sábado, 15 de setembro de 2018

CAMÕES, CANTO 6

Canto Sexto 
                                                     
1 -
        Não sabia em que modo festejasse 
        O Rei Pagão os fortes navegantes, 
        Para que as amizades alcançasse 
        Do Rei Cristão, das gentes tão possantes; 
        Pesa-lhe que tão longe o aposentasse 
        Das Européias terras abundantes 
        A ventura, que não no fez vizinho 
        Donde Hércules ao mar abriu caminho. 
  

2 -
        Com jogos, danças e outras alegrias, 
        A segundo a polícia Melindana, 
        Com usadas e ledas pescarias, 
        Com que a Lageia Antônio alegra e engana 
        Este famoso Rei, todos os dias, 
        Festeja a companhia Lusitana, 
        Com banquetes, manjares desusados, 
        Com frutas, aves, carnes e pescados. 
  

3 -
        Mas vendo o Capitão que se detinha 
        Já mais do que devia, e o fresco vento 
        O convida que parta e tome asinha 
        Os pilotos da terra e mantimento, 
        Não se quer mais deter, que ainda tinha 
        Muito para cortar do salso argento; 
        Já do Pagão benigno se despede, 
        Que a todos amizade longa pede. 
  

4 - 
        Pede-lhe mais que aquele porto seja 
        Sempre com suas frotas visitado, 
        Que nenhum outro bem maior deseja, 
        Que dar a tais barões seu reino e estado; 
        E que enquanto seu corpo o espírito reja, 
        Estará de contino aparelhado 
        A pôr a vida e reino totalmente 
        Por tão bom Rei, por tão sublime gente. 
  

5 - 
        Outras palavras tais lhe respondia 
        O Capitão, o logo as velas dando, 
        Para as terras da Aurora se partia, 
        Que tanto tempo há já que vai buscando. 
        No piloto que leva não havia 
        Falsidade, mas antes vai mostrando 
        A navegação certa, e assim caminha 
        Já mais seguro do que dantes vinha. 
  

6 - 
        As ondas navegavam do Oriente 
        Já nos mares da Índia, e enxergavam 
        Os tálamos do Sol, que nasce ardente; 
        Já quase seus desejos se acabavam. 
        Mas o mau de Tioneu, que na alma sente 
        As venturas, que então se aparelhavam 
        A gente Lusitana, delas dina, 
        Arde, morre, blasfema e desatina. 
  


        Via estar todo o Céu determinado 
        De fazer de Lisboa nova Roma; 
        Não no pode estorvar, que destinado 
        Está doutro poder que tudo doma. 
        Do Olimpo desce enfim desesperado; 
        Novo remédio em terra busca e toma: 
        Entra no úmido reino, e vai-se à corte 
        Daquele a quem o mar caiu em sorte. 
  

8 - 
        No mais interno fundo das profundas 
        Cavernas altas, onde o mar se esconde, 
        Lá donde as ondas saem furibundas, 
        Quando às iras do vento o mar responde, 
        Netuno mora, e moram as jocundas 
        Nereidas, e outros Deuses do mar, onde 
        As águas campo deixam às cidades, 
        Que habitam estas úmidas deidades. 
  


        Descobre o fundo nunca descoberto 
        Das areias ali de prata fina; 
        Torres altas se vêem no campo aberto 
        Da transparente massa cristalina: 
        Quanto se chegam mais os olhos perto, 
        Tanto menos a vista determina 
        Se é cristal o que vê, se diamante, 
        Que assim se mostra claro e radiante. 
  

10 
        As portas douro fino, e marchetadas 
        Do rico aljôfar que nas conchas nasce, 
        De escultura formosa estão lavradas, 
        Na qual o irado Baco a vista pasce; 
        E vê primeiro em cores variadas 
        Do velho Caos a tão confusa face; 
        Vêem-se os quatro elementos trasladados 
        Em diversos ofícios ocupados. 
  

11 
        Ali sublime o Fogo estava em cima, 
        Que em nenhuma matéria se sustinha; 
        Daqui as coisas vivas sempre anima, 
        Depois que Prometeu furtado o tinha. 
        Logo após ele leve se sublima 
        O invisível Ar, que mais asinha 
        Tomou lugar, e nem por quente ou f rio, 
        Algum deixa no mundo estar vazio. 
  

12 
        Estava a terra em montes revestida 
        De verdes ervas, e árvores floridas, 
        Dando pasto diverso e dando vida 
        As alimárias nela produzidas. 
        A clara forma ali estava esculpida 
        Das águas entre a terra desparzidas, 
        De pescados criando vários modos, 
        Com seu humor mantendo os corpos todos. 
  

