o estudo e trabalhos de pesquisas bibliográficas,
com mobiliário moderno apropriado, ventilação constante e luz suficiente.
Funcionários especializados nos trabalhos biblioteconômicos atendem, com eficiência,
aos eleitores, oferecendo-lhes tôdas as facilidades possíveis, sem exigências
burocráticas. O leitor tem acesso livre à estante e aos catálogos, pode
demorar-se o tempo que quiser nas horas de franquia pública, e sômente à saída,
lhe é solicitado preencher, à porta, a ficha de consulta, para efeito de
estatística.
Ao
findar o ano de 1948, o registro de freqüência às coleções da Biblioteca
acusava 25.582 leitores, número êsse que, no ano seguinte, era superado pelo de
28.053.
Em
fevereiro de 1949, foi inaugurada a Biblioteca Infantil, em ampla e arejada
dependência especialmente preparada, equipada de móveis modernos adequados para
o seu tipo de leitor. O acervo Inicial ficara constituído de 715 volumes de
obras de literatura Infantil.
Há um
depoimento de alta valia sôbre as novas instalações da Biblioteca, prestado
nessa época por uma das mais autorizadas figuras da biblioteconomia brasileira:
dona Maria Luísa Monteiro da Cunha, Bibliotecária com estágio de especialização
nos Estados Unidos e professora de Classificação e Catalogação da Escola de
Biblioteconomia de São Paulo, com exercício, ainda, em função de chefia, na
modelar Biblioteca Municipal de São Paulo. Maria Luísa; viera ao Norte, em
viagem de férias, integrando uma luzida caravana do Touring Club do Brasil.
Apaixonada por Biblioteças, em tôdas as capitais nortistas, que visitava, saía
à procura da respectiva Biblioteca Pública, para auferir, em observação
própria, do que se fazia, em matéria de biblioteconomia, nos Estados nortistas
do Brasil.
Chegando a Manaus, em fevereiro de 1949, visitou a Biblioteca Pública do
Amazonas, ainda sob a funda impressão que trazia dos rumores do incêndio que a
destruíra, em 1945. À saída, entrevistada por um, repórter local, assim se
manifestou ao “Jornal do Comércio” amazonense: “Todos nós sabíamos que viríamos
encontrar, em Manaus, um dos melhores teatros do mundo, daí não termos ficado
surpreendidos quando visitamos o suntuoso Teatro Amazonas, obra das mais
aprimoradas. O que nos causou surprêsa, isto sim, foi a Biblioteca Pública do
Estado, que; apesar do incêndio de 1945, quando foi totalmente devorada, já é
uma das grandes realizações da biblioteconomia moderna. Fiquei deveras admirada
por ver em tão pouco espaço de tempo, isto é, sômente 3 anos, como foi possível
- adquirir-se um acervo tão valioso, isto sem calcular-se a quantidade de
livros ali existentes e sim os livros básicos referentes a tôdas as
disciplinas, o que bem demonstra pleno conhecimento a respeito do assunto por
parte de seu diretor e funcionários, estando ao par da situação livresca”.
“O que também me fascinou — continuou a professora
Maria Luísa — foi ver a cuidadosa organização que vem adotando o sr. Genesino
Braga, quanto à criação da secção infantil na Biblioteca, como também a maneira
como o público tem acesso livre às estantes, no salão de leitura”.
A
seguir, — escreve o repórter— perguntamos à professora Maria Luísa Monteiro da
Cunha, sôbre seu pensamento em tôrno do material de cultura ali encontrado, do
que merecemos a resposta seguinte: “Com relação às obras, apesar do lamentável
incêndio destruidor de 1945, existem ainda livros preciosos, tais como o Debret
e “Orlando Furioso”, ilustrado por Doré, além de serem encontradas enciclopédias
interessantíssimas, dando-se destaque ainda às ciências sociais de Seligman”.
“Por
outro lado — fala-nos ainda a nossa entrevistada — fiquei bastante satisfeita
em ver a uffiidade que tem aqui o Boletim Bibliográfico da Biblioteca Municipal
de São Paulo, que tem sido elemento valioso de consultas para os dirigentes da
Biblioteca, neste Estado”.
Depois de ligeira pausa durante a palestra que mantivemos com essa
ilustre figura da sociedade paulista, retomada a palavra pela entrevistada,
assim se manifestou: “É de se louvar o cuidado que vem sendo dispensado aos
livros, porquanto, com isso, estão êles livres da sanha dos bibliófagos. Pelo
que verifiquei, o edifício da Biblioteca Pública presta-se a um desenvolvimento
de processo técnico, nos moldes dos mais modernos princípios biblioteconômicos,
tais como a criação de secções de empréstimos de livros a domicílio, uma sala
para conferências, serviço de restauração, mapoteca, etc., etc.”.
A
última das amarras que, no decurso de quarenta e cinco anos, conduziram a
Biblioteca amazonense atrelada a outros serviços de natureza diversa, foi
desatada pela lei n.° 677, de 18 de agôsto de 1950. Por dispositivos ali
expressos, ficou ela desmembrada do Arquivo Público, passando a constituir,
isolada, a Diretoria da Biblioteca Pública, autônoma, finalmente, na própria
regência de suas diretrizes, sem mais o ruinoso desvio dos cuidados diretivos
para outros setores diferentes. A partir dessa providência, já sob direção
própria, teve ela acelerado o ritmo de seu desenvolvimento e atendidos com mais
diligência e compreensão os imperativos de seus misteres.
