PASSA A VIDA
Nisia Nobrega
(Foto de Nisia Nobrega em "Ilustração brasileira", outubro de 1952)
Era o rio?
Era a vida?
Era a ponte? era o lago?
Era o beijo? era o sonho?
Vibração de ternura em nossas mãos unidas
sobre o rio, sobre a ponte,
sobre a espera, sobre o lago.
Angústia de solidão,
nas nossas almas incomunicadas.
Azul tremor de frio no silêncio.
Por onde o impulso do desejo vago?
Passa o rio,
Passa a vida,
Onde a ponte?
Era o amado?
Nossa Querida Amiga
Nísia Nóbrega
faleceu no ano 2.000
Adeus
Nísia Nóbrega
Assim plena de amor, em meio à Primavera
despeço-me de ti, e a solidão reclamo;
mas, ao dizer-te adeus, é como se dissera
com a boca nos teus lábios: meu amor, eu te amo!
Entôo esta cantiga onde a tristeza impera
qual árvore que vê partir-se o último ramo
curvando-se de dor, sem nada mais à espera:
- eu peço que te vás, e quase que te chamo!
Que em tuas mãos perdure o aroma destas flores;
colhe quantas quiseres, pois quando te fores,
nenhuma restará na angústia dos meus braços!
A sombra do meu rosto seja o último beijo,
e, docemente, vá contigo, e em leve adejo
apague-se no chão com a sombra dos teus passos!
Nisia tinha uma qualidade rara: tinha grandeza. Nasceu em Mamanguape, Paraíba, no dia 1 de maio de 1928, filha de uma família de ricos fazendeiros. Seu pai, porém, tomado de uma certa depressão, vendeu suas terras e trouxe a família para o Rio de Janeiro, onde tudo perdeu e onde veio a falecer. Assim a mãe teve de “costurar para fora”, como se dizia, e logo colocou o filho no Exército e Nísia tornou-se professora primária, e depois professora creio que da Escola Normal. Quando do governo militar, seu primo Jarbas Passarinho, então Ministro da Educação, transferiu-a para a Rádio MEC onde Nísia teve um programa de entrevista durante muito tempo. Foi quase Adido Cultural do Brasil no Chile e casou-se tardiamente com um empresário, um editor estrangeiro. Sabia receber, sabia valorizar o trabalho do outro, tinha uma qualidade rara: tinha grandeza. Escreveu vários livros de poesia, como Nos braços leves do vento (1951); Rosa distante (1953,); Completamente amor (1961); Ramo da saudade ( 1965, poesia); Isla-sin-raices (1971); Na flor da correnteza (1979), Mamanguape. Faleceu em 2.000. (Rogel Samuel)
DA IMPRENSA DA ÉPOCA:
Nisia Nóbrega Leal "NOS BRAÇOS LEVES DO VENTO..."
Apesar de ainda muito nova na literatura brasileira, a
senhora Nisia Nóbrega Leal está colocada num alto nível entre
as poetisas da sua geração.
Seu livro de poemas "Nas braços leves do Vento...", publicado recentemente, d e i xa transparecer uma alma cristalina
e simples, como êsses fios de água dos oásis que correm
sôbre as areias, longe do pó, e que parecem mais deslisar num
fragmento dourado do céu do que na terra. Mas, nessa clara
singeleza, feita de ternura e quase humildade, há muita
imagem profunda, muita transcedência, muita altitude. Habituada ao estudo, à meditação constante, pois é mestra
de Pedagogia no Instituto de Educação desta Capital, Nisia
Nóbrega Leal nem por isso perdeu a sua suave espontaneidade,
aquela graça pura que dá as suas idéias um sabor sentimental, muito mais convicente do que os raciocinios frios de qualquer filósofo. Infinitamente feminina, embora culta e ágil quando argumenta diante das suas alunas, a poetisa de "Nos braços leves do Vento..." é uma personalidade encantadora: lembra aquêles delicados e raríssimos vasos chineses do século XVI, que não pesavam e traziam sempre o reflexo de um arco-iris
que não era deste mundo.