13 
        Noutra parte esculpida estava a guerra, 
        Que tiveram os Deuses com os Gigantes; 
        Está Tifeu debaixo da alta serra 
        De Etna, que as flamas lança crepitantes; 
        Esculpido se vê ferindo a terra 
        Netuno, quando as gentes ignorantes  
        Dele o cavalo houveram, e a primeira  
        De Minerva pacífica oliveira. 
  

14 
        Pouca tardança faz Lieu irado 
        Na vista destas coisas, mas entrando 
        Nos paços de Netuno, que avisado 
        Da vinda sua, o estava já aguardando, 
        As portas o recebe, acompanhado 
        Das Ninfas, que se estão maravilhando 
        De ver que, cometendo tal caminho, 
        Entre no reino d’água o Rei do vinho. 
  

15 - 
        "Ó Netuno, lhe disse, não te espantes 
        De Baco nos teus reinos receberes, 
        Porque também com os grandes e possantes 
        Mostra a Fortuna injusta seus poderes. 
        Manda chamar os Deuses do mar, antes 
        Que fale mais, se ouvir-me o mais quiseres; 
        Verão da desventura grandes modos: 
        Ouçam todos o mal, que toca a todos." 

  
16 - 

        Julgando já Netuno que seria 
        Estranho caso aquele, logo manda 
        Tritão, que chame os Deuses da água fria, 
        Que o mar habitam duma e doutra banda. 
        Tritão, que de ser filho se gloria 
        Do Rei e de Salácia veneranda, 
        Era mancebo grande, negro e feio,  
        Trombeta de seu pai, e seu correio. 
  

17 
        Os cabelos da barba, e os que descem  
        Da cabeça nos ombros, todos eram  
        Uns limos prenhes d’água, e bem parecem  
        Que nunca brando pentem conheceram;  
        Nas pontas pendurados não falecem  
        Os negros misilhões, que ali se geram,  
        Na cabeça por gorra tinha posta  
        Uma muito grande casca de lagosta. 
  

18 
        O corpo nu, e os membros genitais, 
        Por não ter ao nadar impedimento, 
        Mas porém de pequenos animais 
        Do mar todos cobertos cento e cento: 
        Camarões e cangrejos, e outros mais 
        Que recebem de Febe crescimento, 
        Ostras, e camarões do musgo sujos, 
        As costas com a casca os caramujos. 
  

19 -
        Na mão a grande concha retorcida 
        Que trazia, com força, já tocava; 
        A voz grande canora foi ouvida 
        Por todo o mar, que longe retumbava. 
        Já toda a companhia apercebida 
        Dos Deuses para os paços caminhava 
        Do Deus, que fez os muros de Dardânia, 
        Destruídos depois da Grega insânia. 
  

20 - 
        Vinha o padre Oceano acompanhado 
        Dos filhos e das filhas que gerara; 
        Vem Nereu, que com Dóris foi casado, 
        Que todo o mar de Ninfas povoara; 
        O profeta Proteu, deixando o gado 
        Marítimo pascer pela água amara, 
        Ali veio também, mas já sabia 
        O que o padre Lieu no mar queria. 
  
  

21 - 
        Vinha por outra parte a linda esposa 
        De Netuno, de Celo e Vesta filha, 
        Grave e Ieda no gesto, e tão formosa 
        Que se amansava o mar de maravilha. 
        Vestida uma camisa preciosa 
        Trazia de delgada beatilha, 
        Que o corpo cristalino deixa ver-se, 
        Que tanto bem não é para esconder-se. 
  

22 - 
        Anfitrite, formosa como as flores, 
        Neste caso não quis que falecesse; 
        O Delfim traz consigo, que aos amores 
        Do Rei lhe aconselhou que obedecesse. 
        Com os olhos, que de tudo são senhores, 
        Qualquer parecerá que o Sol vencesse: 
        Ambas vêm pela mão, igual partido, 
        Pois ambas são esposas dum marido. 
  

23 - 
        Aquela que das fúrias de Atamante 
        Fugindo, veio a ter divino estado, 
        Consigo traz o filho, belo Infante, 
        No número dos Deuses relatado. 
        Pela praia brincando vem diante 
        Com as lindas conchinhas, que o salgado 
        Mar sempre cria, e às vezes pela areia 
        No colo o to a a bela Panopeia. 
  

24 -  
        E o Deus que foi num tempo corpo humano, 
        E por virtude da erva poderosa 
        Foi convertido em peixe, e deste dano 
        Lhe resultou deidade gloriosa, 
        Inda vinha chorando o feio engano 
        Que Circe tinha usado com a formosa 
        Cila, que ele ama, desta sendo amado, 
        Que a mais obriga amor mal empregado. 
  

25 
        Já finalmente todos assentados 
        Na grande sala, nobre e divinal; 
        As Deusas em riquíssimos estrados, 
        Os Deuses em cadeiras de cristal, 
        Foram todos do Padre agasalhados, 
        Que com o Tebano tinha assento igual. 
        De fumos enche a casa a rica massa 
        Que no mar nasce, e Arábia em cheiro passa. 
  

