GENESINO BRAGA por ROGEL SAMUEL
Nas mais antigas lembranças que guardo de G. B. eu era criança e ouvia a voz e suas sonoras gargalhadas já deitado no meu quarto no meio da noite: ele e sua esposa Dinoralva iam jogar cartas na casa de meus pais até tarde da noite – algumas vezes eles vinham, outras vezes eram meus pais que iam na casa dos Bragas.
Ainda hoje guardo (e uso) a caneta Parker 51 que me deu como padrinho de crismas. No meu aniversário ele não trazia brinquedos como todo mundo, mas livros de Monteiro Lobato e mais tarde a antologia que prezo ate hoje – “Obras primas da poesia universal”, de Sergio Milliet da Editora Martins.
Fui um dos revisores tipográficos da primeira edição do seu “Fastigio e sensibilidade do Amazonas de ontem”.
Ele era um homem extraordinário, tocava cavaquinho e gostava dos amigos. Dava grandes festas, a que acorria muita gente e era um anfitrião animado. Foi diretor do Rio Negro.
Escreveu muito, mais de 1100 crônicas que ainda estão nos jornais de Manaus e correm o risco de se perder. Principalmente no “Jornal do Comércio”. Algumas são pura poesia.
Ele era um homem que abria um vasto sorriso com facilidade. Era meu pai espiritual e eu o acompanhei durante sua vida literária e jornalística. Com 18 anos vim para o Rio de Janeiro, mas sempre o visitava quando ia a Manaus. Estive presente no Rio de Janeiro quando ele recebeu a Medalha de Mérito da Ordem dos Velhos Jornalistas; estive no hospital em Belo Horizonte quando operou os olhos; e o visitei perto do fim de sua vida, quando já não falava, vítima de um AVC. Ele nasceu em 6 de dezembro de 1906 em Santarém, no Pará; e faleceu com 81 anos de idade em Manaus, em 19 de junho de 1988.
Foi jornalista, cronista, professor universitário, bibliotecário, diretor da Biblioteca Pública do Estado por muitos anos, membro do Conselho Estadual de Cultura e da Comissão Permanente de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico do Amazonas, redator oficial do Gabinete do Governador do Estado e integrante do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - Inpa.
Curiosamente, em 1935 elegeu-se Deputado à Assembléia Legislativa do Estado.
É nome de rua, desde aquela época, no Japiim, em Manaus; membro da Academia Amazonense de Letras (desde 1951/1952); membro da comissão de reforma do Teatro Amazonas no governo João Walter de Andrade (1971-1974), de cujo gabinete era redator especial.
Como jornalista começou em 1927, no Jornal do Comércio, onde escreveu por mais de vinte anos. Recebeu a Medalha do Mérito Jornalístico (1971), participou da fundação da Associação Amazonense de Imprensa (1937), e foi escolhido jornalista do ano em 1965 e 1973, em eleição pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas.
Recebeu está a Medalha Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Sua biblioteca pessoal tinha livros autografados por grandes nomes da literatura brasileira e ele era amigo de Álvaro Maia.
Escreveu: “Nascença e vivência da Biblioteca do Amazonas”, (1957), que eu digitalizei e está integralmente online no nosso LIVROS ON-LINE e no nosso blog; “Fastígio e sensibilidade do Amazonas de ontem” (1960), editora Sérgio Cardoso; “Chão e graça de Manaus”, (1975) ; “Assim nasceu o Ideal Clube”; e “Lampejos de um cronista” (post-mortem), compilado pelo filho Carlos Genésio em 1992.
Faleceu em Manaus em 19 de junho de 1988, aos 81 anos de idade.
Ele amava a vida. Quando vinha ao Rio, fazia questão de tomar um chopp no Amarelinho na Cinelândia com sua esposa, onde o acompanhei.
GENESINO BRAGA - CRÔNICAS
Danae e a chuva de
oiro
Era uma vez linda princesa...
A lenda é meiga, ingênua e doce...
...e meiga ingênua e doce era melíflua Danae, filha
única de Acrísiø, Rei de Argos, vivendo em sonhos a existência que os deuses
bons lhe conferiam.
Num promontório sobre o Inacos, - o rio das fábulas
dormidas — a virgem hauria os bens da vida, tinha a seus pés os rapsodos, tinha
a suas mãos fadas benignas... Nobre e sensível castelã, de suas janelas ogivais
olhava os pássaros alados, ouvia cítaras plangentes, ouvia épicos heróicos, que
os ventos sísmicos das Cícladas traziam, em músicas vibráteis, a seus anímicos
cismares...
Danae sorria e era feliz...
Seu negro olhar de noite flébil pousava brando nas
paisagens que os nobres muros do castelo rispidamente circundavam. Seus lábios
doces só se abriam a balbúcies pueris, Vênus de corpo escultural, sangue sem
apelos nem desejos, não tinha ardor no coração. Não tinha Príncipe Encantado,
não tinha anseios de noivado, não tinha dor, não tinha amor...
Danae era um sopro de blandície...
Danae era a paz da Criação...
Um dia, oráculo ardiloso, — prossegue o lúcido
raconto — ao Rei prediz: morte inopina, às mãos de um neto, ele teria, em dia
infausto do porvir.
O Rei medita e pensa em Danae, a linda e fúlgire
princesa, a virgem e casta flor do Reino, a filha amada...
Mas, - rei é rei e a vida augusta, a realeza e o
trono invicto devem ser logo preservados...
Toda de bronze, exposta aos ventos, ereta,
altíssima, imponente, a torre-cárcere se ergueu no promontório sobre o golfo de
ondas mansas, fugidias... Mandara o Rei edificá-la para encofrar a castidade da
meiga e cândida princesa... Bem alto, em cela luxuosa, entre janelas gradeadas,
no extremo andar da torre heril, a moça penitenciava a inibição de amor
provável e de pecado original...
O velho eunuco-carcereiro trazia-lhe flores e
frugais, contava lendas melancólicas de rapsodos passionais...
Danae, em seus pérfidos desígnios, - flor de
inocência e de indulgência! – cumpria sem mágoas seu fadário...
Danae, em silêncio, meditava, fitava o muito azul
do céu, errando em sonhos e quimeras, pedindo aos deuses proteção... Recorda
Zeus em seus noivados, pensa em Semele fecundada, pensa em
Latona, mãe de Apolo, pensa Diana, Ceres, Io, em
Mnemosina, em Alemena...
Virá do Olimpo a redenção!...
Eis que, em noite silenciosa, de ventos calmos, sem
fragor, de pulcra ronda sideral, estranha chuva a torre envolve...
E chuva de oiro, luzidia, de fios aurifulgentes,
joiando o âmago da noite, doirando o céu, doirando o ar...
Os fios luzentes, insolentes, penetram as grades da
prisão e caem em volúpia sobre a virgem noite, explêndida, a dormir...
Compreensão... Revelação...
É Zeus, na sua metamorfose, divinamente enamorado,
que, em seu poder de encantação, em oiro todo transformado, a bela moça enlaça
e ameiga, em posse olímpica e sensual!...