A
premência do aumento do pessoal, em razão da multiplicidade das tarefas de
ordem técnica, teve solução com a lei n.° 243, de 15 de dezembro de 1953, que
reestruturou o respectivo quadro, constituindo-o, então de: Diretor,
Secretário, 2 Bibliotecários-Chefes, 7 Bibliotecários, 9
Bibliotecários-Auxiliares, 1 Porteiro e 2 Serventes, afora o pessoal
extra-numerário. Essa lei fixou, ainda, normas definitivas para o provimento
dos cargos de Bibliotecário-Chefe e de Bibliotecário, objetivando justas
vantagens para os funcionários que adquirissem a especialização profissional.
Com êsse intuito, determinou que os referidos cargos só poderão ser providos
por bibliotecários portadores de diplomas expedidos pelos cursos oficiais de
biblioteconomia do Pais. Foi, assim, mais um vínculo que a Biblioteca
amazonense estabeleceu com as modernas diretrizes da biblioteconomia
brasileira, no critério de prestigiar o profissional especializado, num
significativo gesto de acatamento aos cursos de biblioteconomia em função no
País.
Tal
medida veio a completar-se três anos depois, com a criação, na Biblioteca
Pública e por iniciativa desta, do Curso de Biblioteconomia do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia, com a duração de dois anos, para o ensino
das seguintes matérias: Classificação e Catalogação; Bibliografia e Referência;
Organização e Administração de Bibliotecas; História do Livro e das
Bibliotecas; e História da Literatura. As aulas dêsse Curso tiveram início em
janeiro de 1955, ministradas pelos bibliotecários diplomados dra. Dóris de
Queiroz Carvalho, Bibliotecário do Ministério da Fazenda, chefiando a
Biblioteca do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, autora da obra
“Classificação Decimal de Direito”; Maria Luisa de Magalhães Cordeiro; Maria de
Nazaré Jacob da Silva Neves, Bibliotecário da Faculdade de Direito do Amazonas;
e Genesino Braga, Diretor da Biblioteca Pública do Amazonas. Em novembro do
mesmo ano, após dois períodos intensivos de aulas e provas, foram expedidos
certificados de Bibliotecários-Auxiliares, correspondentes ao primeiro ano de
ensino, a 15 dos 56 alunos matriculados no início do período letivo.
***
Vive
um presente de realidades positivas a Biblioteca Pública do Amazonas,
alicerçada em seu valioso aceno bibliográfico de livre acesso ao leitor e de
fácil e rápida consulta; em suas instalações adequadas ao serviço, modernas e
de bom gôsto; no preparo técnico e na dedicação de seu pessoal; e na confiança
que lhe votam as classes estudiosas do Ama, zonas. Dispondo atualmente de um
patrimônio livresco em número super flor a 85.000 volumes, entre livros,
folhetos, mapas e periódicos, adota para. êstes, a classificação decimal de
Dewey, já contando o seu Catálogo-Dicionário, com o Topográfico e o Remissivo,
mais de cem mil fichas. Sua coleção de Referência está equipada de 1.605
volumes, nêle figurando as edições últimas das mais conceituadas enciclopédias
e dos dicionários técnicos, filológicos, bilingües, bibliográficos e
enciclopédicos de autores vários, além de muitas outras obras de referência.
Franqueados ao público diàriamente, das 10 às 22 horas, seus salões de leitura
recebem uma freqüência em média de 150 leitores, por dia, na sua maioria
estudantes dos cursos superiores e secundários. Mantém, em sala especial,
convenientemente equipada, a Biblioteca Infantil, com 850 volumes de obras de
literatura Infantil e mais peças de recreação educativa para as crianças. E,
periòdicamente, promove exposições de livros, de manuscritos, de arte pictórica
e de documentação relacionada com a História e a Literatura.
São
desempenhados por bibliotecários especializados os serviços de natureza técnica
da Biblioteca Pública do Amazonas. De. 1946 a 1953, tiveram. o concurso da
Bibliotecária Ana Moura Diniz, diplomada pelo Curso, de Biblioteconomia do
D.A.S.P.; e, em 1951, a Bibliotecária Irene Teles de Aquino, portadora de igual
título, prestou relevantes: serviços, organizando a Coleção de Referência e
ministrando conhecimentos de Biblioteconomia ao pessoal. Quatro funcionários da
Biblioteca — o autor dêste trabalho, a senhora Ana Moura Diniz e as senhorinhas
Maria Luisa de Magalhães Cordeiro e Maria Auxiliadora de Aguiar e Xerez —
fizeram o Curso de Biblioteconomia do D.A.S.P. e o da Biblioteca Nacional do
Rio de Janeiro, com bôlsas de estudo conseguidas pela própria direção da
Biblioteca. Além dêsses, mais quatro elementos de seu quadro — a senhora Maria
Stella de Sousa Samuel e as senhorinhas Helena Nogueira Corrêa, Maria José Dias
Antunes e Teresinha Moreira — obtiveram certificado de Bibliotecário-Auxiliar,
no Curso de Biblioteconomia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Todos êsses funcionários estão, presentemente, no serviço da Biblioteca,
empregando, com desvêlo e critério, os conhecimentos especializados que
adquiriram, com muito entusiasmo e elogiável devotamento. A Secretária da
Repartição, bacharela em Direito Ursulita Braga Alfaia, está confiada a
classificação das obras de Direito, de natureza especifica.