26 - 
        Estando sossegado já o tumulto 
        Dos Deuses, e de seus recebimentos, 
        Começa a descobrir do peito oculto 
        A causa o Tioneu de seus tormentos: 
        Um pouco carregando-se no vulto, 
        Dando mostra de grandes sentimentos, 
        Só por dar aos de Luso triste morte 
        Com o ferro alheio, fala desta sorte: 
  

27 
        "Príncipe, que de juro senhoreias 
        Dum Pólo ao outro Pólo o mar irado, 
        Tu, que as gentes da terra toda enfreias, 
        Que não passem o termo limitado; 
        E tu, padre Oceano, que rodeias 
        O inundo universal, e o tens cercado, 
        E com justo decreto assim permites 
        Que dentro vivam só de seus limites; 
  

28 
        "E vós, Deuses do mar, que não sofreis  
        Injúria alguma em vosso reino grande,  
        Que com castigo igual vos não vingueis 
        De quem quer que por ele corra e ande: 
        Que descuido foi este em que viveis? 
        Quem pode ser que tanto vos abrande 
        Os peitos, com razão endurecidos 
        Contra os humanos fracos e atrevidos? 
  

29 
        "Vistes que com grandíssima ousadia 
        Foram já cometer o Céu supremo; 
        Vistes aquela insana fantasia 
        De tentarem o mar com vela e reino; 
        Vistes, e ainda vemos cada dia, 
        Soberbas e insolências tais, que temo 
        Que do mar e do Céu em poucos anos 
        Venham Deuses a ser, e nós humanos. 
  

30 
        "Vedes agora a fraca geração     
        Que dum vassalo meu o nome toma,         
        Com soberbo e altivo coração, 
        A vós, e a mi, e o mundo todo doma; 
        Vedes, o vosso mar cortando vão, 
        Mais do que fez a gente alta de Roma; 
        Vedes, o vosso reino devassando, 
        Os vossos estatutos vão quebrando. 
  

31 
        "Eu vi que contra os Mínias, que primeiro 
        No vosso reino este caminho abriram, 
        Bóreas injuriado, e o companheiro 
        Aquilo, e os outros todos resistiram. 
        Pois se do ajuntamento aventureiro 
        Os ventos esta injúria assim sentiram, 
        Vós, a quem mais compete esta vingança, 
        Que esperais?  Porque a pondes em tardança? 
  

32 
        "E não consinto, Deuses, que cuideis 
        Que por amor de vós do céu desci, 
        Nem da mágoa da injúria que sofreis, 
        Mas da que se me faz também a mi; 
        Que aquelas grandes honras, que sabeis 
        Que no mundo ganhei, quando venci 
        As terras Indianas do Oriente, 
        Todas vejo abatidas desta gente. 
  

33 
        "Que o grã Senhor e Fados que destinam, 
        Como lhe bem parece, o baixo mundo, 
        Famas mores que nunca determinam 
        De dar a estes barões no mar profundo. 
        Aqui vereis, ó Deuses, como ensinam 
        O mal também a Deuses: que, a segundo 
        Se vê, ninguém já tem menos valia, 
        Que quem com mais razão valer devia. 
 

 
 
34  
        "E por isso do Olimpo já fugi,  
        Buscando algum remédio a meus pesares,  
        Por ver o preço que no Céu perdi,  
        Se por dita acharei nos vossos mares."  
        Mais quis dizer, e não passou daqui,  
        Porque as lágrimas já correndo a pares  
        Lhe saltaram dos olhos, com que logo  
        Se acendem as Deidades d'água em fogo.  
   

35 
        A ira com que súbito alterado  
        O coração dos Deuses foi num ponto,  
        Não sofreu mais conselho bem cuidado,  
        Nem dilação, nem outro algum desconto.  
        Ao grande Eolo mandam já recado  
        Da parte de Netuno, que sem conto  
        Solte as fúrias dos ventos repugnantes,  
        Que não haja no mar mais navegantes.  
   

36 
        Bem quisera primeiro ali Proteu  
        Dizer neste negócio o que sentia,  
        E segundo o que a todos pareceu,  
        Era alguma profunda profecia.  
        Porém tanto o tumulto se moveu  
        Súbito na divina companhia,  
        Que Tethys indignada lhe bradou:  
        "Netuno sabe bem o que mandou".  
   

37 
        Já lá o soberbo Hipótades soltava  
        Do cárcere fechado os furiosos  
        Ventos, que com palavras animava  
        Contra os varões audazes e animosos.  
        Súbito o céu sereno se obumbrava,  
        Que os ventos, mais que nunca impetuosos,  
        Começam novas forças a ir tomando,  
        Torres, montes e casas derribando.  
   