Danae é o abandono sensorial, em seu estado de
doçura, entregue ao ímpeto do deus, na graça íntima do amor...
Consumação... Concepção...
...e a lenda fúlgure prossegue: nasce Perceu e o
Rei, irado, Danae e o filho atira ao mar ...
As ondas levam os renegados a terras outras do
sem—fim, aonde se salvam e são felizes e vivem muito até que, um dia, os
vaticínios do advinho se cumpram em fórmulas fatais...
A história mítica de Danae define símbolos morais.
Transportam as ânsia dos milênios, esquemam lúgubres desígnios rememorados na
consciência do fabulário emocional.
Danae reclusa e a chuva de oiro...
Danae passiva em doce oferenda de amor aos deuses
vontadosos, para que, assim, de suas entranhas, surjam outros deuses
protetores, ou nasçam ídolos e heróis.
Seiva do céu é a chuva de oiro em solo virgem,
fecumdante, gerando safras e plantéis...
Pluviável bênção aurifulgente, que acorda os gênios
e inspira os poetas, na enunciação da voz de Deus...
A chuva de oiro é a emanação da graça lírica do
amor, essenciada de poesia, na ingênua lenda original...
Danae é o esplendor das germinais, nas férteis
dádivas do amor, a reflorir pelas idades em mudas ânsias sublimadas nas
espirais dos sonhos vãos.
Dai chuvas de oiro a Danaes outras, na torre
altíssima dos sonhos, - e eis triunfal o ardil dos homens na trama poética das
lendas, que se renovam pelos tempos e multiplicam-se no mundo, em tempestades
hibernais de trovas, crônicas e cânticos de amor, de sonho e poesia...
SE TU PERDESSES A
BELEZA...
Se tu perdesses a beleza... e o olhar intenso e a
fala musicalizada, - ficarias sendo, não a mutilação da Obra Perfeita, mas a
transfiguração da Obra Perfeita.
A pacificação da carne ansiosa, a sombra de êxtase
nos olhos áridos, a suave tristura de uma boca sem canções, - tudo acordaria em
ti uma alma sensorial de superfícies brandas, com a reprodução calada dos ecos
todos que afirmam a força e a energia da Criação.
Irias gravar, nas cicatrizes dos pensamentos
apaziguados, a doçura das noites de veludo que abrandaram as tuas ânsias.
Afloraria, na tua saudade, a memória das imagens recalcadas no clamor dos
apelos, para que as sombras dos instantes imperecíveis se transfundissem no
respeito humano que a integridade de teus desígnios obrigaria.
Então, feito milagre de transmigração, a singeleza
de tua nova consciência daria à vida a excelsa explicação do teu amor. Seria a
libertação da alma postiça que teu corpo vestia, ficando-lhe a delícia de poder
absorver, para indulgência e redenção, as essências da beleza incorpórea.
Ascenderias à Perfeição! Decifrarias no perdão do
teu corpo sem desejo, o imutável segredo da composição estética da vida. E o
doloroso fundo da tua natureza melancólica teria a participação da felicidade
imaterial.
... e uma outra espécie de formosura – a Harmonia
Interior – surgiria em teu destino, como um fluxo de redenção espiritual...
Oh!, se tu perdesses a beleza...
O SONHO DE ANO-BOM DA
MOÇA LOIRA
A Moça-Loira entra na boite e os acordes do
primeiro blue a arrebatam para a quintessência de seus doces devaneios...
A música é uma pasta melódica que escorre sons
indolentes e sem pressa sobre o tablado da imaginação. Fermata infinita
celebrando a suave tristura de algum recalque sem remédio... Sopro consolador
da alma aflita, que suscita delitos impossíveis e gera o eflúvio dos
pensamentos proibidos... Recado de todas as distâncias, no tempo, que a trompa
emite e a alma capta no epitáfio dos ritmos desfalecentes... Solo exausto e
sensual dos desesperos de sobreviver...
A Moça-Loira dança o blue no esvazamento da sua
interioridade emocional. Dança e sonha... Uma espécie de êxtase votivo
apazigua-lhe a carne ansiosa, em sua orgulhosa veemência de pecar. As sombras
dos desejos insatisfeitos atropelam-se em fugas sensoriais, como imagens
recalcadas da última tormenta. Sua alma é a paz; seu espírito é a indulgência
dos apelos dilacerados; seu sangue a desmemória dos impulsos superados...
A Moça Loira sente, na nota elástica da música, a
lenta filtração da mocidade. Os alaridos da entrada do Ano-Bom acordam-lhe os
pensamentos sensatos na determinação do tempo. Há folhas de outono, já,
moisacando paisagens à sua frente. A tênue penumbra ambiente traz-lhe a
intimidade das vozes sentenciosas da vida... Mas, a Moça Loira é toda uma
aceitação do irremediável, e seu fortuito pensamento de Ano-Bom. Dança e
sonha... aos braços vigorosos que a enleiam, intencionais, outros mais
sucederão, em líames táteis de volúpia, na impetuosa desintegração do plasma.
Esquece, assim, os sopros rígidos do tempo e refugia-se na idéia vã de
perpetuar o seu enternecido devaneio. As notas longas e lascivas daquele blue
desapressado bem poderão suprimir todas as tintas da lembrança e deixarem-na
parar naquele sonho, distanciada, em nostálgico recuo, dos festivos silvos e
alaridos que saudavam, sim, a fuga de sua mocidade.
Ah!, o sonho de Ano Bom da Moça-Loira, no doce
enlevo daquele lânguido blue de notas mansas...
A VALSA DAS DEBUTANTES
As debutantes dançam a sua primeira valsa....
A ronda alígera dos corpos harmoniosos acorda uma
esperança ideal de vida nova...
As notas lentas debulham sonhos, desfiam rosários
de carícias mansas, acendem as lâmpadas de oiro do primeiro amor...
Tudo refulge no deslumbramento desta noite
maravilhosa!
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As luzes põem lampejos de cristal nos ornatos
geométricos da pista...
Ágeis, frágeis, adejáveis, os pés mimosos descrevem
a fuga das borboletas inebriadas pela fragrância dos nectários...
Parece que a alma da valsa se desagrega na
tonteação dos pés em pontas; e à forma volta, donairosa, pelo ritmo das plásticas
aladas...
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As debutantes dançam a sua primeira valsa...
Rodam, rodeiam, rodopiam, giro-girando em braços
afetivos, na louçania dos movimentos graciosos...
A felicidade tem sorrisos de sol pelos seus olhos
fulgurais...
Por suas cabecinhas inquietas passam procissões de
sonhos em silêncio...
Nasce a primeira ilusão, em sua infinita pureza.
Brota o Enlevo!
Surge a Emoção!
... e eis o amor!...
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Todo o ambiente é de fascinação paradisíaca.
Na pauta das três essências do mundanismo – a
Elegância, o Cavalheirismo, a Euforia – sobreexcele o espírito da Beleza.
A festa é uma divinização da “menina-moça”,
glorificação pagã do “entreaberto botão e entrefechada rosa”. É o noivado da
graça e do Amor!...