De
como, no presente, são conduzidos os serviços da Biblioteca amazonense,
proclama à Assembléia Legislativa, em mensagem de 15 de março de 1956, o
honesto e operoso governador Plinio Ramos Coelho: — A Biblioteca Pública, sob a
eficiente direção do jornalista Genesino Braga, teve suas atividades normais.
Presentemente o acervo bibliográfico é constituído de 74.451 volumes. Foram
feitos reparos na porta principal do edifício, janelas do hall de entrada,
colocadas as portinholas nas janelas dos porões e adquiridas, por meio de
doações locais, dos Estados e do Estrangeiro, 3.618 volumes. Funcionou durante
o ano um curso de Biblioteconomia em cooperação com o INP da Amazônia, que
obteve êxito compensador. Foram matriculados neste curso 53 alunos, sendo
aprovados 15, dos quais 9 são funcionários do Estado. Também foi efetuado um
programa educativo cultural, no propósito da maior difusão, não só das reservas
bibliográficas do Estado, mas, também, das artes e das grandes figuras das
letras e do magistério nacional e particularmente do Amazonas. Para êste fim
foram organizadas exposições no hall de entrada do seu edifício”.
***
Na
soma de seus oitenta e seis anos de existência, vencido um itinerário que se
impregnou de muita luz e dos aromas eternas da inteligência e da cultura, com
quatro gerações intelectualmente robustecidas na seivosa irradiação de saber
provinda de seus livros, — A Biblioteca Pública do Amazonas ostenta, na
atualidade, o galardão de um triunfo que jamais poderá ser destruído, ou mesmo
obscurecido, na voragem das paixões políticas, ou na insatisfação das
conturbadas fôrças sociais que tanto abalam e agitam, nos tempos hodiernos, a
inteireza das colunas da sabedoria. Ela própria, na integridade de sua função
educativa, como fonte perene da sabedoria; ela própria, na solidez de sua
estrutura orgânica, elevada ao nível das congêneres de maior conceito no País;
ela própria, do pedestal de veneração e respeito em que a sagraram as
consciências e as vozes de muitas idades, na admiração, na gratidão e nos zelos
da comunidade a que vem servindo, — ela própria não mais se deixará deprimir,
nem olvidar, nem ficar à margem dos surtos expansionais que a mais alto levarem
as conquistas da ciência e do labor. Marchará sempre, sim, a frente de todos os
anelos de seu povo, soberana e consciente de sua fôrça objetiva, alteando o
luzeiro das civilizações modernas, pelos claros caminhos do porvir amazônico.
Todos os livros, documentos oficiais e periódicos,
que figuram na presente bibliografia,
pertencem ao acervo da Biblioteca Pública do
Amazonas.
AGASSIZ, Luiz Agassiz e Elisabeth Cary — Viagem ao
Brasil (1865-1866), Trad. por Edgar Sussekind de Mendonça. São Paulo, Companhia
Editora Nacional, 1938 (Biblioteca Pedagógica Brasileira. Coleção Brasiliana.
Série 5ª, VoL 95).
ARAUJO LIMA, J. F. — Amazônia. A Terra e o Homem.
Com uma Introdução à Antopogeografia. Prefácio de Tristão de Ataide. Rio de
Janeiro, Editora Alba, 1933.
AZEVEDO, Fernando de — As técnicas de produção do
livro e as relações entre mestres e discípulos. 3ª Conferência da Série “A
Educação e a Biblioteca”, promovida pela Biblioteca do D.A.S.P., pronunciada na
Biblioteca do Ministério da Fazenda, em 4-9-1944. Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1945.
BITTENCOURT, Agnelo — Corografia do Estado do
Amazonas. Manaus, Tipografia Palácio Real, 1935.
BRAGA, João Wilkens LoDes — Indicador alfabético da
legislação do Amazonas, 1890-1927. Manaus, Imprensa Pública, 1928.
BRASIL. Instituto Nacional do Livro — Guia das
bibliotecas brasileiras (Colecão B-2: Biblioteconomia). Rio de Janeiro, 1941.
BUONOCORE, Domingo — Elementos de Bibliotecologia.
Santa Fé, Argentina, Libreria y editorial Castellvi S.A.
BUONOCORE, Domingo — Vocabulário Bibliográfico.
Terminos relativos al libro, al documento, a la biblioteca y a la imprenta,
para uso de escritores, bibliógrafos, bibliófilos, bibliotecários, archivistas,
libreros, editores, encadernadores y typógrafos. Santa Fé, Argentina, 1952,
Libreria y editorial Castellvi S.A.
CASTRO, Mavignier de — Síntese histórica e
sentimental de Manaus. Manaus, Tipografia Fênix, 1948.
DIAS, Antonio Caetano — O ensino da biblioteconomia
no Brasil. Rio de Janeiro, 1955 (Instituto de Previdência e Assistência dos
Servidores do Estado. Coleção Ipase 2).
FERRAZ, Wanda — A Biblioteca. 2.ª ed. rev. e aum.
Rio de Janeiro, 1942.
FINÓ, J. Frederic e Luis A. Hourcade — Tratado de
Bibliologia. Historia y técnica de producción de los documentos. Santa Fé,
Argentina, Libreria y editorial Castellvi S.A.