38 
        Enquanto este conselho se fazia  
        No fundo aquoso, a leda lassa frota  
        Com vento sossegado prosseguia,  
        Pelo tranqüilo mar, a longa rota.  
        Era no tempo quando a luz do dia  
        Do Eôo Hemisfério está remota;  
        Os do quarto da prima se deitavam,  
        Para o segundo os outros despertavam.  
   

39 -  
        Vencidos vêm do sono, e mal despertos;  
        Bocejando a miúdo se encostavam  
        Pelas antenas, todos mal cobertos  
        Contra os agudos ares, que assopravam;  
        Os olhos contra seu querer abertos,  
        Alas estregando, os membros estiravam;  
        Remédios contra o sono buscar querem,  
        Histórias contam, casos mil referem.  
   

40  
        "Com que melhor podemos, um dizia,  
        Este tempo passar, que é tão pesado,  
        Senão com algum conto de alegria,  
        Com que nos deixe o sono carregado?"  
        Responde Leonardo, que trazia  
        Pensamentos de firme namorado:  
        "Que contos poderemos ter melhores,  
        Para passar o tempo, que de amores?"  
   

41  
        "Não é, disse Veloso, coisa justa  
        Tratar branduras em tanta aspereza;  
        Que o trabalho do mar, que tanto custa,  
        Não sofre amores, nem delicadeza;  
        Antes de guerra férvida e robusta  
        A nossa história seja, pois dureza  
        Nossa vida há de ser, segundo entendo,  
        Que o trabalho por vir me está dizendo."  

42 - 
        Consentem nisto todos, e encomendam             
        A Veloso que conte isto que aprova.             
        "Contarei, disse, sem que me repreendam  
        De contar cousa fabulosa ou nova;  
        E porque os que me ouvirem daqui aprendam  
        A fazer feitos grandes de alta prova,  
        Dos nascidos direi na nossa terra,  
        E estes sejam os doze de Inglaterra.  
   

43 -
        "No tempo que do Reino a rédea leve  
        João, filho de Pedro, moderava,  
        Depois que sossegado e livre o teve  
        Do vizinho poder, que o molestava,  
        Lá na grande Inglaterra, que da neve  
        Boreal sempre abunda, semeava  
        A fera Erínis dura e má cizânia,  
        Que lustre fosse a nossa Lusitânia.  

          
44 - 

        "Entre as damas gentis da corte Inglesa   
        E nobres cortesãos, acaso um dia          
        Se levantou discórdia em ira acesa,       
        Ou foi opinião, ou foi porfia.  
        Os cortesãos, a quem tão pouco pesa  
        Soltar palavras graves de ousadia,  
        Dizem que provarão, que honras e famas  
   

45 - 
        "E que se houver alguém, com lança e espada,  
        Que queira sustentar a parte sua,  
        Que eles, em campo raso ou estacada,  
        Lhe darão feia infâmia, ou morte crua.  
        A feminil fraqueza Pouco usada,  
        Ou nunca, a opróbrios tais, vendo-se nua  
        De forças naturais convenientes,  
        Socorro pede a amigos e parentes.  

          
46 -

        "Mas como fossem grandes e possantes  
        No reino os inimigos, não se atrevem  
        Nem parentes, nem férvidos amantes,  
        A sustentar as damas, como devem.  
        Com lágrimas formosas e bastantes  
        A fazer que em socorro os Deuses levem  
        De todo o Céu, por rostos de alabastro,  
        Se vão todas ao duque de Alencastro.  
   

47 - 
        "Era este Inglês potente, e militara   
        Com os Portugueses já contra Castela,  
        Onde as forças magnânimas provara  
        Dos companheiros, e benigna estrela:  
        Não menos nesta terra experimentara  
        Namorados afeitos, quando nela  
        A filha viu, que tinto o peito doma  
        Do forte Rei, que por mulher a toma.  
   

48 -
        "Este, que socorrer-lhe não queria,  
        Por não causar discórdias intestinas,  
        Lhe diz: - "Quando o direito pretendia  
        Do reino lá das terras Iberinas,  
        Nos Lusitanos vi tanta ousadia,  
        Tanto primor, e partes tão divinas,  
        Que eles sós poderiam, se não erro,  
        Sustentar vossa parte a fogo e ferro.  
   

49  
        "E se, agravadas damas, sois servidas,  
        Por vós lhe mandarei embaixadores,  
        Que, por cartas discretas e polidas,  
        De vosso agravo os façam sabedores.  
        Também por vossa parto encarecidas  
        Com palavras de afagos e de amores  
        Lhe sejam vossas lágrimas, que eu creio  
        Que ali tereis socorro e forte esteio." -  
   

50  
        "Destarte as aconselha o Duque experto,  
        E logo lhe nomeia doze fortes;  
        E por que cada dama um tenha certo,  
        Lhe manda que sobre eles lancem sortes,  
        Que elas só doze são; e descoberto  
        Qual a qual tem caído das consertes,  
        Cada uma escreve ao seu por vários modos,  
        E todas a seu Rei, e o Duque a todos.  
  