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Das cabecinhas tontas esvoaçam as painas dos
pensamentos felizes...
A debutante dança... Dança e sonha... A dança é o
sonho rítmico dos movimentos; o sonho é a dança azul dos devaneios...
Bailar é um vôo impossível que o corpo ensaia pelos
rosais da Vida...
Sonhar é a suprema respiração da alma...
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A debutante dança... Deslumbrada, absorta, feliz...
Lá em casa ficara a última boneca; e a dormir sobre
ela o último beijo de criança...
Agora, é a ditosa senhorinha de olhos ternos e
coração aberto para os anelos do amor...
Sobrevoa-lhe o espírito ingênuo, em seu enlevo
sideral, a esperança de uma felicidade perene...
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Povoai de graça e bênçãos, meu Senhor e meu Deus, a
valsa e o sonho bom da debutante!
O SAMBA
Tem toda a cadência das falas, dos modos, da alma e
da vida do estrênuo Brasil!...
Tem todos os ecos que afirmam os anseios, as dores
e as mágoas da raça caldeada no sangue tapuio, na alma dorida do negro cativo,
na lusa saudade do desbravador!...
Tem todas as vozes da faina dos morros, o ar dos
barracos, o gingo das “negas”, a gíria solerte dos “cabras” matreiros, a
ingênua crendice das velhas mucamas!...
O samba é o Brasil!...
Brasil que gemeu nas torpes senzalas e agora nos
canta os hinos de glória da sua liberdade!...
Brasil de arco e flecha, que impou nas “entradas”
do branco insolente e hoje se alteia, domina e triunfa nos prélios olímpicos; e
faz, nas ciências, nas letras, nas artes, robustas conquistas de nobres
lauréis!...
Brasil das “Bandeiras”, dos “Fortes” invictos, das
lutas sem tréguas ao guapo invasor, que hoje repete façanhas heróicas em Monte
Cassino, Castelo e Suez!...
O samba é bem todo esse alçado Brasil dos nossos
poetas, dos mártires nossos, dos nossos heróis, que, em líricos versos, em vero
holocausto, em feitos audazes, fincaram alicerces de paz e progresso, de
impávida força, de orgulho e riqueza da altiva Nação!...
Brasil de Fernão Dias e Castro Alves!...
Brasil de Paraguassu e Maria Quitéria!...
Brasil de Marcílio Dias e Tiradentes!...
... de Ajuricaba e Felipe Camarão!...
Brasil da Princesa Izabel!...
E todos os vultos, viris, altaneiros, e todos os
feitos augustos da pátria resplendem no samba seus dias de glória, seu vivo
esplendor, no cívico canto de brasilidade, que o samba engrandece, que o samba
enriquece, que o samba traduz!...
O samba referve cadências mulatas no sangue, nos
pés, na alma, nos braços, no sonho, nas veias e no coração da grei
brasileira!...O samba é o Brasil!...
Brasil verdadeiro, que mora nos morros, que corre
nas praias, que sua nos roçados, que laça nos pagos, que corta seringa, que
tange boiadas, que rema no mar...
... que cata garimpos, que doma sertões, que sonda
petróleo, que ordenha, que pesca, que colhe e canta poemas de imensa ternura,
em anelos de amor!...
Cantando e dançando, mexendo e movendo, bolindo e
tinindo, repondo e compondo, - o samba é o Brasil!...
Brasil na glorificação da liberdade!...
Brasil na exaltação da nacionalidade!...
LUZES DE NATAL
Sobre os róseos berços de Gisele e de Monique,
divinizadas na ressonância das éclogas pacíficas, refulgem as luzes de Natal.
Vêm de noites estelares, na ronda cósmica dos séculos, clareando tempos e
distâncias, levando ao céu ânsias e dores, trazendo à terra bênção e paz. São
graças fúlgidas de amor, mensagens fúlgures de Deus, que brilham em súplicas e
preces, que argentam sonhos, que doiram anelos, que expõem revérberos candentes
no chão brunido dos caminhos, que, - auspiciosos, luminosos – conduzem à graças
do perdão.
Monique e Gisele dormem e sonham, em seu berço de
idílica pureza. Dormem e sonham, nesta noite de cânticos e hosanas, - no ar o
aroma das apoteoses. Dormem sorrindo o afeto da inconsciência, sonham habitando
em céu de doce enlevo. São os sonhos frágeis da inocência, sonhos azuis da
puerícia; sonhos que vagam em mundos transcendentes e buscam à vida rumos de
lindeza, - rumos que ficam em nossas ânsias de divindade e perfeição, gratos
refúgios na tormenta, suaves abrigos no infortúnio, nosso conforto e proteção.
Os cursos lépidos de vida, que, sobre os meses de
Gisele e sobre os meses de Monique, contam o bater do coração, somam nirvânicos
desvelos, falam das horas de vigília, dizem do amor que mais sublima, revelam
angústias e paixões. São dias de cândida existência, horas alíferas, fugaces,
que se defluem em bem de graça, entre rosais e madrigais, sob apanágios de
candura, nutrindo ricos cabedais de segurança e de esperança, - horas de frágil
existência, robustecidas nas canções de acalentar, purificadas no calor dos
colos santos e dos regaços veneráveis, maternais.
Na noite mansa de Natal, na noite-paz da
cristandade, as meigas primas dormem e sonham... Flores recentes, lâmpadas
novas, ornatos últimos da velha árvore de Natal, deram-lhe seiva, deram-lhe
força e exuberância...
Deram-lhe a luz da estrela-guia, de céus distantes,
da noite avoenga, - a graça e o bem da virginal concepção... Trouxeram o fulgor
do oiro de Baltazar, a fragrância do incenso de Gaspar e a untura da mirra de
Melchior.
Ah!, mas, dentro em pouco, nesta noite de cânticos
e hosanas, Monique e Gisele acordarão... Meigos sorrisos de criança
unir-se-irão ao todo harmônico da noite, - e seus olhos brilharão como as
estrelas, e a seus ouvidos chegarão os estribilhos das preces leais que saem do
coração, pelos votivos cânticos de amor, pelas ingênuas éclogas erguidas nas
ladainhas e nas pastorais, - e pelos salmos de louvor e glória, - balsâmicos,
anímicos, sublimes, - que dão beleza, amor e poesia à contrição universal.
NO “DIA DAS MÃES”
Estas pompas, estas festas, estes risos, compõem
poemas invioláveis nas cicatrizes de velhas ânsias mal saradas. Elegem toasts
ao Amor Materno, - manancial dos bens da vida, árvore de fronde rica pródiga em
abrigo, jardim que a Mão Divina procriou para a germinação do afeto e da
bondade!
Estas pompas, estas festas, estes risos, salmam e
saúdam o Coração Materno, - emanação das bem-aventuranças que pacificam os
conflitos da razão... veio do perdão e da doçura, em ricas dádivas, nas
entranhas dos séculos... voz de renúncia e desistência, que aconselha e define
com as sentenças de todos os instintos e as vozes sábias do pressentimento...
Mãe-Afeto!
Mãe-Ternura!
Mãe-Amor!
