quarta-feira, 20 de julho de 2011

Nisia Nobrega


PASSA A VIDA

Nisia Nobrega



(Foto de Nisia Nobrega em "Ilustração brasileira", outubro de 1952)


Era o rio?
Era a vida?
Era a ponte? era o lago?
Era o beijo? era o sonho?
Vibração de ternura em nossas mãos unidas
sobre o rio, sobre a ponte,
sobre a espera, sobre o lago.
Angústia de solidão,
nas nossas almas incomunicadas.
Azul tremor de frio no silêncio.
Por onde o impulso do desejo vago?
Passa o rio,
Passa a vida,
Onde a ponte?
Era o amado?



Nossa Querida Amiga
Nísia Nóbrega
faleceu no ano 2.000



   Adeus              
                                       Nísia Nóbrega


Assim plena de amor, em meio à Primavera
despeço-me de ti, e a solidão reclamo;
mas, ao dizer-te adeus, é como se dissera
com a boca nos teus lábios: meu amor, eu te amo!

Entôo esta cantiga onde a tristeza impera  
qual árvore que vê partir-se o último ramo
curvando-se de dor, sem nada mais à espera:
- eu peço que te vás, e quase que te chamo!

Que em tuas mãos perdure o aroma destas flores;
colhe quantas quiseres, pois quando te fores,
nenhuma restará na angústia dos meus braços!

A sombra do meu rosto seja o último beijo,
e, docemente, vá contigo, e em leve adejo
apague-se no chão com a sombra dos teus passos!




Nisia tinha uma qualidade rara: tinha grandeza. Nasceu em Mamanguape, Paraíba, no dia 1 de maio de 1928, filha de uma família de ricos fazendeiros. Seu pai, porém, tomado de uma certa depressão, vendeu suas terras e trouxe a família para o Rio de Janeiro, onde tudo perdeu e onde veio a falecer. Assim a mãe teve de “costurar para fora”, como se dizia, e logo colocou o filho no Exército e Nísia tornou-se professora primária, e depois professora creio que da Escola Normal. Quando do governo militar, seu primo Jarbas Passarinho, então Ministro da Educação, transferiu-a para a Rádio MEC onde Nísia teve um programa de entrevista durante muito tempo. Foi quase Adido Cultural do Brasil no Chile e casou-se tardiamente com um empresário, um editor estrangeiro. Sabia receber, sabia valorizar o trabalho do outro, tinha uma qualidade rara: tinha grandeza. Escreveu vários livros de poesia, como Nos braços leves do vento (1951); Rosa distante (1953,); Completamente amor (1961); Ramo da saudade ( 1965, poesia); Isla-sin-raices (1971); Na flor da correnteza (1979), Mamanguape. Faleceu em 2.000. (Rogel Samuel)




DA IMPRENSA DA ÉPOCA:


Nisia Nóbrega Leal "NOS BRAÇOS LEVES DO VENTO..."


Apesar de ainda muito nova na literatura brasileira, a
senhora Nisia Nóbrega Leal está colocada num alto nível entre
as poetisas da sua geração.
Seu livro de poemas "Nas braços leves do Vento...", publicado recentemente, d e i xa transparecer uma alma cristalina
e simples, como êsses fios de água dos oásis que correm
sôbre as areias, longe do pó, e que parecem mais deslisar num
fragmento dourado do céu do que na terra. Mas, nessa clara
singeleza, feita de ternura e quase humildade, há muita
imagem profunda, muita transcedência, muita altitude. Habituada ao estudo, à meditação constante, pois é mestra
de Pedagogia no Instituto de Educação desta Capital, Nisia
Nóbrega Leal nem por isso perdeu a sua suave espontaneidade,
aquela graça pura que dá as suas idéias um sabor sentimental, muito mais convicente do que os raciocinios frios de qualquer filósofo. Infinitamente feminina, embora culta e ágil quando argumenta diante das suas alunas, a poetisa de "Nos braços leves do Vento..." é uma personalidade encantadora: lembra aquêles delicados e raríssimos vasos chineses do século XVI, que não pesavam e traziam sempre o reflexo de um arco-iris
que não era deste mundo.



(In "Ilustração brasileira", outubro de 1952)


NOBREGA, Nisia.  Mamanguape.   Rio de Janeiro: José Olyympio, 1986.   61 p.   14x21 cm.  Capa: Jair Pinto.  ISBN 85-00163-2  “ Nisia Nobrega “  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.

Nisia Nobrega é a mais feminina das nossas poetisas: delicada, envolvente, docemente tocada de ternura e bondade. Lemos com emoção seu livro tão puro, de lirismo claro e manso de água corrente. E como sabe falar de amor essa deliciosa voz de mulher! Encanta e comove ler poems como os de Rosa distante.”  PEREGRINO JÚNIOR
Nisia Nobre maneja com rara perfeição a nossa língua, compondo versos e alinhando prosa com a mesma facilidade. A II Guerra exaltou a emotividade poétic da alma de Nisia Nobrega. Viu partir o marido e um irmão, e tantos jovens patrícios nossos, em socorro da civilização pacífica da humanidade, ameaçada pelas insanas e grosseiras hostes nazistas. E de seu plectro de fina têmpera ressoaram hinos que hão de certamente figurar um dia em nossas melhores antologia.” BASILIO DE MAGALHÃES

          POEMA DE AREIA E VENTO
          Por onde, Mamanguape?
          O medo ia e vinha
          com cheiro de caldo de cana,
          no vento encanado
          das ruas de Areia.
          Areia é só ventania:
          vento trazendo lembrança
          de gente buscando ouro,
          de gente tangendo bois.
          Areia de hoje rima vento e convento,
          faz-se caminho do amanhã,
          cresce no estudo,
          religiosamente renascente.
          Areia de ontem,
          por onde?
         
          NO CLAUSTRO DE AREIA
          No amanhecer,
          descobri o jardim,
          dentro do claustro,
          fechado ao vento
          e aberto ao sol.
          Suas flores cheiravam a incenso.
          Pareciam-se com as velhas freirinhas alemãs
                                                 que o cuidavam,
          quase cegas, quase surdas,
          mas erguidas e brancas,
          lírios vigilantes,
          de pureza intacta.

          POEMA DA MANGA-ROSA
          Mamangua-penso, e ao risco escapo.
          Volto no tempo...
          Macia pele de manga-rosa,
          mão descascava.
          Sumo escorrendo,
          da boca ansiosa,
          manchava a manga
          da blusa nova,
          tão cor-se-rosa,
          tão manga-rosa,
          tão perfumada...
          Manchada? Não.
          Aquela blusa ficou foi doce,
          e mais macia,
          sem engomados,
          só manga e róseo
          tempo escorrendo,
          despetanlado.

          
          

ONDE FOI RIO – Nísia Nóbrega

Onde foi rio, era chão,
duro, lavado, sem brio.
Nenhuma flora para espera,
rachando ao sol,
chão de estio.
Onde foi rio, corri,
lágrima e sal de esperança.
Espera e anseio perdi
de me rever em criança.
E já não cri, já não cri.
Por onde os grilos da infância?
Quem de buscar não se cansa?



História do Menino que Perdeu e Achou a Sua Alegria (Cód: 1576889)

Nóbrega,Nisia

Agir



LIVROS DE NISIA NÓBREGA

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