  
   

51 -
        "Já chega a Portugal o mensageiro;  
        Toda a corte alvoroça a novidade;  
        Quisera o Rei sublime ser primeiro,   
        Mas não lhe sofre a Régia Majestade.  
        Qualquer dos cortesãos aventureiro  
        Deseja ser, com férvida vontade,  
        F, só fica por bem-aventurado  
        Quem já vem pelo Duque nomeado.  
   

52 - 
        "Lá na leal Cidade, donde teve  
        Origem (como é fama) o nome eterno  
        De Portugal, armar madeiro leve  
        Manda o que tem o leme do governo.  
        Apercebem-se os doze, em tempo breve,  
        De armas, e roupas de uso mais moderno,  
        De elmos, cimeiras, letras, e primores,  
        Cavalos, e concertos de mil cores.  
   

53 - 
        "Já do seu Rei tomado têm licença  
        Para partir do Douro celebrado  
        Aqueles, que escolhidos por sentença  
        Foram do Duque Inglês experimentado.  
        Não há na companhia diferença  
        De cavaleiro destro ou esforçado;  
        Mas um só, que Magriço se dizia,  
        Destarte fala à forte companhia:  
   

54 - 
        - "Fortíssimos consócios, eu desejo  
        Há muito já de andar terras estranhas,  
        Por ver mais águas que as do Douro o Tejo,  
        Várias gentes, e leis, e várias manhas.  
        Agora, que aparelho certo vejo,  
        (Pois que do mundo as coisas são tamanhas)  
        Quero, se me deixais, ir só por terra,  
        Porque eu serei convosco em Inglaterra.  
   

55  
        - "E quando caso for que eu impedido  
        Por quem das cousas é última linha,  
        Não for convosco ao prazo instituído,  
        Pouca falta vos faz a falta minha:  
        Todos por mim fareis o que é devido;  
        Mas, se a verdade o espírito me adivinha,  
        Rios, montes, fortuna, ou sua inveja,  
        Não farão que eu convosco lá não seja."  
   

56  
        "Assim diz, e abraçados os amigos,  
        E tomada licença, enfim se parte:  
        Passa Lião, Castela, vendo antigos  
        Lugares, que ganhara o pátrio Marte;  
        Navarra, com os altíssimos perigos  
        Do Perineu, que Espanha e Gália parte;  
        Vistas enfim de França as coisas grandes,  
        No grande empório foi parar de Frandes.  
   

57  
        "Ali chegado, ou fosse caso ou manha,  
        Sem passar se deteve muitos dias:  
        Mas dos onze a ilustríssima companha  
        Cortam do mar do Norte as ondas frias.  
        Chegados de Inglaterra à costa estranha,  
        Para Londres já fazem todos vias.  
        Do Duque são com festa agasalhados,  
        E das damas servidos e amimados.  
   

58  
        "Chega-se o prazo e dia assinalado  
        De entrar em campo já com os doze Ingleses,  
        Que pelo Rei já tinham segurado:  
        Armam-se de elmos, grevas e de arneses:  
        Já as damas têm por si, fulgente e armado,  
        O Mavorte feroz dos Portugueses;  
        Vestem-se elas de cores e de sedas,  
        De ouro e de jóias mil, ricas e ledas.  
   

59  
        "Mas aquela, a quem fora em sorte dado  
        Magriço, que não vinha, com tristeza  
        Se veste, por não ter quem nomeado  
        Seja seu cavaleiro nesta empresa;  
        Bem que os onze apregoam, que acabado  
        Será o negócio assim na corte Inglesa,  
        Que as damas vencedoras se conheçam,  
        Posto que dois e três dos seus faleçam.  
   

60 - 
        "Já num sublime e público teatro  
        Se assenta o Rei Inglês com toda a corte:  
        Estavam três e três, e quatro e quatro,  
        Bem como a cada qual coubera em sorte.  
        Não são vistos do Sol, do Tejo ao Batro,  
        De força, esforço e de ânimo mais forte  
        Outros doze sair, como os Ingleses,  
        No campo, contra os onze Portugueses.  
   

61  
        "Mastigam os cavalos, escumando,  
        Os áureos freios com feroz semblante;  
        Estava o Sol nas armas rutilando  
        Como em cristal ou rígido diamante;  
        Mas enxerga-se num e noutro bando  
        Partido desigual e dissonante  
        Dos onze contra os doze: quando a gente  
        Começa a alvoroçar-se geralmente.  
   

62 - 
        "Viram todos o rosto aonde havia  
        A causa principal do reboliço:  
        Eis entra um cavaleiro, que trazia  
        Armas, cavalo, ao bélico serviço.  
        Ao Rei e às damas fala, e logo se ia  
        Para os onze, que este era o grã Magriço;  
        Abraça os companheiros como amigos,  
        A quem não falta certo nos perigos.  
   