É em teus seios de veludo morno que se dissipam os
pensamentos sem pureza e se refrescam as frontes fatigadas, batidas por cruéis
desesperanças. É de teus olhos de perenes preces, úmidos, mansos, compassivos,
que emanam os ungüentos lenientes para as horas de angústia e depressão... Tuas
mãos são as asas do perdão supremo! Teus lábios soltam a música da vida e a
poesia maior da criação!
Tu és Arrimo!
Tu és Consolo!
Tu és Amor!
O INSTANTE DIVINO
Daquela púcara de água fresca, que era a boca
ansiosa de Danielle, rolavam as bagas da última carícia. Na sôfrega mitigação
de mórbida sede de ternura, que a envolvia em posse extrema, todos os instintos
se refinavam para a consumação do grande momento.
Na madrugada clara, da varanda de bambus debruçada
sobre a praia, sombras de palmeiras esguias decalcavam as vozes do silêncio na
paisagem fria. As ondas acordavam velhas canções dolentes que as saudades
marujas eternizaram em fermatas sem fim... E o luar punha brunidos de faiança
num céu antigo, sempre presente.
Vinha do dancing, pela preguiça elástica do último
bolero, uma sensação de inércia e de fadiga, que lá fora os ventos refrescavam.
A música parecia fixar a imagem daquele instante, sob a incitação reticente de
seu nome: “O momento do amor...” Havia nela um sonoro desejo de explicar os
ímpetos da carne pelo conflito dos graves e agudos que se intercontundiam nos
sopros metalizados. Notável de epigramas estéreis, fastidiosa e vazia de
comunicação, saturada de moleza e indolência, - elucidava, entretanto, a
objetividade daquela misteriosa fascinação dos sentidos.
Danielle vivia todos os fragmentos de seu próprio
devaneio na imobilidade do transporte interior. Em estado langue de graça e
consentimento, deixava repousar, ao colo pando, a cabeça em abandono do
Bem-Amado. Fruía a posse plástica da sua #andolatria, na capacidade integral de
todos os sentidos, com os grandes bens da sensibilidade. Aquele instante de
onírica ternura, hauria-o em gotas, a jovem enternecida, como se protraísse de
si própria, para a perpetuação daquele anelo, a filtração de seus gratos
anseios.
A doce interpretação daquele idílio oferecia alguma
coisa de místico e profundo para o cansaço imenso de sua alma. Eram fusões de
gravidade imperativa integrada no contacto poroso, com a adesão da matéria,
para o curso livre das imagens sem percussão. A expansão dionisíaca do amor
surgia e oscilava entre o espírito ferido pelo efêmero e a idéia misteriosa da
eternidade.
O fundo lírico da paisagem – o mar, as sombras vãs,
o luar, o vento e a música lasciva – tudo ainda conspirava a precipitação do
choque definitivo das revelações quando ocorreu o desmoronamento da resistência
física que o retardava.
- Danielle...
E houve, então, no Espaço, no Tempo e na Forma, o
colapso fatal do macrocosmo no microcosmo do amor...
TUDO ISTO É
DEZEMBRO...
Se nada mais restasse do que essa música sem
memória, que anda nas falas, nos baques e nos toques de todas as coisas, neste
multíssono Dezembro, - só isso bastaria para compensação de nossos íntimos
conflitos, de nossas dores sem remédio, de nossas lutas sem grandeza.
A lírica ressonância que sobrevoa o mês último do
ano, acomoda-nos em um álveo de ingênua beleza, sem resposta e sem eco para as
vozes perdidas, sem imagens ajustadas para os gestos de aflição.
Esse alarido de cores, que veste a estatuária
feminina; essas vozes, que estridulam cristais de preço nos votos de
felicidade; esses ritmos santos, que emanam, ingênuos, das pastorais, essa
fragrância, que vem das árvores e da terra, ao nupcial das chuvas de verão, -
tudo isto é Dezembro!...
É Dezembro o riso da criança pobre a mirar o
triciclo do menino rico; é Dezembro uma estrela caudata fulgindo sobre o mundo;
é Dezembro o olhar sem brilho do homem-sem-pão frente as vitrinas das
confeitarias...
Dezembro está na soma do mundo, no cômputo, da
vida, na integral de todos os movimentos. Está na gris saudade do ancião e no
sonho jovial do adolescente; está nos ganhos do mercador de brinquedos e na
súplica fatigada dos mendigos; está no frêmito apressado das ruas e na doçura
ambiente dos lares mansos.
Dezembro canta nos anelos dos moços, sorri no
contentamento das crianças, revive sonhos nos pensamentos exaustos, murmura
preces no entre-lábios dos ascetas; e grita, brada, zune, tine, rufla e soa,
perene e alegórico, na ronda lírica e orquestral de todos os ruídos da faina
universal.
Tudo isto, agora, é Dezembro! Depois... será
Janeiro...
DO ROMANCE DE
GLAURA...
Certa vez, encontrei-a em depressão de ares
sombrios, como se estivesse a declamar, em compunção, a “oração sobre a
Acrópole”, de Renan.
Confrangia ouvir-lhe a voz de cantochão, naquele
infinito clamor de dolorosa contingência humana, celebrando, talvez, o rapto de
sua alma, em tarde gris, numa curva do mundo.
Olhar manso e parado, expressão anêmica da Forma e
da Emoção, imagem fixa de um instante da extese, - Glaura gerava uma geometria
de ângulos místicos, em pura harmonia com a Obra Criada.
Levara-o o Amor a esse refinamento lírico da
sensibilidade. Mas, o orgulho do seu último pecado incapacitara-a para o
exangue estado de doçura; e o travo insidioso do primeiro consentimento
abrira-lhe as cortinas do seu mundo interior, bem antes de se lhe extinguir o
fulgor da adolescência.
Na sábia justa do coração, a ingênua amorosa
turificara os altares das mercês com os incensos da volúpia acolhedora. A
renúncia, a confiança, a compreensão, - todas as vestes níveas da anuência
fizeram ao alto os sopros do íntimo recato, naquela doce e purificada oferenda
de ternura.
Mas, Glaura esquecera as dádivas sagradas que
atendem aos apelos do instinto. Seu corpo moço, de suscitáveis linhas
harmoniosas, não participara daquela oblata; e os deuses mais justos lhe
recusavam as bem-aventuranças do Amor.
O sonho morto, a alma inundada de aflição, Glaura
sentira o peso do ideal insatisfeito, naquela paisagem viva do seu
dilaceramento de solitária.
Não chorou.
Não clamou.
Por que chorar e clamar dentro da angústia e do
tormento com que assistira à negação da sua lúbrica osmose?...
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Agora que Glaura está morta e que, da sua
lembrança, resta apenas esse desdém, esse fastio indisfarçável para todas as
formas de redenção, - tudo se conclui daquela completa desistência de Deus que
o ricto amargo de sua boca oferecia, diante da Vida, diante do Amor, diante da
morte...