GONÇALVES, Lopes — O Amazonas. Esbôço histórico,
corográfico e estatístico até o ano de 1903. 1.ª ed. New York, H. J. Hane,
1904.
GUIMARÃES, Hahnemann — A Educação e a Biblioteca.
4.ª Conferência da série “A Educação e a Biblioteca”, pronunciada na Biblioteca
do D.A.S.P., em 2-10-1944. Departamento Administrativo do Serviço Público. Rio
de Janeiro, Imprensa Nacional, 1944.
JOBIM, Anisio — A intelectualidade no Extremo
Norte. Contribuição para a história da literatura do Amazonas. Manaus, Livraria
Clássica, 1934.
LOBATO, Manuel — O Vale do Amazonas e o problema da
borracha. New York, 1912.
MANAUS, Diocese de Manaus — Visão histórica da
Diocese de Manaus. Manaus, 1946.
MENEZES, Augusto Celso de — Almanaque
administrativo, histórico, estatístico, comercial e literário do Amazonas para
1896. Manaus, Impresso nas oficinas do Diário Oficial. Parte histórica:
História do Amazonas, A.M.M., 1896.
MONTEIRO, Mano Ypiranga — O Aguadeiro
(Reconstituição histórica de um tipo popular da Província). Manaus, 1947.
PINHEIRO, Geraldo — Como nasceu a Biblioteca
Pública do Amazonas. “Vanguarda”, Rio de Janeiro, 6-7-944.
PLACER, Xavier — O perfeito bibliotecário. Tese
apresentada ao I Congresso Brasileiro de Biblioteconomia realizado na cidade do
Recife. 1954.
REIS, Arthur Cezar Ferreira — História do Amazonas.
Manaus, Oficinas tipográficas de Augusto Reis, 1934.
SAMBAQUI, Lydia de Queinoz — Como a Biblioteca pode
e deve servir ao Brasil. Conferência pronunciada no salão nobre da Biblioteca
Pública de São Paulo, no dia 5 de novembro de 1942, por ocasião da exposição de
atividades de organização do govêrno federal. Departamento Administrativo do
Serviço Público. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1943.
SIMÕES DOS REIS, Antonio — Bibliografia das
bibliografias brasileiras. Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1942
(Coleção Bl. Bibliografia).
SOUSA, José Soares de — Classificação. Sistema de
classificação bibliográfica. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1943.
WALDEVOGEL, Luis — A fascinante história do livro.
São Paulo, 1952. União Cultural Editora Ltda.
VEGA, Javier de la — La Biblioteca como edificia
funcional, su construcción y equipo. Madrid, 1948.
***
AMAZONAS, Presidência, 1863-1874
— Relatórios da Presidência da Província do
Amazonas, desde a sua criação até a proclamação da República, mandados
colecionar pelo governador coronel Silvério José Nery e novamente publicados
por ordem do coronel Antônio Constantino Nery sendo governador do Estado.
Volume III. 1863-1870. Rio de Janeiro, Tip. do “Jornal do Comércio”, 1908.
— Relatórios da Presidência da Província do
Amazonas, desde a sua criação até a proclamação da República, mandados
colecionar pelo governador coronel Silvério José Nery e novamente publicados
por ordem do coronel Antônio Constantino Nery sendo governador do Estado.
Volume IV. 1870-1873. Rio de Janeiro, Tip. do “Jornal do Comércio”, 1908.
— Relatórios da Presidência da Província do
Amazonas, desde a sua criação até a proclamação da República, mandados
colecionar pelo governador coronel Silvério José Nery e ;tamente publicados por
ordem do coronel Antônio Constantino Nery sendo governador do Estado Volume V.
1873-1874. Rio de Janeiro, Tip. do “Jornal do Comércio”, 1908.
AMAZONAS, Presidente, 1874. (Domingos Monteiro
Peixoto)
— Fala dirigida à Assembléia Provincial do Amazonas
na primeira sessão da 12.ª legislatura, em 25 de março de 1874, pelo Presidente
da Província, bacharel Domingos Monteiro Peixoto. Manaus, Tip. do “Comércio do
Amazonas”, 1874.
— Relatório com que o Exmo. Sr. Dr. Domingos
Monteiro Peixoto entregou a administração da Província ao Exmo. Sr. 1.°
Vice-Presidente Capitão de Mar e Guerra Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso, em
16 de março de 1875. Manaus, Tip. do “Comércio do Amazonas”, 1875.
AMAZONAS, Presidente, 1875. (Nuno Alves Pereira de
Melo Cardoso)
— Fala dirigida à Assembléia Provincial do Amazonas
na segunda sessão da 12.ª legislatura em 29 de março de 1875 pelo Exmo. Sr. 1.°
Vice-Presidente Capitão de Mar e Guerra Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso,
acompanhada do Relatório com que no dia 11 de março de 1875 lhe passou a
administração da Província o Exmo. Sr. Dr. Domingos Monteiro Peixoto. Manaus,
Tip. do “Comércio do Amazonas”, de Gregório José de Moraes, 1875.
— Exposição que fêz o Exmo. Sr. Vice-Presidente da
Província do Amazonas Nuno Alves Pereira de Melo Cardoso ao Exmo. Sr.
Presidente Dr. Domingos Jacy Monteiro, entregando-lhe a administração em 26 de
julho de 1876. Manaus, ip. do “Jornal do Amazonas”, à Rua do Imperador, 1876.