63 -
        "A dama, como ouviu que este era aquele  
        Que vinha a defender seu nome e fama,  
        Se alegra, e veste ali do animal de Hele,  
        Que a gente bruta mais que virtude ama.  
        Já dão sinal, e o som da tuba impele  
        Os belicosos ânimos, que inflama:  
        Picam de esporas, largam rédeas logo,  
        Abaixam lanças, fere a terra fogo.  
   

64 - 
        "Dos cavalos o estrépito parece  
        Que faz que o chão debaixo todo treme;  
        O coração no peito, que estremece  
        De quem os olha, se alvoroça e teme:  
        Qual do cavalo voa, que não desce;  
        Qual, com o cavalo em terra dando, geme;  
        Qual vermelhas as armas faz de brancas;  
        Qual com os penachos do elmo açouta as ancas.  
   

65  
        "Algum dali tomou perpétuo sono  
        E fez da vida ao fim breve intervalo;  
        Correndo algum cavalo vai sem dono  
        E noutra parte o dono sem cavalo.  
        Cai a soberba Inglesa de seu trono,  
        Que dois ou três já fora vão do vale;  
        Os que de espada vêm fazer batalha,   
        Mais acham já que arnês, escudo e malha.  
   

66 -
        "Gastar palavras em contar extremos  
        De golpes feros, cruas estocadas,  
        É desses gastadores, que sabemos,  
        Maus do tempo, com fábulas sonhadas.  
        Basta, por fim do caso, que entendemos  
        Que com finezas altas e afamadas,  
        Com os nossos fica a palma da vitória,  
        E as damas vencedoras, e com glória.  
   
67 - 
        "Recolhe o Duque os doze vencedores  
        Nos seus paços, com festas e alegria;  
        Cozinheiros ocupa e caçadores  
        Das damas a formosa companhia,  
        Que querem dar aos seus libertadores  
        Banquetes mil cada hora e cada dia,  
        Enquanto se detêm em Inglaterra,  
        Até tornar à doce e cara terra.  
   

68 
        "Mas dizem que, contudo, o grã Magriço,  
        Desejoso de ver as coisas grandes,  
        Lá se deixou ficar, onde um serviço  
        Notável à condessa fez de Frandes;  
        E como quem não era já noviço  
        Em todo trance, onde tu, Marte, mandes,  
        Um Francês mata em campo, que o destino  
        Lá teve de Torcato e de Corvino.  
   

69 -
        "Outro também dos doze em Alemanha  
        Se lança, e teve um fero desafio  
        Com um Germano enganoso, que com manha  
        Não devida o quis pôr no extremo fio."  
        Contando assim Veloso, já a companha  
        Lhe pede que não f aça tal desvio  
        Do caso de Magriço, e vencimento,  
        Nem deixe o de Alemanha em esquecimento.  
   

70 
        Mas, neste passo, assim prontos estando  
        Eis o mestre, que olhando os ares anda,  
        O apito toca; acordam despertando  
        Os marinheiros duma e doutra banda;  
        E porque o vento vinha refrescando,  
        Os traquetes das gáveas tomar manda:  
        "Alerta, disse, estai, que o vento cresce  
        Daquela nuvem negra que aparece."  
   

71  
        Não eram os traquetes bem tomados,  
        Quando dá a grande e súbita procela:  
        "Amaina, disse o mestre a grandes brados,  
        Amaina, disse, amaina a grande vela!"  
        Não esperam os ventos indinados  
        Que amainassem; mas juntos dando nela,  
        Em pedaços a fazem, com um ruído  
        Que o mundo pareceu ser destruído.  
   

72 
        O céu fere com gritos nisto a gente,  
        Com súbito temor e desacordo,  
        Que, no romper da vela, a nau pendente  
        Toma grã suma d'água pelo bordo:  
        "Alija, disse o mestre rijamente,  
        Alija tudo ao mar; não falte acordo.  
        Vão outros dar à bomba, não cessando;  
        A bomba, que nos imos alagando!"  
   

73  
        Correm logo os soldados animosos  
        A dar à bomba; e, tanto que chegaram,  
        Os balanços que os mares temerosos  
        Deram à nau, num bordo os derribaram.  
        Três marinheiros, duros e forçosos,  
        A menear o leme não bastaram;  
        Talhas lhe punham duma e doutra parte,  
        Sem aproveitar dos homens força e arte.  
   

74 
        Os ventos eram tais, que não puderam  
        Mostrar mais força do ímpeto cruel,  
        Se para derribar então vieram  
        A fortíssima torre de Babel.  
        Nos altíssimos mares, que cresceram,  
        A pequena grandura dum batel  
        Mostra a possante nau, que move espanto,  
        Vendo que se sustém nas ondas tanto.  