DO CANCIONEIRO DA
ETERNA SAUDADE
Lembro-me bem de suas cantigas... Ainda marulham,
rente à saudade dos meus ouvidos, muitas canções que ela cantava e se
infiltravam docemente nos sentimentos da minha adolescência. Algumas, ternas,
de comovente evocação; outras, alegres, de glosas ricas de facécia, - de quase
todos esses ritmos do velho cancioneiro ficaram trechos esquecidos esvoaçando
nas paisagens da minha recordação. Dessas canções, porém, uma penetrou fundo em
meu espírito e veio comigo, pelos tempos, com a imagem mais viva que conservo
no sacrário do afeto filial. Foi a que ouvi, certo dia, ao fim suave de uma
tarde sem recalques, a escapar-se em tom estranho dos lábios santos de minha
mãe. Passeava, ela, pela praia, eu a seu lado, no espairecimento das suas lides
rotineiras. Soprava da baía de fundo glauco um vento lépido, que segredava
mensagens de carícia às ondas mansas; e a paisagem se estendia para outros
céus, como a encampar mais amplos horizontes para a ilimitação dos seus
deslumbramentos.
Naquele painel de tintas variegadas, edênico em sua
grandeza primitiva, minha mãe pôs-se a cantar. Começou baixinho, em tom de
prece, quase em sussurro, batendo os lábios fartos como em leves contatos de
asas malferidas, o olhar perdido nos longes das distâncias. Depois, ergueu a
voz em escala ascencional, alheiou-se das formas de vida que a cercavam e saiu
a caminhar na areia úmida, rente à água, livre e leve, como se alçasse um vôo
para o Infinito, em busca de algo que dela houvesse em algum tempo se escapado
com o alar das suas últimas quimeras.
Minha mãe cantava alto, com um travo de mágoa e de
ternura na voz sentida. As palavras saíam-lhe da garganta como gemidos de
gaivota ferida, arrancados do fundo de alguma frustração, que só ela conhecia.
Não eram de pranto, porque traziam a secura dos desencantos cicatrizados; não
tinham lágrimas, porque se desprendiam enxutas das gotas de desengano que
haviam banhado o seu exausto coração. Eram mais, talvez, a libertação de velhas
ânsias nos cofres da alma acumuladas como reservas de anelos e esperanças, em
auspícios bons dos bens da vida.
Adolescente, ainda, no gosto de vê-la sempre afável
e prazenteira, fiquei a contemplá-la, meio aturdido, naquele instante de
arrebatamento de sua alma. Era de seu natural uma alegre conceituação da vida,
que ela prodigalizava no jovial amor aos filhos. Amava as plantas e cultivava
os roseirais com a orgulhosa paixão de uma deusa inexorável Muitas madrugadas
de verão surgiram de seus olhos de tâmara seca, entre alaridos e canções, para
o afã das regas no jardim. Exultava no contentamento de ver se abrirem as rosas
nas roseiras que sua mãos boníssimas cuidavam; e o mais desgracioso dos
enfados, que lhe pungiam o coração, vinha de ver colhida uma, sequer, das
flores de suas plantas, que nestas deveriam cumprir seus ciclos de beleza.
Naquele fim de tarde, porém, minha mãe surgia para
mim como uma estranha revelação. Como me parecera extraordinária em seu enlevo!
Que fronte pura! Que olhos cheios de enigmas! Que traços nobres e altivos! Seus
cabelos volumosos e espessos cobriam-lhe a cabeça em novelos assimétricos como
os das estátuas de atletas da escola florentina. Seu passo era o de uma Ninfa
que saísse a cantar na areia das praias do Tirreno. Do seu todo emanava alguma
coisa que era como a respiração da alma através das linhas austeras de seu
corpo.
Com aquele canto secreto do seu coração, a sua
efêmera evasão do mundo palpável, o encanto de mistério que se adivinhava em
sua expressão emocional, - guardei para sempre a sua imagem daquele instante no
meu coração. Por muito que eu viva, nunca poderei esquecer aquela expressão
helênica de seu rosto, a um tempo forte e terna, em recorte de camafeu na
amplidão da paisagem crepuscular. Mas, nunca também poderei compreender a sua
linguagem daquele momento, o grito dilacerado que a sua doce alma de santa
soltara naquela tarde, não sei para quais rumos do Nirvana, através daquela
dolorida melodia, que ficou perene, com a sua imagem, na minha eterna saudade.
CANTIGAS DE FRANÇA
Venho de ouvir canções de França, que um
chansonnier do mundo alto deixou escapar pela filtração de sua garganta de
musgos brandos. Agora, eu trago mais um pouco daquela espiritualidade que
iluminou Sarah Bernhardt e Mounet-Sully, que sublimou Musset e Flaubert e que
deu a euforia das cores a Renoir e o segredo dos sons a Massenet. Agora, eu
sinto mais soberba a força espiritual daquele “Allons enfants de la patrie” que
o cântico heróico universalizou em compassos imortais.
O cantor nos transmite, pelos vitrais da sua voz, a
luz coada de uma França povoada de imagens felizes. Suas canções estão cheias
da ternura e da ironia daqueles vetustos recantos de chão querido, por onde
vagaram santos e poetas, distribuindo, entre os homens e as coisas, muito vidro
translúcido de Evangelho e os mosaicos de sol da Poesia. Falam-nos de paisagens
singelas da campanha, do espírito de um provérbio cheio de bom senso, de algum
cenário de porcelana rente ao Loire, de velhas fábulas e canções na boca dos
paysannes – e tudo isso num modo de contar e de cantar que é o mais doce e o
mais ático do mundo.
Porque, no repertório outado do chansonnier,
desfilam as coisas belas, as coisas boas e as coisas amadas da amada França:
desde o donaire dos figurinos de Lanvin e de Patou ao cosmopolitismo da Praça
Pigalle; desde a suavidade dos perfumes de Guerlain e de Chanel ao formigamento
das midinettes descendo das praças para o métro; desde o bouquet dos vinhos de
Bourgogne – o Chambertim, o Pommard, os Rosés, o Chablis – ao intrincado das
vielas do Templo ou das rampas de Montmartre. Paris está presente naquelas
blagues, naquelas estrofes, naquelas boutades do “Ce Soir”, do “C’est si bon”,
do “Pigalle”. Toda Paris, absorvente e seducente, com seus teatros, seus cafés,
seus cabarés, seus boulevards; a Paris das perspectivas, dos cais do Sena, dos
jardins, dos bois, dos museus, da mocidade alegre da Sorbonne e das modas
femininas em linhas gráceis e volúveis; a jovem Paris eterna, Paris do amor, do
espírito, do trabalho, do gênio, da poesia, da arte, da ciência, da razão de
viver; a Paris das mulheres caindo como andorinhas e pétalas sobre a Praça
Vendôme e a Concórdia; a Paris das noites feéricas alteando as letras
lucifúlgures do “Moulin Rouge”, do “Bal Tabarim”, do “Shéhérazade”, com
coristas e vedettes de todas as pátrias, suas cançonetas maliciosas, suas
folias...