(In "Ilustração brasileira", outubro de 1952)
NOBREGA, Nisia. Mamanguape. Rio de Janeiro: José Olyympio, 1986. 61 p. 14x21 cm. Capa: Jair Pinto. ISBN 85-00163-2 “ Nisia Nobrega “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
“Nisia Nobrega é a mais feminina das nossas poetisas: delicada, envolvente, docemente tocada de ternura e bondade. Lemos com emoção seu livro tão puro, de lirismo claro e manso de água corrente. E como sabe falar de amor essa deliciosa voz de mulher! Encanta e comove ler poems como os de Rosa distante.” PEREGRINO JÚNIOR
“Nisia Nobre maneja com rara perfeição a nossa língua, compondo versos e alinhando prosa com a mesma facilidade. A II Guerra exaltou a emotividade poétic da alma de Nisia Nobrega. Viu partir o marido e um irmão, e tantos jovens patrícios nossos, em socorro da civilização pacífica da humanidade, ameaçada pelas insanas e grosseiras hostes nazistas. E de seu plectro de fina têmpera ressoaram hinos que hão de certamente figurar um dia em nossas melhores antologia.” BASILIO DE MAGALHÃES
POEMA DE AREIA E VENTO
Por onde, Mamanguape?
O medo ia e vinha
com cheiro de caldo de cana,
no vento encanado
das ruas de Areia.
Areia é só ventania:
vento trazendo lembrança
de gente buscando ouro,
de gente tangendo bois.
Areia de hoje rima vento e convento,
faz-se caminho do amanhã,
cresce no estudo,
religiosamente renascente.
Areia de ontem,
por onde?
O medo ia e vinha
com cheiro de caldo de cana,
no vento encanado
das ruas de Areia.
Areia é só ventania:
vento trazendo lembrança
de gente buscando ouro,
de gente tangendo bois.
Areia de hoje rima vento e convento,
faz-se caminho do amanhã,
cresce no estudo,
religiosamente renascente.
Areia de ontem,
por onde?
NO CLAUSTRO DE AREIA
No amanhecer,
descobri o jardim,
dentro do claustro,
fechado ao vento
e aberto ao sol.
Suas flores cheiravam a incenso.
Pareciam-se com as velhas freirinhas alemãs
que o cuidavam,
quase cegas, quase surdas,
mas erguidas e brancas,
lírios vigilantes,
de pureza intacta.
descobri o jardim,
dentro do claustro,
fechado ao vento
e aberto ao sol.
Suas flores cheiravam a incenso.
Pareciam-se com as velhas freirinhas alemãs
que o cuidavam,
quase cegas, quase surdas,
mas erguidas e brancas,
lírios vigilantes,
de pureza intacta.
POEMA DA MANGA-ROSA
Mamangua-penso, e ao risco escapo.
Volto no tempo...
Macia pele de manga-rosa,
mão descascava.
Sumo escorrendo,
da boca ansiosa,
manchava a manga
da blusa nova,
tão cor-se-rosa,
tão manga-rosa,
tão perfumada...
Manchada? Não.
Aquela blusa ficou foi doce,
e mais macia,
sem engomados,
só manga e róseo
tempo escorrendo,
despetanlado.
Volto no tempo...
Macia pele de manga-rosa,
mão descascava.
Sumo escorrendo,
da boca ansiosa,
manchava a manga
da blusa nova,
tão cor-se-rosa,
tão manga-rosa,
tão perfumada...
Manchada? Não.
Aquela blusa ficou foi doce,
e mais macia,
sem engomados,
só manga e róseo
tempo escorrendo,
despetanlado.
ONDE FOI RIO – Nísia Nóbrega
Onde foi rio, era chão,
duro, lavado, sem brio.
Nenhuma flora para espera,
rachando ao sol,
chão de estio.
Onde foi rio, corri,
lágrima e sal de esperança.
Espera e anseio perdi
de me rever em criança.
E já não cri, já não cri.
Por onde os grilos da infância?
Quem de buscar não se cansa?
História do Menino que Perdeu e Achou a Sua Alegria (Cód: 1576889)
Nóbrega,Nisia
Agir
LIVROS DE NISIA NÓBREGA
Nenhum comentário:
Postar um comentário