75  
        A nau grande, em que vai Paulo da Gama,  
        Quebrado leva o masto pelo meio.  
        Quase toda alagada: a gente chama  
        Aquele que a salvar o mundo veio.  
        Não menos gritos vãos ao ar derrama  
        Toda a nau de Coelho, com receio,  
        Conquanto teve o mestre tanto tento,  
        Que primeiro amainou, que desse o vento.  
   

76 
        Agora sobre as nuvens os subiam  
        As ondas de Netuno furibundo;  
        Agora a ver parece que desciam  
        As íntimas entranhas do Profundo.  
        Noto, Austro, Bóreas, Aquilo queriam  
        Arruinar a máquina do mundo:  
        A noite negra e feia se alumia  
        Com os raios, em que o Pólo todo ardia.  
   

77  
        As Alcióneas aves triste canto  
        Junto da costa brava levantaram,  
        Lembrando-se do seu passado pranto,  
        Que as furiosas águas lhe causaram.  
        Os delfins namorados entretanto  
        Lá nas covas marítimas entraram,  
        Fugindo à tempestade e ventos duros,  
        Que nem no fundo os deixa estar segui-os.  
   

78 - 
        Nunca tão vivos raios fabricou  
        Contra a fera soberba dos Gigantes  
        O grã ferreiro sórdido, que obrou  
        Do enteado as armas radiantes;  
        Nem tanto o grã Tonante arremessou  
        Relâmpagos ao mundo fulminantes,  
        No grã dilúvio, donde sós viveram  
        Os dois que em gente as pedras converteram.  
   

79  
        Quantos montes, então, que derribaram  
        As ondas que batiam denodadas!  
        Quantas árvores velhas arrancaram  
        Do vento bravo as fúrias indinadas!  
        As forçosas raízes não cuidaram  
        Que nunca para o céu fossem viradas,  
        Nem as fundas areias que pudessem  
        Tanto os mares que em cima as revolvessem.  
   

80 
        Vendo Vasco da Gama que tão perto  
        Do fim de seu desejo se perdia;  
        Vendo ora o mar até o inferno aberto,  
        Ora com nova fúria ao céu subia,  
        Confuso de temor, da vida incerto,  
        Onde nenhum remédio lhe valia,  
        Chama aquele remédio santo é forte,  
        Que o impossível pode, desta sorte:  
   

81  
        "Divina Guarda, angélica, celeste,  
        Que os céus, o mar e terra senhoreias;  
        Tu, que a todo Israel refúgio deste  
        Por metade das águas Eritreias;  
        Tu, que livraste Paulo e o defendeste  
        Das Sirtes arenosas e ondas feias,  
        E guardaste com os filhos o segundo  
        Povoador do alagado e vácuo mundo;  
   

82  
        "Se tenho novos modos perigosos  
        Doutra Cila e Caríbdis já passados,  
        Outras Sirtes e baixos arenosos,  
        Outros Acroceráunios infamados,  
        No fim de tantos casos trabalhosos,  
        Por que somos de ti desamparados,  
        Se este nosso trabalho não te ofende,  
        Mas antes teu serviço só pretende?  
   

83  
        "Ó ditosos aqueles que puderam  
        Entre as agudas lanças Africanas  
        Morrer, enquanto fortes sostiveram  
        A santa Fé nas terras Mauritanas!  
        De quem feitos ilustres se souberam,  
        De quem ficam memórias soberanas,  
        De quem se ganha a vida com perdê-la,  
        Doce fazendo a morte as honras dela!"  
   

84  
        Assim dizendo, os ventos que lutavam  
        Como touros indômitos bramando,  
        Mais e mais a tormenta acrescentavam  
        Pela miúda enxárcia assoviando.  
        Relâmpados medonhos não cessavam,  
        Feros trovões, que vêm representando  
        Cair o céu dos eixos sobre a terra,  
        Consigo os elementos terem guerra.  
   

85 -  
        Mas já a amorosa estrela cintilava   
        Diante do Sol claro, no Horizonte,   
        Mensageira do dia, e visitava  
        A terra e o largo mar, com leda fronte.  
        A densa que nos céus a governava,  
        De quem foge o ensífero Orionte,  
        Tanto que o mar e a cara armada vira,  
        Tocada junto foi de medo e de ira.  
   

86  
        "Estas obras de Baco são, por certo,  
        Disse; mas não será que avante leve  
        Tão danada tenção, que descoberto  
        Me será sempre o mil a que se atreve."  
        Isto dizendo, desce ao mar aberto,  
        No caminho gastando espaço breve,  
        Enquanto manda as Ninfas amorosas  
        Grinaldas nas cabeças pôr de rosas.  
  