Toda a França, que tanto amamos e cultuamos,
escorre e transborda nas canções que venho de ouvir. A teia de encanto e de
afeto, que envolve de longe a saudade do cantor, é a líquida encarnação do mais
puro e do mais alto lirismo que emana e esvaza daquelas estrofes sensitivas,
plasmando a graça e a verve do encantador espírito de França.
Cantigas de França sempre me embalam e acalentam o
coração...
O VIAGEIRO DA BELEZA
Na caminhada para o Adiante, perdeu-se o Apóstolo,
na busca ansiosa da Perfeição.
Andou, andou, andou... como nos falam dos príncipes
medievais, os racontos azuis dos irmãos Grimm.
Enamorado da forma harmoniosa, desejava a estesia
artística da alma, para o refinamento do aspecto da vida,
Fez-se Bom. Cobriu de graça o mundo para a passagem
das sombras inquietas... Minorou as dores do sofrimento humano com os ungüentos
da Sua misericórdia... Derramou lindezas no Seu rumo e esparziu esperanças por
todos os caminhos, objetivando aformosear os dias da humanidade...
Fez-se Poeta. E, Poeta, cantou, em parábolas
sensíveis, por vales e montanhas, os poemas sos sentimentos generosos
transfundidos no Amor... Amou as crianças, os pássaros, a natureza... Semeou
alentos e otimismos entre os enfermos, os de alma triste e os sem fé... E o
pugilo de iniciados, que agremiu ou em torno de Sua irradiação luminosa,
transformou-os em argonautas de um ideal...
Fez-se santo e obrou milagres: deu aos cegos o
variegado das paisagens, aos surdos a orquestração multíssona do Universo, aos
mortos a eurritmia da vida. As vozes divinas, que emanaram de Sua boca,
santificaram todas as áreas da Terra, séculos a forma, numa perene propagação
da Felicidade...
Então, proclamaram-no Deus!
... e crucificaram-no...
EX-LIBRIS PARA POETA
Mirna joga basquete e impele a esfera com a
agilidade de um felídeo. Salta, enrija as espáduas queimadas, empina o busto
escultóreo e ergue a fronte para o céu, como a atirar uma oferenda de ritmos
elásticos contra o sol. A cabeça é um pênsil cinzelado no sentido da energia
criadora. Seus braços ágeis lembram “rowers” e dançarinos, malabaristas e
arlequins, correndo um páreo de números destros; e os pés, alígeros,
insubmissos, descrevem polioramas esquisitos na tonteação dos movimentos.
No acaso dos prélios decisivos, Mirna sente que
suas mãos são fortes, que seus músculos são de ferro e poderiam, se ela
quisesse, cortar o mármore duro, quebrar e percutir com violência, empurrar
montanhas e deter o mar. Mas, a sua delícia estética está na maleabilidade da técnica
de impelir a substância palpável, na exatidão do golpe, que a força bruta anula
e só a inteligência precisa. Aqui, o impulso é certo, o passe é medido, e bem
calculada é a impulsão da bola. Há um apuro consciente na economia dos
movimentos, como se quisesse afirmar a tese da força educada e da coragem
equilibrada.
Mirna joga basquete inaugurando regras básicas no
código da estatuária. Lesto e vivo, seu corpo é o corte rápido e incisivo de um
golpe de florete, na pleniposse do espaço. Nas linhas suaves de sua forma, tudo
é equilíbrio e harmonia: equilíbrio de energia e propulsão, harmonia de
movimento e destreza. Inato à estrutura de seu físico, há uma correta
declinação de curvas, que se alongam em seqüências donairosas, com a
consciência e o sentido da agilidade retrátil.
Mirna é uma festa de movimentos corpóreos ao ar
livre. Seu riso é alegre e matinal, seus olhos refletem as imagens de um
cenário de brinquedo, sua presença insinua um plano interior de ímpetos
felizes. O busto ereto, as coxas lisas, os seios em pontas, a cabeça em postura
viril, o perfil de acentuado recorte, poderiam sugerir uma criação da
estatuária grega, talvez o Apolo de Belvedere, se no olhar de Mirna não
houvesse uma chama viva, ora doce, ora meiga, denunciando a presença de um
coração ferido.
Bonita idéia, toda ela, no recorte da silhueta
impetuosa, para o ex-libris de um poeta surrealista.
CONDESSA
Só se pode imaginá-la, coerentemente, na figura
daquela estela do Cerâmico, tão ressumante de vitalidade. Seu busto heril, de
aristocráticos contornos, impõe o trato de reverências bem cuidadas, como se um
brasão de velha estirpe se insinuasse naquele olhar de graciosa austeridade.
Chamemo-la Condessa!... Senhora Condessa!... Porque
o seu porte, seu busto e seu orgulho são de Condessa. Por sortilégio da
formosura e da coerência, o clima de emoção que ela suscita, banha-o o hálito
longínquo de austeras cortes, prisioneiras de regras e etiquetas.
Condessa é bem uma imagem senhoril numa balada
nobre de Rostand. Beleza altiva, mas de olhar suavemente faisandé, seus traços,
sua estatura, condizem com as linhas áticas do espírito, na expressão forte da
personalidade. É toda graça e dignidade, sem discrepância do que lhe vem da
alma romântica, nas justas hábeis do amor.
Toda a sua vida tem a beleza heróica de um romance.
E, com o desencanto das borboletas sem horizontes, anseia pelo retorno à
crisálida. Por muito alto sonhar, solteira permanece, aceitando sem tristeza
que se dissipem, no tumulto das emoções, as tintas vivas da primeira mocidade.
No Amor, como na Arte e na Vida, Condessa
apostoliza a interpretação lírica do silêncio. Mantendo o sentimento
singularmente impassível, - sem derrame, sem sensualidade, - deixa que os
arroubos de volúpia se deformem em imagens abstratas, dando a impressão de
haver amordaçado os próprios nervos para reter a felicidade dentro de si mesma.
O raconto de Narciso ainda é a mais humana das
concepções lendárias... Pegai Condessa, salpicai-a de amor e ansiedade,
deixai-a mirar-se, oculta, ao espelho de um lago sossegado, - e eis Narciso!,
enamorado de seus sonhos, de sua beleza, de seu orgulho...
NO CAMINHO DAS
ESTRELAS
No chão reflexo, sob o cone de luz pênsil do teto,
salta das trevas a silhueta da bailarina. Não é mais que a tênue pluma de
Verlaine, vestindo a imagem da fragilidade; nem menos que a emoção plástica
palpável gerada em seiva de cristal. É o jogo rítmico da Forma, a geometria
sensorial dos movimentos, com que a etérea figurinha de Tánagra coreografa, na
pista luzidia, o sentido escultório do equilíbrio.