AMAZONAS, Presidente, 1877 (Agesiláo Pereira da
Silva)
— Fala com que o Exmo. Sr. Presidente da Província
do Amazonas, Dr. Agesiláo Pereira da Silva, abriu os trabalhos da 2ª sessão da
13.ª legislatura da Assembléia da mesma Província, em 4 de junho de 1877.
Manaus, Tip. do “Jornal do Amazonas” a Rua do Imperador, 1877.
— Exposição apresentada ao Exmo. Sr. 2.°
Vice-Presidente da Província do Amazonas, Major Gabriel Antônio Ribeiro
Guimarães, pelo dr. Agesiláo Pereira da Silva. Manaus, Tip. do “Jornal do
Amazonas”, à Rua das Flores, 1878.
AMAZONAS, Presidente, 1878 (Gabriel Antônio Ribeiro
Guimarães)
— Exposição com que o Exmo. Sr. 2.° Vice-Presidente
da Província, Major Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães, passou a administração
da mesma ao Exmo. Sr.2.°Vice-Presidente, Capitão Guilherme José Moreira,
acompanhada da com que êste passou ao Exmo. Sr. Barão de Maracajú. Manaus, Tip.
do “Amazonas”, Imp. Hildebrando Luiz Antony, 1878.
AMAZONAS, Presidente, 1879 (Romualdo de Sousa Paes
de Andrade)
— Exposição com que o Exmo. Sr. Dr. Romualdo de
Sousa Paes de Andrade, 1° Vice-Presidente da Província do Amazonas, entrega a
administração ao Exmo. Sr. Tenente-Coronel José Clarindo de Queiroz, em 16 de
novembro de 1879. Manaus, Tip. do “Amazonas”, de José Carneiro dos Santos, por
Hildebrando Luiz Antony. Rua de Marcílio Dias n.° 11, 1879.
AMAZONAS, Presidente, 1880 (José Clarindo de
Queiroz)
— Relatório com que o Exmo. Sr. Tenente-Coronel
José Clarindo de Queiroz, Presidente da Província do Amazonas, abriu a sessão
extraordinária da Assembléia Legislativa Provincial, em 14 de janeiro de 1880.
Manaus, Tip. do “Amazonas”, de José Carneiro dos Santos, por Manuël Clarismundo
do Nascimento. Rua de Marcílio Dias, n.° 11, 1880.
AMAZONAS, Presidente, 1880 (Satiro de Oliveira
Dias)
— Fala com que o Exmo. Sr. Dr. Satiro de Oliveira
Dias, Presidente da Província do Amazonas, abriu a sessão extraordinária da
Assembléia Legislativa Provincial, em 1.° de outubro de 1880. Manaus, Tip. do
“Amazonas”, de José Carneiro dos Santos, à Praça 28 de Setembro. Impressor
Hildebrando Luiz Antony, 1881.
— Fala com que o Exmo. Sr. Dr. Satiro de Oliveira
Dias, Presidente da Província do Amazonas, abriu a 2.ª sessão da 15ª
legislatura da Assembléia Provincial, em 4 de abril de 1881. Manaus, Tip. do
“Amazonas”, de José Carneiro dos Santos, à Praça 28 de Setembro. Impressor
Hildebrando Luiz Antony, 1881.
AMAZONAS, Presidente, 1881 (Alanco José
Furtado)
— Fala com que o Exmo. Sr. Dr. Alarico José Furtado
abriu a sessão extraordinária da Assembléia Legislativa Provincial do Amazonas,
em 27 de agôsto de 1881. Manaus, Tip. do “Amazonas”, de José Carneiro dos
Santos, à Praça 28 de Setembro, 1882.
AMAZONAS, Presidente, 1882 (José Lustosa da Cunha
Paranaguá)
— Fala apresentada à Assembléia Legislativa
Provincial do Amazonas na abertura da primeira sessão da 16ª legislatura, em 25
de março de 1882, pelo Presidente José Lustosa da Cunha Paranaguá. Manaus, Tip.
do “Amazonas”, de José Carneiro dos Santos. Praça 28 de Setembro, 1882.
— Fala apresentada à Assembléia Legislativa
Provincial do Amazonas na abertura da 2.ª sessão da 16.ª legislatura, em 25 de
março di 1883, — Presidente José Lustoma da Cunha Paranaguá. Manaus, Tip. do
“Amazonas”, de José Carneiro dos Santos. Praça 28 de Setembro, 1883.
AMAZONAS, Presidente, 1884 (Teodureto Carlos de
Faria Souto)
— Exposição com que o Exmo. Sr. Dr. Teodureto
Carlos de Faria Souto, abriu a 1.ª sessão da 17.ª legislatura da Assembléia
Provincial do Amazonas, em 25 de março de 1884. “Amazonas” (jornal), Manaus,
ed. de 2-4-1884.
AMAZONAS, Presidente, 1888 (Raimundo Amâncio de
Miranda)
— Exposição com que o Exmo. Revm. Sr. Cónego
Raimundo Amâncio de Miranda passou a administração da Província do Amazonas ao
Exmo. Sr. Dr. Joaquim Cardoso de Andrade, em 12 de julho de 1888. “Jornal do
Amazonas” (jornal), Manaus, ed. de 23-7-1888.