   

87 - 
        Grinaldas manda pôr de várias cores  
        Sobre cabelo; louros à porfia.  
        Quem não dirá que nascem roxas flores  
        Sobre ouro natural, que Amor enfia?  
        Abrandar determina, por amores,  
        Dos ventos a nojosa companhia,  
        Mostrando-lhe as amadas Ninfas belas,  
        Que mais formosas vinham que as estrelas.  
   

88  
        Assim foi; porque, tanto que chegaram  
        A vista delas, logo lhe falecem  
        As forças com que dantes pelejaram,  
        E já como rendidos lhe obedecem.  
        Os pés e mãos parece que lhe ataram  
        Os cabelos que os raios escurecem.  
        A Bóreas, que do peito mais queria,  
        Assim disse a belíssima Oritia:  
   

89  
        "Não creias, fero Bóreas, que te creio  
        Que me tiveste nunca amor constante,  
        Que brandura é de amor mais certo arreio,  
        E não convém furor a firme amante.  
        Se já não pões a tanta insânia freio,  
        Não esperes de mi, daqui em diante,  
        Que possa mais amar-te, mas temer-te;  
        Que amor contigo em medo se converte."  
   

90  
        Assim mesmo a formosa Galateia   
        Dizia ao fero Noto, que bem sabe   
        Que dias há que em vê-la se recreia,   
        E bem crê que com ele tudo acabe.   
        Não sabe o bravo tanto bem se o creia,   
        Que o coração no peito lhe não cabe,  
        De contente de ver que a dama o manda,  
        Pouco cuida que faz, se logo abranda.  
   

91  
        Desta maneira as outras amansavam  
        Subitamente os outros amadores;  
        E logo à linda Vênus se entregavam,  
        Amansadas as iras e os furores.  
        Ela lhe prometeu, vendo que amavam,  
        Sempiterno favor em seus amores,  
        Nas belas mãos tomando-lhe homenagem  
        De lhe serem leais esta viagem.  
   

92 -
        Já a manhã clara dava nos outeiros  
        Por onde o Ganges murmurando soa,  
        Quando da celsa gávea os marinheiros  
        Enxergaram terra alta pela proa.  
        Já fora de tormenta, e dos primeiros  
        Mares, o temor vão do peito voa.  
        Disse alegre o piloto Melindano:  
        "Terra é de Calecu, se não me engano.  
   

93 - 
        "Esta é por certo a terra que buscais  
        Da verdadeira Índia, que aparece;  
        E se do mundo mais não desejais,  
        Vosso trabalho longo aqui fenece."  
        Sofrer aqui não pode o Gama mais,  
        De ledo em ver que a terra se conhece:  
        Os geolhos no chão, as mãos ao céu,  
        A mercê grande a Deus agradeceu.  
   

94  
        As graças a Deus dava, e razão tinha,  
        Que não somente a terra lhe mostrava,  
        Que com tanto temor buscando vinha,  
        Por quem tanto trabalho experimentava;  
        Mas via-se livrado tão asinha  
        Da morte, que no mar lhe aparelhava  
        O vento duro, fervido e medonho,  
        Como quem despertou de horrendo sonho.  
   

        Por meio destes hórridos perigos,  
95   Destes trabalhos graves e temores,  
        Alcançam os que são de fama amigos  
        As honras imortais e graus maiores:  
        Não encostados sempre nos antigos  
        Troncos nobres de seus antecessores;  
        Não nos leitos dourados, entre os finos  
        Animais de Moscóvia zebelinos;  
   

96  
        Não com os manjares novos e esquisitos,  
        Não com os passeios moles e ociosos,  
        Não com os vários deleites e infinitos,  
        Que afeminam os peitos generosos,  
        Não com os nunca vencidos apetitos  
        Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,  
        Que não sofre a nenhum que o passo mude  
        Para alguma obra heróica de virtude;  
   

97  
        Mas com buscar com o seu forçoso braço  
        As honras, que ele chame próprias suas;  
        Vigiando, e vestindo o forjado aço,  
        Sofrendo tempestades e ondas cruas;  
        Vencendo os torpes frios no regaço  
        Do Sul e regiões de abrigo nuas;  
        Engolindo o corrupto mantimento,  
        Temperado com um árduo sofrimento;  
  
   

98  
        E com forçar o rosto, que se enfia,  
        A parecer seguro, ledo, inteiro,  
        Para o pelouro ardente, que assovia  
        E leva a perna ou braço ao companheiro.  
        Destarte, o peito um calo honroso cria,  
        Desprezador das honras e dinheiro,  
        Das honras e dinheiro, que a ventura  
        Forjou, e não virtude justa e dura.  
   

99  
        Destarte se esclarece o entendimento,  
        Que experiências fazem repousado,  
        E fica vendo, corno de alto assento,  
        O baixo trato humano embaraçado.  
        Este, onde tiver força o regimento  
        Direito, e não de afeitos ocupado,  
        Subirá (como deve) a ilustre mando,  
        Contra vontade sua, e não rogando.  

 
  

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