Graça volátil, envolta em fúmeu véu de bisso,
virgem e leve como um lírio, a lesta wilis meneia alíferos anseios, doma o
espaço e se espirala em airoso voluteios, na argêntea faixa luminosa. Baila em
oração: a expressão doce, os olhos súplices, nos lábios rictos a flor de um
beijo de perdão. Suas mãos têm frêmitos de prece: flaflam tremuras de
misericórdia, adejam acenos de mea-culpa, grafam sinais de contrição. Os pés
deslizam, giram e correm, - flexíveis, alígeros, fluidais, - pétalos destros da
cadência, plantas macias em tatos de veludo. Duas serpentes de carne rósea e
elástica são seus braços, em harmônicos volteios pelo ar, como raízes de um
caule teso e fléxil buscando os sumos da sobrevivência. De ventre esguio, de
busto ereto, de coxas lisas, todo o seu corpo, esbelto e lépido, inspira o
ideal da estatuária. Dança! e, na dança, ao som dos ritmos sensíveis do ballet,
tem toda a movimentação da natureza: nada e voa, salta e coleia, rebenta e
excita; é peixe e pássaro, gato e serpente, arbusto e mulher. Seus músculos se
enrijam à flor da cútis nívea, suas veias refervem o plasma árdego e infrene da
emoção. Toda ela é a voragem da posse exclusiva da matéria, a alma inflamada de
êxtases e ardores veementes, em decalque na sua plástica harmoniosa.
Súbito, a música finda, a bailarina se imobiliza, a
luz se esvai. Da mensagem de beleza que ela nos trouxe ficaram esvoaçando em
nosso pensamento, como uma ave cativa, os fragmentos daquele prisma de faces
multivárias que o bailado refletia, - fascinante painel de arte emocional,
imperecível de genialidade na razão estética do eterno espetáculo.
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Agora, a bailarina está prostrada. Na quietação do
camarim, fechada e só, dorme em hipnose. É toda o abandono da força irrefreável
que lhe agitara o corpo e o sangue; é toda o silêncio do tumulto em que,
momentos antes, se fundiam os grandes apelos de seus músculos elásticos. O doce
apaziguamento de sua carne marca limites entre a concepção reflexa da vida e o
gosto exótico da morte.
Mas, o espírito da bailarina não repousa. No imenso
dulçor da queda física, desvia-se para o efêmero. Tem sede de infinito e adeja,
em ronda insatisfeita, pelos caminhos das estrelas. Liberto do corpo em
letargia, continua a dança que este interrompera. Desloca-se para os prados e,
colibri sôfrego, vai, de corola em corola, haurindo néctares acídulos. Oscula
as relvas, afaga as fontes, vence as paisagens, beija as ramagens, dançando
sempre, bailando tonta, em desvairada busca do Impossível, do Intangível, do
Inatingível. Galga as montanhas, atinge os picos e pula para Via-Láctea; e vai,
de estrela em estrela, em saltos rítmicos e doidos rodopios, bailando sempre,
dançando sôfrega e alucinadamente, na ânsia de encontrar e de atingir, como na
própria miragem de sua arte, talvez o fim do Infinito!
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No morno recesso do camarim, fechada e só, a
bailarina desperta. Restituída dos cansaços que a extenuavam, retoma a posse da
inteligência, - viçosa e esbelta flor de carne, nua e impalpável como no sonho
de um fauno. E surge-lhe, então, do fundo espesso da penumbra, como em racontos
de Grimm, o espectro fúmeo do Ballet. Já da orquestra, à distância, vinham os
primeiros agoirais acordes da Dança Macabra, de Saint-Saens, sugerindo a
impressão vertiginosa de um turbilhão aéreo em fuga da terra, para voltear, no
espaço, como os planetas.
- Que queres mais de mim? – indaga, espavorida, a
bailarina.
- A fluidificação do que, em ti, ainda é matéria
apodrecível. Carne, sangue, pus e lágrimas são insidiosas degradações das
graças sagradas que recebeste para os milagres da interpretação da vida. No que
há, em ti, de luz e unidade interior vivificam as grandes concepções do ideal
artístico. És o instante de uma retirada harmoniosa para o transcendentalismo
puro, o misterioso refinamento de uma vocação que encontrou a sua outra face na
luz da tua predestinação. Fonte cristalina e marulhenta da criação divina, só
teu espírito perdurará no mundo da suprema e eterna claridade. Porque reténs,
dentro de ti, o clarão privativo dos seres para os quais a dança é a mais pura
expressão da beleza. Não há um fim na trajetória do sentimento artístico, nem
limites, no sobrenatural, para as aspirais da genialidade. À inteligência
humana é obscura a decifração dos pólos magnéticos da arte, onde sempre se
confundem as perspectivas da imaginação.
- Vai e dança! Teu sonho foi panorâmico do curso
infinito e luminoso em que se ampliam as razões estéticas da tua arte. Vai e
dança!, - até que o teu espírito se acenda, pelos caminhos das estrelas, na
paixão das potestades que te lançaram em seus desígnios! E terás, então, - luz
e essência! – o milagre excelso da tua metempsicose em criatura sagrada, ungida
com o íon divino que emana dos arcanos altíssimos e eternos do Nirvana.
Missa ao grande morto
Amanhecera o dia oitavo do pesar imenso. A
enormidade daquele óbito ainda contundia o sentimento da cidade. Todos os
ruídos, os mais sutis murmúrios perdidos no espaço, traziam a força
harmonizadora da grande dor, -- dessa dor que não grita, que não vocifera, que
não reclama, porque macerada pela brutalidade dos desfechos cruéis, porque
esmagada pela violência dos desenlaces inesperados. Os lamentos lânguidos, os
fundos vagidos sem remédio, a desolação quieta e - tudo se pronunciava
discretamente através dos sons plangentes dos sinos da Catedral, ao amanhecer
do dia 22 de outubro do ano primeiro deste Século.
Era a missa ao Grande Morto: Eduardo Ribeiro! A
cidade muito o amava, muito o povo o admirava; e esse amor tinha raízes naquela
espécie de comunicação secreta que se difundia no seio das massas como fluidos
da uma natural compreensão entre o homem e o povo. A consciência dessa
afinidade de pensamento brotara de uma aura de simpatia e solidariedade ao
tenente que fora punido com a transferência para a guarnição do Amazonas, por
seus arroubos republicanos; e já se manitestara em 1891, quando o povo
amazonense, reunido em cívico pronunciamento, na Praça da República, o aclamara
«Governador Efetivo do Estado do Amazonas», em altiva represália à sua demissão,
«traiçoeiramente conseguida do Governo Geral pelos inimigos da República». O
desprezo à vontade popular, de parte das autoridades da Nação, resultara no
robustecimento de sua popularidade, consagrada naquele pleito de 1892, que o
conduzira à governação do Estado, no período de julho desse ano a julho de
1896. Eduardo Ribeiro deixara de ser, aí, o tenente de Floriano. A missão
conferida pelo «Marechal de Ferro» no sentido de restaurar a ordem no Estado,
as relações estabelecidas com as necessidades públicas, e aquele insistente
clamor de súplica, derredor ao seu nome, que ele bem compreendia ser mais o
apelo a um porvir melhor, tudo isso contribuíra para amadurecer no idealista
republicano a consciência da democracia. Ele era, agora, o eleito de um povo que
se agigantara na hora amarga da reação, para entregar-lhe o comando de seu
próprios destino. Cumpria-lhe, pois, tudo fazer pela felicidade dessa grei.