— Exposição com que o Exmo. Revm. Sr. Cônego
Raimundo Amâncio de Miranda passou a administração da Província do Amazonas ao
Exmo. Sr. Presidente Dr. Joaquim de Oliveira Machado, em 12 de fevereiro de
1889. “Jornal do Amazonas” (jornal), Manaus, ed. de 15-2-1889.
AMAZONAS, Governador, 1893 (Eduardo Gonçalves
Ribeiro)
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Governador do Estado, lida perante o Congresso dos Representantes, por
ocasião da abertura da 2.ª sessão ordinária, em 10 de julho de 1198. Manaus,
Tip. do “Diário Oficial” do Estado do Amazonas, Rua Municipal, 1893.
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Governador do Estado, lida perante o Congresso dos Representantes, por
ocasião da abertura da 3.ª sessão ordinária, em 10 de julho de 1894. Manaus,
Tip. do “Diário Oficial” do Estado do Amazonas, Rua Municipal, 1894.
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Governador do Estado, lida perante o Congresso dos Representantes, por
ocasião da abertura da 1.ª sessão ordinária, em 10 de Julho de 1895. Manaus,
Tip. do “Diário Oficial” do Estado do Amazonas, Rua Municipal, 1895.
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Eduardo Gonçalves
Ribeiro, Governador do Estado, lida perante o Congresso dos Representantes, em
1.° de março de 1896. Manaus, Tip. do “Diário Oficial” do Estado do Amazonas,
Rua Municipal, 1896.
AMAZONAS, Governador, 1897 (Fileto Pires
Ferrelra)
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Fileto Pires Ferrelra,
Governador do Esta do, lida perante o Congresso dos Representantes, por ocasião
da abertura da 3.ª sessão ordinária da 2.ª legislatura, em 4 de março de 1897,
Manaus, Tip. do “Diário Oficial” do Estado do Amazonas, Rua Municipal,
1897.
— Mensagem do Exmo. Sr. Dr. Fileto Pires Ferreira,
Governador do Estado, lida perante o Congresso dos Representantes, por ocasião
da abertura da 1.ª sessão ordinária da 8.ª legislatura, em 6 de janeiro de
1898. Manaus, Imprensa Oficial, Rua Fileto Pires, 1898.
AMAZONAS (Estado), Secretaria do Interior
— Relatório apresentado pelo cidadão Pedro
Ferreira, Secretário dos Negócios do Interior, ao Exmo. Sr. Dr. Fileto Pires
Ferreira, Governador do Estado, em 5 de janeiro de 1898. Manaus, Imprensa
Oficial, 1898.
— Relatório apresentado ao Governador do Estado,
José Cardoso Ramalho Junior, pelo Secretário dos Negócios do Interior, cidadão
Pedro Freire, em 30 de junho de 1899. Manaus, Livraria e Tipografia Palais
Royal, de Lino Aguiar e Comp., 1900.
AMAZONAS (Estado), Ginásio Amazonense
— Relatório do Ginásio Amazonense apresentado ao
Exmo. Sr. Secretário dos Negócios do Interior pelo Diretor Antônio Monteiro de
Sousa, em 30 de maio de 1899.
AMAZONAS, Governador, 1899 (José Cardoso Ramalho
Junior)
— Mensagem lida perante o Congresso dos Srs.
Representantes, em sessão ordinária de 10 de julho de 1899. Manaus, Imprensa
Oficial, Rua Municipal, 1899.
AMAZONAS, Secretaria dos Negócios do Interior
— Relatório apresentado ao Governador do Estado
pelo Secretário dos Negócios do Interior, Coronel Francisco P. R. Bittencourt,
em 11 de junho de 1900, 1.° volume. Manaus, Tipografia Palais Royal, de Lino
Aguiar e Comp., 1901.
AMAZONAS, Governador, 1902 (Silvério José
Nery)
— Mensagem lida perante o Congresso dos Srs.
Representantes, por ocasião da abertura da 2.ª sessão ordinária da 4.ª
legislatura pelo Esmo. Sr. Dr. Governador do Estado Sllvério José Nery, em 10
de julho de 1902, acompanhada dos relatórios dos chefes de repartiçôes. Volume
I. Manaus, Tip. da Livraria Ferreira Pena, Rua Municipal, 35, 1903.
AMAZONAS, Governador, 1905 (Antônio Constantino
Nery)
— Mensagem lida perante o Congresso do Amazonas, na
abertura da 2.ª sessão ordinária da 5.ª legislatura, pelo Governador do Estado,
Dr. Antônio Constantino Nery. “Diário Oficial”, Manaus, edição de
10-7-1905.
— Mensagem lida perante o Congresso do Amazonas na
abertura da 3.ª sessão ordinária da 5.ª legislatura pelo Governador do Estado,
Dr. Antônio Constantino Nery, em 10 de julho de 1906. “Diário Oficial”, Manaus,
ed. de 10-7-1906.
— Mensagem lida perante o Congresso do Amazonas na
abertura da 1.ª sessão ordinária da 6.ª legislatura pelo Governador do Estado,
Dr. Antônio Constantino Nery, em 10 de julho de 1907. “Diário Oficial”, Manaus,
ed. de 10-7-907.
AMAZONAS, Tesouro Público
— Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antônio
Constantino Nery, Governador do Estado, por Cirilo Leopoldo da Silva Neves,
Inspetor do Tesouro. Ano de 1907. Manaus, Tipografia a vapor do “Amazonas”,
1908.
— Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Coronel
Raimundo Afonso do Carvalho, Governador do Estado, por Cirilo Leopoldo da Silva
Neves, Inspetor do Tesouro, em comissão, acompanhado dos respectivos anexos.
Ano de 1908. Manaus, Secção de obras da Imprensa Oficial, Rua Municipal, 97,
1909.
AMAZONAS, Governador, 1908 (Raimundo Afonso de
Carvalho)
— Mensagem Lida perante o Congresso do Amazonas, na
abertura da 2.ª sessão ordinária da 6.ª legislatura pelo Coronel Raimundo
Afonso de Carvalho, presidente do Congresso Legislativo no exercício do cargo
de Governador do Estado, em 10 de julho de 1908. “Diário Oficial”, Manaus, ed.
de 10-7-1908.
AMAZONAS, Governador, 1909 (Antônio Clemente
Ribeiro Bittencourt)
— Mensagem lida perante o Congresso dos
Representantes por ocasião da abertura da 3.ª sessão ordinária da 6.ª
legislatura, em 10 de julho de 1909, pelo Exmo. Sr. Governador do Estado,
Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, acompanhado de relatórios dos
chefes de repartições. Manaus, Secção de Obras da Imprensa Oficial, Rua
Municipal, 97, 1910.
— Mensagem lida perante o Congresso dos Representantes,
por ocasião da abertura da 1.ª sessão ordinária da 7.ª legislatura, em 10 de
julho de 1910, pelo Exmo. Sr. Governador do Estado, Coronel Antônio Clemente
Ribeiro Bittencourt, acompanhada dos relatórios dos chefes de repartições.
Manaus, Secção de Obras da Imprensa Oficial, Rua Municipal, 97, 1911.
— Mensagem lida perante o Congresso dos
Representantes, por ocasião da abertura da 2.ª sessão ordinária da 7.ª
legislatura, em 10 de julho de 1911, pelo Exmo. Sr. Governador do Estado,
Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, acompanhada dos relatórios dos
chefes de repartições. Manaus, Secção de Obras da Imprensa Oficial, Rua
Municipal, 97, 1912.
— Mensagem lida perante o Congresso dos
Representantes, por ocasiao da abertura da 3.ª sessão ordinária da 7.ª
legislatura, em 10 de julho de 1912, pelo Exmo. Sr. Governador do Estado,
Coronel Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, acompanhada dos relatórios dos
chefes de repartições. Manaus, Seção de Obras da Imprensa Oficial, Rua
Municipal, 97, 1912.
AMAZONAS, Governador, 1916 (Jônatas de Freitas
Pedrosa)
— Mensagem lida perante a Assembléia Legislativa na
abertura da 1.ª sessão ordinária da 9.ª legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr. Jônatas
de Freitas Pedrosa, Governador do Estado, a 10 de julho de 1916. Manaus, Seção
de Obras da Imprensa Pública, Rua Municipal, 97, 1916.
AMAZONAS, Governador, 1917 (Pedro de Alcântara
Bacelar)
— Mensagem lida perante a Assembléia Legislativa,
na abertura da 2.ª sessão ordinária da 9.ª legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr.
Pedro de Alcântara Bacelar, Governador do Estado, a 10 de julho de 1917.
Manaus, Seção de Obras da Imprensa Pública, Rua Municipal, 97, 1917.
— Mensagem lida perante a Assembléia Legislativa,
na abertura da 8.ª sessão ordinária da 9.ª legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr.
Pedro de Alcântara Bacelar, Governador do Estado, a 10 de julho de 1918.
Manaus, Imprensa Pública, 1918.
— Mensagem lida perante a Assembléia Legislativa,
na abertura da 1.ª sessão ordinária da 10.ª legislatura, pelo Exmo. Sr. Dr.
Pedro de Alcântara Bacelar, Governador do Estado, a 10 de julho de 1919.
Manaus, Imprensa Pública, 1919.
AMAZONAS, Governador, 1921 (César do Rêgo
Monteiro)
— Mensagem lida perante a Assembléia Legislativa,
na abertura da 3.ª sessão ordinária da 10.ª legislatura, pelo Exmo. Sr.
Desembargador César do Régo Monteiro, Governador do Estado, a 10 de julho de
1912. Manaus, Imprensa Pública, 1921.
AMAZONAS, Governador, 1925 (Alfredo Sá)
— Mensagem à Assembléia Legislativa do Estado, em
sua reunião extraordinária de 15 de dezembro de 1925. Manaus, Imprensa Pública,
1925.
AMAZONAS, Presidente, 1926 (Efigênio Ferreira de
Sales)
— Mensagem do Presidente Efigênio Ferreira de Sales
à Assembléia Legislativa, na abertura da sua 1.ª sessão ordinária da 13.ª
legislatura, em 14 de julho de 1926. Manaus, Imprensa Pública, 1926.
— Mensagem apresentada pelo Presidente do Estado do
Amazonas à Assembléia Legislativa e lida na abertura da 3.ª sessão ordinária da
13.ª legislatura. Manaus, Imprensa Pública, 1928.
— Mensagem do Presidente do Estado do Amazonas, Dr.
Efigênio de Sales, à Assembléia Legislativa, lida na abertura da 1.ª sessão
ordinária da 14.ª legislatura. Manaus, Imprensa Pública, 1929.