O «Pensador» - assim a gente do povo se referia,
muito afetivamente, ao antigo diretor do jornal maranhense "O
Pensador" executara um governo justo e de afirmativas reali - zadoras. A
grandeza de sua obra ficara perpetuada na suntuosidade do Teatro Amazonas, na
imponência do Palácio da Justiça, nas fidalgas linhas estruturais da ponte de
ferro da Cachoeirinha. A cidade de Manaus teve a sua expansão urbana com a
abertura e construção de novas ruas e nivelamento e calçamento das já
existentes. Praças nuas e desertas receberam o adorno de jardins, fontes e
monumentos.Construiu-se reservatório de imponência arquitetônica para a água do
abastecimento geral, e novos bairros fizeram a cidade para as florestas que a
circundavam.
Eduardo Ribeiro fez mais: reorganizou e levantou o
nível da instrução pública; incrementou a navegação para o interior e para a
Europa; deu impulso às indústrias incipientes; e, ele mesmo, toda a legislação
estadual nas bases do novo regime. Uma idade de ouro foi inaugurada para os
amazonenses, naquele quadriênio
fecundo, em cujo decurso as rendas se elevaram de
cinco para dez mil contos de réis ("Não exagero em dizer-vos que as fontes
de receita deste Estado são inesgotáveis"). Encerrado período de sua
gestão, sentira-se à vontade para exclamar com ufania: «Encontrei uma grande
aldeia e fiz dela uma cidade moderna!» E era esta cidade moderna que agora lhe
chorava a morte (« em circunstâncias um tanto misteriosas»...), através dos
sinos plangentes da Catedral, convocando-a para a missa ao Grande Morto,
naquela manha de 22 de outubro de 1900. Havia oito dias que, aquela mesma hora,
a notícia brutal entorpecera a cidade, deflagrando de porta em porta, em todos
os lares, no centro, nos subúrbios, no litoral: «O Pensador morreu !» Lá, à
margem da Estrada de Flores, em meio à desolação, ficara a aprazível chácara
que abrigara o corpo fatigado do grande lidador. O renque de árvores frondosas,
desde o portão até o edifício no alto da pequena colina, deixara passar, em
procissão, a multidão pesarosa. Pelos jardins bem cuidados floriam as roseiras
que ele plantara. Ao lado, o igarapé murmurava queixas brandas em sua
corredeira interminável. Lá ficara o chalé com as bombas para a elevação da
água e, mais adiante, o pequeno depósito do gazômetro. Ao fundo, as baias com o
alazão predileto, o galinheiro e, sob arvoredo sombrio, aquele barracão de
madeira, coberto de lona, tendo ao centro uma grande mesa em forma de U, para
os repastos domingueiros, com os amigos. Lá ficara, em prantos, d. Isabel Maria
de Sousa Leal, a fiel governanta de muitos anos; lá ficaram, consternados e
chorosos, pelo muito que o amavam, a criada Manuela, o cozinheiro Alanco e os
jardineiros Emilio e Joaquim.
Oito dias iam decorridos e a mágoa era intensa. Por
isso, os sinos plangiam, ao amanhecer daquela segunda-feira, anunciando a missa
ao Grande Morto.
A Catedral apresentava pomposa decoração interior,
toda forrada de veludo negro, o chão totalmente atapetado, pendendo dos
púlpitos cortinas pretas franjadas de prata. Austeros escudos, com o monograma
EGR, fixavam-se nas paredes, entrelaçados de palmas, combinando com outro maior
no arco principal do templo. Ao centro da nave ostentava-se o catafalco, do
qual erguia imponente coluna, envolta em crepe, e, caído, ao lado, o pedaço
quebrado. Nos quatro cantos do catafalco, ardiam lâmpadas comburentes,
oferecendo o símbolo da purificação; e, derredor, estavam as armas ensarilhadas
em funeral, clarins e tambores silenciosos, uma metralhadora, um
canhão-revólver, um teodolito envolto de crepe, a mira-falante e outros
apetrechos do engenheiro-militar.
Pouco antes das oito horas, a igreja não mais
comportava a multidão, que se derramava pelas áreas circunvizinhas, enchendo
ruas e jardins.O comércio fechara, permanecendo também sem funcionar as
fábricas e as repartições. Os sinos não cessavam de emitir gemidos pungentes
pelo ar. Ia, agora, começar a missa. Já o prebistério estava lotado de
autoridades, cônsules, militares, sacerdotes, representantes de associações de
classe, imprensa.
A banda de música do Regimento Policial tomara
posição à porta de entrada e no coro, já se encontravam a orquestra «Carlos
Gomes» e os componentes do Círculo Musical Religioso «Dom Antônio de Macedo
Costa», ambos sob a regência do maestro Joaquim Franco. Compunham a orquestra
os violinos Marsicano, Alípio, Salvador, Albano, Ildefonso, Turino e Granjeiro;
a viola Belfort; o violoncelo Vesce; o contrabaixo Palácio; as flautas Campos e
Sobreira; os pistões Rodrigues e Sarmento; os trombones Tenório e Lisímaco; o
tímpano Antunes; o tambor Silva. O coro estava constituído das senhoras Lavor e
Matilde Schiavinato e senhores Lavor, F. Fava, A. Soares, N. Tangerini e J.
Bernardo.
Precisamente às oito horas, o governador Silvério
Nery deu entrada no templo. Dez minutos após, monsenhor Benedito da Fonseca
Coutinho, acolitado por monsenhor Hipólito e pelo padre Vicente Peres, deu
início ao cerimonial. À porta, a banda de música rompeu em comovente marcha
fúnebre e no coro, a seguir, a «mezzo-soprano» senhora Schiavinatto entoou a
«Ária de Igreja» de Stradella, com acompanhamento de órgão e violoncelo.
Prosseguiram os rituais da encomendação, e, em momento exato, a orquestra
«Carlos Gomes» executou a «Marcha Fúnebre», de Petrella. Mais logo, foi o coro
do Círculo Musical que ergueu o "Libera-me" de Cagliero, acompanhado
pela orquestra, que finalizou a cerimônia com outra comovente marcha fúnebre.
Silenciosa e recolhida, a multidão deixou o templo.
Havia uma espécie de atonia, de apatia moral, de desalento e indiferença nas
atitudes de resignação daquela gente. O povo tinha a consciência exata da perda
que sofrera com o desaparecimento de Eduardo Ribeiro; sabia que estava extinta
a chama poderosa do grande visionário que lhe conduzira os destinos pelos
caminhos da prosperidade. Aquele cérebro insatisfeito,que tantos pensamentos
alimentara, que abrigara opulentos sonhos de grandeza para o Amazonas, que
antevira o fastígio de uma civilização através das artes, das letras, do
comércio, da navegação, servida por leis justas e magnânimas, liderada por
homens de espírito sadio e intenções puras, - aquele cérebro estava agora
dentro da terra, inerte, inútil, paralizado, extinto, morto! Mas, o nome de
Eduardo Ribeiro, nunca ninguém o poderia arrancar, por todos os tempos, por
todas as gerações, daquele monumento que para sempre ficara plantado no coração
dos amazonenses: a Gratidão!
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