AMAZONAS, Presidente, 1927 (Antônio Monteiro de
Sousa)
— Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa
pelo Exmo. Sr. Antônio Monteiro de Sousa, por ocasião da abertura da 13.ª
legislatura, em 14 de julho de 1927. Manaus, Imprensa Pública, 1927.
AMAZONAS, Diretoria do Arquivo, Biblioteca e
Imprensa Pública
— Relatório da Diretoria do Arquivo, Biblioteca e
Imprensa Pública, apresentado ao Exmo. Sr. Secretário Geral do Estado, Dr.
Aristóteles Ribeiro de Melo, pelo Bacharel José Chevalier Carneiro de Almeida.
Exercício de 1928. Manaus, Imprensa Pública, 1928.
AMAZONAS, Presidente (Dorval Pires Pôrto)
— Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa,
pelo Presidente Porval Pires Pôrto, ao instalar-se a 2.ª sessão ordinária da
14.ª legislatura. Manaus, Imprensa Pública, 1930.
AMAZONAS, Governador, 1936 (Alvaro Botelho
Maia)
— Mensagem do Governador Alvaro Botelho Maia à
Assembléia Legislativa, na abertura da sessão ordinária, em 3 de maio de 1936.
Manaus, Seção de Obras da Imprensa Pública, 1936.
— Mensagem do Governador Alvaro Botelho Maia à
Assembléia Legislativa, na abertura da sessão ordinária, em 3 de maio de 1937.
Manaus, Imprensa Pública, 1937.
AMAZONAS, Interventor, 1938 (Álvaro Maia)
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas, D.D.
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Manaus, Imprensa
Pública, 1938.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas;
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Manaus, Imprensa
Pública, 1939.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas,
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Maio de 1940 a
maio de 1941. Manaus, Imprensa Pública, 1941.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas,
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Maio de 1941 a
maio de 1942. Manaus, Imprensa Pública, 1942.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas,
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Maio de 1942 a
maio de 1943. Manaus, D.E.I.P., 1943.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas,
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Maio de 1943 a
julho de 1944. Manaus, D.E.I.P., 1944.
— Exposição ao Exmo. Sr. Dr. Getulio Vargas,
Presidente da República, por Álvaro Maia, Interventor Federal. Julho de 1944 a
julho de 1945. Manaus, D.E.I.P., 1945.
AMAZONAS, Governador, 1948 (Leopoldo Amorim da
Silva Neves)
— Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa, em
sua sessão ordinária de 1948, pelo Governador do Estado, Dr. Leopoldo Amorim da
Silva Neves. Manaus, Imprensa Oficial, 1948.
AMAZONAS (Província) — Biblioteca Pública do
Amazonas — Catálogo da Biblioteca Pública do Amazonas. Manaus, Tip. do “Jornal
do Amazonas”, de Antônio Fernandes Bugalho, 1887.
AMAZONAS (Província) — Leis, decretos, etc. —
Coleções de leis, decretos e regulamentos da Província do Amazonas, de 1852 a
1889.
AMAZONAS (Estado) — Leis, decretos, etc. — Coleções
de leis, decretos e regulamentos do Estado do Amazonas, de 1889 a 1953.
***
AMAZONAS (jornal) — Manaus. Coleções de 1870 a
1913.
AMAZONAS COMERCIAL (jornal) — Manaus. Coleções de
1897 a 1899.
COMÉRCIO DO AMAZONAS (jornal) — Manaus. Coleções de
1897 a 1910.
CORREIO DO NORTE (jornal) — Manaus. Coleções de
janeiro a junho de 1906.
DIÁRIO DO AMAZONAS (jornal) — Manaus. Coleções de
julho a dezembro de 1910.
DIÁRIO DE NOTICIAS (jornal) — Manaus, Coleções de
1899 a 1900.
DIÁRIO OFICIAL (jornal) — Manaus. Coleções de 1893
a 1953.
FEDERAÇÃO, A (jornal) — Manaus. Coleções de 1883 a
1888.
JORNAL DO AMAZONAS (jornal) — Manaus. Coleções de
1883 a 1888.
JORNAL DO COMÉRCIO (jornal) — Manaus. Coleções de
1904 a 1910.
RIO NEGRO, O (jornal) — Manaus. Coleções de 1897 a
1898.
TEMPO, O (jornal) — Manaus. Coleções de 1915 a 1918.
The author, who
is Chief Librarian of the Amazonas Public Library (Manaus, Amazon State,
Brazil), tells the history of said Library, from its establishment, in 1871, to
present days.
During its 86
years of existence, this Public Library has gone through different phases of
progress.
In 1871, the
Library was established under the denomination of Reading Room and was located
at the Lyceu. In 1884, still during Brazilian Imperial Regime, the Reading Room
was turned into Public Library by the Governor of the Amazon Province, José
Paranaguá, who provided it with valuable bibiographical collections. During
this period, the Library rendered most useful services to the community of the
City of Manaus.
In 1910, it was
moved into a new building, specially built for the Library, but in 1945 it was
completely destroyed by fire.
The population
of Manaus was very shocked with the destruction of the Library and, following
the example of the State Governor, Alvaro Maia, who made a donation of all his
private library to the public one, started a movement, leaded by the students,
toward the rebuilding of the llbrary book collection. Aiso many institutions,
both from the Country and abroad, offered valuable donations of books to the
newly rebuilt Library.
Presently the
Amazonas Public Library is going through me most progresive phase of its
existence.
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